Rival do Brasil mistura geopolítica com futebol na arquibancada e no campo

Foto Mikhail Shapaev / Federação Russa de Futebol

 

CAMILA MATTOSO, SÉRGIO RANGEL, DIEGO GARCIA E FÁBIO ALEIXO MOSCOU, RÚSSIA (FOLHAPRESS)

Futebol e política sempre se misturam. É assim na Sérvia, rival do Brasil nesta quarta-feira (27), às 15h (de Brasília), pela última rodada do Grupo E da Copa do Mundo.

Neste Mundial, os dois jogos disputados pela seleção europeia tiveram atos e punições que extrapolaram as quatro linhas do campo.

Logo após a estreia dos sérvios no Mundial da Rússia, a Fifa puniu a federação local por causa do comportamento dos seus torcedores. Durante a vitória contra a Costa Rica, por 1 a 0, os torcedores exibiram uma bandeira ofensiva com teor político, cujo conteúdo não foi revelado pela federação internacional, na arquibancada. A multa imposta foi de R$ 40 mil.

A punição foi a primeira imposta na Copa pelo grupo de observadores do combate à discriminação da Fifa. Desde 2015, o órgão tenta implementar uma série de medidas contra a discriminação e promover a diversidade no futebol.

Na partida seguinte, os sérvios foram provocados na derrota para a Suíça, por 2 a 1. Autores dos gols da vitória, Granit Xhaka e Xherdan Shaqiri foram os jogadores mais vaiados no início do jogo, mas deram a resposta em campo.

De origem kosovar, os dois irritaram os torcedores adversários ainda mais. Eles comemoraram os gols fazendo um sinal alusivo à águia de duas cabeças, símbolo da Albânia, origem étnica da maioria dos kosovares que lutaram na guerra de independência, no fim dos anos 1990, contra o domínio sérvio e a limpeza étnica praticada promovida por eles. Cada jogador foi punido pela Fifa com uma multa de R$ 38 mil.

Lichtsteiner, que não tem ligação com o Kosovo mas imitou o gesto dos companheiros, foi multado com a metade do valor.

Até o técnico da Suíça, o bósnio Vladimir Petkovic, reprovou a atitude dos dois jogadores.

"É claro que [na comemoração] as emoções aparecem. Nós todos precisamos deixar a política de lado no futebol. Nós precisamos focar no futebol, que é uma coisa que une as pessoas. Como eu disse antes, você nunca deve misturar política com futebol. É importante mostrar respeito", disse o treinador. Autor do gol da vitória, Shaqiri nasceu no Kosovo. Na partida, ele jogou com uma bandeira do país em um dos pés da chuteira; no outro, a da Suíça.

Jovan Surbatovic, secretário-geral da federação sérvia, reclamou das chuteiras e tentou convencer o árbitro a obrigar o jogador a trocá-las.

"Foi uma provocação. Estávamos jogando contra a Suíça, não contra Kosovo", afirmou.

A Albânia e o Kosovo são membros da Fifa e suas bandeiras são rotineiramente exibidas em jogos internacionais.

A Sérvia não reconheceu a declaração de independência de Kosovo em 2008. Os nacionalistas sérvios consideram Kosovo como o lugar de nascimento de sua cultura.

Sérvia e Albânia são inimigas históricas. As tensões se tornaram mais graves após a guerra, que teve início após a extinção da Iugoslávia.

A primeira Copa disputada pela sérvia foi a da Alemanha, em 2006. Na ocasião, o país jogou o Mundial como Sérvia e Montenegro. Pouco mais de uma semana antes do início do Mundial houve a independência de Montenegro, criando duas nações diferentes.

Mesmo assim, os dois países jogaram juntos pois assim haviam disputado as eliminatórias. Além disso, Montenegro ainda não tinha uma federação.