Figurino deve ser ?espelho? do candidato, dizem especialistas

O que a moda tem a ver com política? Nada? Errado. Muita coisa, segundo consultores de moda e estilistas. Na campanha política, o figurino usado por um candidato a cargo público pode dizer muito sobre ele, atrair simpatia e aproximá-lo do público.

Há figurinos ideais para cada evento de uma campanha política: cores certas a serem usadas na campanha na TV; roupas confortáveis, esportivas e, ao mesmo tempo, elegantes a serem usadas na campanha de rua; figurinos para eventos específicos como debates ou palestras. Nas equipes de campanhas, há profissionais especializados designados para cuidar desse setor.

Exemplos práticos da importância da moda na política podem ser vistos no mundo inteiro. Em fevereiro deste ano, por exemplo, em viagem à Inglaterra, o presidente francês Nicolas Sarkozy teve os holofotes da imprensa internacional voltados para si graças à mulher, a modelo-cantora Carla Bruni (foto). Ela se inspirou no estilo clássico de Jacqueline Kennedy Onasis ? outra mulher de político, conhecida pela elegância ? e acabou conquistando a simpatia da realeza inglesa e chamando atenção para o marido.

Historicamente, há o caso clássico, estudado em escolas de moda, do debate na televisão entre Richard Nixon e John F. Kennedy, em 1960, pela disputa da presidência dos Estado Unidos. Quem ouviu o debate pelo rádio pensou que Nixon era o vencedor. Quem assistiu pela TV, deu a vitória a Kennedy.

?A imagem que passavam, pelo seu figurino, com a televisão em preto e branco e a baixa resolução, era de que Kennedy era um jovem empreendedor e Nixon, um mausoléu?, diz o estilista Lorenzo Merlino, que cita o caso para ilustrar a importância do figurino na moda.

Segundo ele, no Brasil, a situação não é muito diferente. Para Merlino, é estranho ouvir um político dizer que não liga para o visual. ?Uma figura pública tem que pensar nisso. Um figurino é essencial, pode dizer tudo sobre a pessoa?, diz.

?O povo gosta de ver gente bem vestida. Gosta de se identificar com um político que ascendeu socialmente, que era pobre e chegou lá, e que agora está bem, bonito, elegante?, afirma Merlino, que cita ainda um certo ?limite? necessário.

?O político nunca pode estar extremamente bem vestido para não ficar longe demais da população. Os primeiros-ministros britânicos, por exemplo, nunca estão tão bem vestidos quanto o príncipe Charles.?

De acordo com a consultora Regina Guerreiro, a elegância é fundamental porque ?o povo quer ver uma pessoa que quer ser?. Ao mesmo tempo, segundo ela, o figurino precisa passar idéia de poder. ?Peças de malha, por exemplo, são muito informais. Não passam essa sensação?, afirma.

Para os candidatos

Se o figurino é importante para ocupantes de cargos públicos, para os políticos em campanha pode ser decisivo. O primeiro impacto do figurino na atuação de um candidato é o visual, explica o estilista Mário Queiroz.

?O candidato não precisa ser uma pessoa bonita, mas deve transmitir contemporaneidade ou, ao menos, transmitir o estilo do seu pensamento através da forma como se veste?, explica.

Seguindo essa linha de raciocínio, uma roupa moderna, pode mostrar que o candidato é progressista. Se abusar nas inovações do vestuário, no entanto, o tiro pode sair pela culatra e pode passar a impressão de que a vaidade é maior que as intenções políticas.

?Na rua, o candidato tem que mostrar que é elegante, mas que está próximo do povo. Figurino de homem é sempre muito clássico. Ele não pode aparecer como se fosse um emo?, diz Regina Guerreiro.

É importante também desenvolver um guarda-roupa a partir do estilo que já é do candidato, usando ?versões melhores?.

?É imprescindível estar atento aos detalhes, levando em consideração acima de tudo as características pessoais, senão corre-se o risco da perda da identidade. Os looks clássicos neutralizam possíveis referências taxativas e são ideais para ocasiões de grande exposição, como é o caso dos candidatos nas eleições?, diz Gláucia Stanganelli, estilista da Philosofée.

Certo e errado

Entre os ?proibidões? da campanha, para estilistas e consultores, estão o jaquetão e estampados para os homens.

?A camisa de manga longa com gravata sem paletó pode ser uma opção para o candidato mostrar que é um homem sofisticado, mas que trabalha?, diz Merlino. Mas ele alerta: a camisa de manga curta com a gravata jamais deve ser usada.

A dica é sempre escolher algo que favoreça o tipo físico e cores que destaquem o tom de pele. O candidato que usa camisas, paletós, blasers e casacos bem cortados, no tamanho exato, com o corte do ombro no lugar, em bom tecido e acabamento, sai na frente.

Para as mulheres, a estilista Xênia Mozaquatro, da Alcaçuz, recomenda cautela com os conjuntos. ?O terninho vermelho é terrível?, diz. Ela recomenda que os paletós sejam diferentes das saias e cita os vestidos tipo ?chemisier?, que lembram camisas.

?Os vestidos são recomendados. A mulher, para mostrar que é competente hoje, não precisa mais se masculinizar. Todo mundo sabe do que a mulher é capaz.?, diz

Azul claro

Um dos principais ?hits? dos candidatos, a camisa azul claro também foi comentada pelos especialistas. Para Regina Guerreiro, ela pode ser usada ?com tudo?. ?Azul Oxford é muito chique?, diz.

Para Mário Queiroz, o azul é escolhido por homens que não querem errar. ?A camisa azul representa um passo além da camisa branca, mas parece que os homens sem interesse nas informações de moda não conseguem sair daí e acabam realmente ficando muito repetitivos?, diz.

Lorenzo Merlino recomenda que ela não seja usada por quem está muito bronzeado. ?Se o político usa a camisa azul depois de um fim de semana, o bronzeado se destaca. Todo mundo vai saber que ele estava na praia?, diz.

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