Igreja São Benedito completa 150 anos como referência histórica, cultural e de fé

Fotos: Renato Andrade/Cidadeverde.com

Por Flávio Nogueira (*)

Era um sábado, 13 de junho de 1874, quando começou a se materializar um dos templos mais importantes da história de Teresina. Naquele dia, há exatos 150 anos, foi lançada a pedra fundamental da Igreja de São Benedito, na elevação então conhecida como “Alto da Jurubeba”, um lugar de devoção, onde se enterravam os desvalidos, os excluídos do cemitério da nossa capital. A construção religiosa resultou de um movimento encabeçado pelo missionário capuchinho Frei Serafim de Catânia (1812 – 1887), um homem de fé, determinação e de sensibilidade social. 

A relação de Frei Serafim com Teresina confunde-se com a própria história da construção da igreja de São Benedito. Ele passou 12 anos na cidade, período que se estendeu do início à conclusão do templo. Mas o religioso veio para Teresina com outra missão: reconstruir a Igreja Nossa Senhora das Dores, na atual Praça Saraiva. Só que, ao chegar à capital, tomou conhecimento de que o então presidente da província do Piauí, Adolfo Lamenha Lins – equivalente hoje a governador do Estado -, já tinha contratado a obra de reconstrução do templo. 

Com a mudança de cenário e, ao mesmo tempo em que mantinha sua missão evangelizadora, Frei Serafim decidiu erguer uma nova igreja em Teresina, consagrada a São Benedito. Na época, a jovem capital piauiense, com apenas 22 anos de fundação, contava com pouco mais de 20 mil habitantes. A cidade passava por momentos difíceis. Os teresinenses conviviam com as adversidades da seca e a ameaça da varíola, que, na época, representava quase uma sentença de morte. Em 1875, por exemplo, a doença provocou cerca de 500 óbitos na nossa capital. 

Apesar da crise sanitária, Teresina atraía um movimento migratório. Muitos retirantes da seca chegavam à capital - vindos, principalmente, do Ceará -, em busca de oportunidades para mitigar a sede e a fome. Eram pessoas sofridas, sem trabalho, sem perspectivas de futuro e que recorriam à fé para aplacar o sofrimento e alimentar a esperança. Frei Serafim acolheu esses desafortunados e soube transformar a realidade difícil em uma conjuntura frutífera, ao utilizar retirantes, sobretudo negros libertos, na construção da Igreja de São Benedito. 

Inspiração nas basílicas medievais 

O projeto do templo foi desenhado pelo próprio Frei Serafim, que tinha formação em arquitetura (Milão), com experiência na construção de igrejas, casas de caridade, cemitérios e poços de água no sertão nordestino. Mas a inspiração para o seu projeto, em Teresina, veio das basílicas medievais da Itália, país natal do religioso. Assim, no “Alto da Jurubeba”, seria erguida uma igreja em forma de cruz latina, com torres piramidais, que alcançam mais de 40 metros de altura, com a fachada voltada para o Oeste, na direção do Rio Parnaíba. 

A igreja imponente recebeu grandes portas em madeira de lei, com belos entalhes realizados pelo cinzel do artista piauiense Sebastião Mendes. Essas portas seriam tombadas, em 1938, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Internamente, a igreja de São Benedito não ostenta o requinte e a opulência das construções religiosas erguidas, durante o Império, nas províncias mais ricas do Brasil, mas o templo piauiense carrega muita beleza e significado. 

A sagração oficial da São Benedito ocorreu em 3 de junho de 1886, após 12 anos de construção. Foi um grande presente para Teresina. E o maior legado de Frei Serafim para a nossa capital. O religioso deixou a cidade duas semanas após a inauguração do templo, retornando ao seu convento na Itália, onde morreria um ano depois, em meados de 1887. Mas seu trabalho foi reconhecido e, mais tarde, o missionário capuchinho seria homenageado, com seu nome batizando a principal via de Teresina, a Avenida Frei Serafim, que liga a igreja São Benedito ao rio Poti. 

Badalar diário dos sinos 

Ao longo dos anos, a igreja de São Benedito impôs-se na paisagem da capital piauiense. E, ainda hoje, é muito presente na rotina da cidade, como palco de grandes celebrações religiosas, revelando a fé e, em especial, a devoção do teresinense ao santo padroeiro dos negros. O templo, situado na Praça da Liberdade - antigo “Alto da Jurubeba” -, é um local sagrado, onde as pessoas buscam paz, equilíbrio espiritual e uma conexão com Deus. 

A igreja é testemunha das transformações urbanas e culturais registradas, em Teresina, nos últimos 150 anos. Atualmente, restam poucas construções contemporâneas do templo, como as igrejas do Amparo (1852) e das Dores (1865), além de alguns prédios públicos, como o Mercado Central (1854) e a sede do governo provincial, atual Museu do Piauí (1859). Teresina cresceu e mudou muito. Mas os sinos da São Benedito continuam dobrando, diariamente, ao meio-dia, ecoando o som de um badalar familiar e afetivo para quem mora ou circula no Centro da cidade. 

*Flávio Nogueira é médico, deputado federal e escritor, autor de “Prosa Eletrônica – Apontamentos do cotidiano” (2021) e “A Rua Coelho de Resende” (2024).