Bombeiros do Piauí retornam após salvamentos no RS: "Parecia filme"

Por Roberto Araujo

O efetivo de dez bombeiros piauienses que foram até o Rio Grande do Sul para auxiliar nas operações de resgate das regiões afetadas com a catástrofe climática que atingiu o estado nos últimos meses retornou ao Piauí após 20 dias de operações.

Os dez homens foram em três viaturas levando duas embarcações e material de salvamento. O trabalho foi mais concentrado na cidade de São Leopoldo, que fica na grande Porto Alegre, e uma das mais afetadas pela cheia do Rio dos Sinos: cerca de 70% dos moradores da cidade foram afetadas.

De acordo com o capitão da operação, Arlindo Júnior, foram feitos quase cem salvamentos, incluindo pessoas e animais. Segundo o relato dele à TV Cidade Verde, embora tivesse experiência em resgates, nunca tinha visto algo daquela proporção. 

"É uma situação que parecia filme. Eu nunca tinha presenciado isso, e eu já tinha trabalhado em algumas outras ocorrências de resgate, de afogamento e inundação, mas pela proporção do estado do Rio Grande do Sul, foi algo imensurável", descreveu.

As equipes foram por via terrestre - o que fez levar cinco dias para ir e mais cinco para voltar. De acordo com o comandante, após cruzar sete estados brasileiros, quando chegaram a Santa Catarina, começaram a sentir a proporção da tragédia.

"Quando chegamos no estado de Santa Catarina nós percebemos que a situação era bem crítica. Inclusive em Santa Catarina, antes do nosso retorno, algumas BRs foram cortadas porque começou a atingir também SC. No dia que adentramos o estado de SC, começou uma chuva que passou três dias inteiros sem parar. A gente passou por SC e adentrou o RS e foram três dias constantes de chuva", descreveu.

Foto: Ascom Bombeiros

Ao chegar no Rio Grande do Sul, o principal objetivo era auxiliar nas operações de mergulho, mas essas não puderam ser feitas por conta dos riscos de contaminação presentes na água. Segundo ele, as cheias atingiram indústrias na região e também foi levado em conta o material biológico oriundo da decomposição de animais mortos submersos. 

"A gente também levava em conta o nível de contaminação da água, lá tem indústrias, material biológico em decomposição, então a equipe de mergulhos avaliou e achou prudente não realizar mergulhos naquele momento", disse.

Com a impossibilidade de mergulho, as equipes procuravam pessoas desaparecidas dentro das casas destelhando as residências e verificando se tinham corpos boiando. "A gente esperava, ia até a casa daquela pessoa que tinha desaparecido, destelhava e via se o corpo já tinha emergido. Em alguns casos não tinha, essa pessoa tinha sumido ou desapareceu", relatou.

 

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Foram feitos resgates de 15 pessoas e de 78 animais. Ele conta que, apesar das cheias, muitos moradores, sobretudo os que tinham casas de dois andares, se recusavam a sair das casas porque alguns furtos aconteciam durante a noite. A corporação estava auxiliando com a entrega de donativos para essas famílias.

"Havia alguns moradores que se recusavam a sair das casas porque tinha ações de vândalos que atuavam no período noturno e as equipes acompanhavam a Força Nacional porque tem pessoas que se usam do momento de dor, difícil, para roubar. (...) Algumas casas de dois pavimentos, elas restavam moradores e eles ficavam em cima. Ai todo dia prestávamos assistência humanitária, levávamos alimentos, material de higiene, água, porque foi cortado tudo, não tinha energia, água encanada, potável, todos eles foram afetados", descreveu.

Segundo o comandante, alguns moradores que foram resgatados passaram a seguir o corpo de bombeiros do Piauí e já deram alguns retornos sobre a volta pra casa. "Nós divulgamos as nossas redes sociais, e eles hoje já comunicaram: voltei pra minha casa, tinha muita lama, mas já estamos limpando a casa'", disse.

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