Plebiscito expõe diferenças culturais entre regiões do Pará

Na reta final da campanha para o plebiscito sobre a divisão do Pará, a frente contrária à separação do Estado intensificou as acusações de que os separatistas são forasteiros que querem ficar com as riquezas locais.O acirramento da disputa expõe uma espécie de "questão étnica" no Pará, devido às diferenças das populações de cada região. O ponto alto da discussão ocorreu ontem, durante debate entre representantes das frentes realizado pela rádio Liberal/CBN. O plebiscito sobre a divisão do Pará em mais dois Estados --Carajás e Tapajós-- ocorrerá domingo.Líder antidivisão, o deputado federal Zenaldo Coutinho (PSDB), de Belém, referiu-se diversas vezes à representante da frente do Carajás, deputada estadual Bernadete Ten Caten (PT), como "a deputada gaúcha"."Vocês trazem um marqueteiro da Bahia [Duda Mendonça], seu projeto vem do Tocantins [cuja criação serviu de inspiração para os separatistas] e a maioria de vocês vem de fora", disse. A deputada se irritou. "Isso se chama xenofobia e discriminação", respondeu.Anteontem, o governador Simão Jatene (PSDB), da grande Belém, criticou os "vendedores de ilusões sem identidade com o Pará".Na capital, a Folha presenciou gestos de hostilidade contra separatistas. Durante carreata, foram recebidos aos gritos de "voltem para Goiás" e "voltem para Marabá".No Carajás, só cerca de 20% dos habitantes são do Pará, segundo os divisionistas. A maioria vem de Maranhão, Minas, Rio Grande do Sul, Tocantins e São Paulo.Historicamente, a população paraense pouco explorou o interior do Estado, abrindo espaço para os migrantes.O resultado foi uma população de origem, sotaque e costumes diferentes, com mais ligação com o agronegócio do que com as tradições culturais da capital.Um dos líderes pró-Carajás, deputado Giovanni Queiroz (PDT), é mineiro e possui fazendas avaliadas em R$ 8 milhões no Pará.No Tapajós, a distância fez com que os habitantes se identificassem mais com Manaus do que de Belém."Por mês, saem de Santarém 56 barcos para Manaus e oito para Belém", diz o professor universitário Edivaldo Bernardo, líder pró-Tapajós. Fonte: Folha Online