Militares da Venezuela abrem fogo contra opositores e matam 2 perto da fronteira com o Brasil

Marcelo Camaego/Agência Brasil/Arquivo

Atualizada às 15h50

Militares venezuelanos abriram fogo contra um grupo de civis que tentava manter aberto um trecho da fronteira da Venezuela com o Brasil na manhã desta sexta-feira (22). Ao menos duas pessoas morreram e outras 22 ficaram feridas. O ditador Nicolás Maduro ordenou o bloqueio da fronteira entre os dois países na noite de quinta-feira (21), para impedir a entrada de ajuda humanitária no país. Segundo o jornal Washington Post, às 6h30 desta sexta, um comboio militar se aproximou de um ponto de controle próximo a uma comunidade indígena na vila de Kumarakapai, perto de uma das vias que ligam os dois países. Quando um grupo de pessoas tentou bloquear a passagem do comboio, soldados abriram fogo, ferindo ao menos 22 pessoas, segundo o jornal El Nacional. Uma das vítimas é Zorayda Rodriguez, 42. Duas ambulâncias cruzaram a fronteira brasileira, apesar do bloqueio, para levar cinco feridos a um hospital de Roraima. "Em este momento, cinco pacientes venezuelanos estão sendo atendidos no Hospital Geral de Roraima. Todos foram feridos por arma de fogo", disse a Secretaria Estadual de Saúde, em nota. Após o ataque, ao menos 30 moradores dos arredores sequestraram três funcionários do governo. Segundo Tamara Suju, advogada e defensora dos Direitos Humanos, eles só serão liberados pelos indígenas caso o ministro da Defesa da Venezuela, Padrino López, vá buscá-los pessoalmente. Os ativistas que fizeram o bloqueio pertencem ao grupo indígena Pemones, que se uniu ao esforço da oposição para ajudar a receber a ajuda humanitária enviada pelos EUA. O líder opositor Juan Guaidó, reconhecido por 50 países (incluindo o Brasil) como presidente interino, se comprometeu a fazer chegar "de uma forma ou de outra" a ajuda humanitária ao país a partir de diversos pontos na fronteira, neste sábado (23). O envio de ajuda para os venezuelanos que sofrem com a crise econômica se tornou um foco de luta de poder entre Maduro e Guaidó. O ditador teme que a entrega seja um disfarce para facilitar uma intervenção dos Estados Unidos, e ordenou aos militares que impeçam a entrada dos mantimentos, enquanto o opositor pede ao Exército que libere a passagem dos carregamentos. As Forças Armadas seguem leais a Maduro. Os Estados Unidos dizem que 'todas as opções estão sobre a mesa' e, nos últimos dias, têm pressionado o Brasil para que o país use força militar para entregar ajuda humanitária à Venezuela. A área de Defesa brasileira resiste à ideia por temer que a situação escale para um conflito, e também vetou a sugestão de que soldados americanos participassem da operação. Nesta sexta, a Rússia acusou os Estados Unidos de usar a ajuda humanitária enviada à Venezuela como "um pretexto para uma ação militar" para derrubar o presidente Nicolás Maduro. "Há informações de que empresas norte-americanas e aliados dos Estados Unidos na Otan estudam a compra de uma importante quantidade de armas e munições de um país do leste da Europa, com o objetivo de entregá-las para as forças de oposição da Venezuela", disse Maria Zajarova, porta-voz da diplomacia russa. ? A China também questionou a entrega de comida e remédios. "Se a chamada ajuda humanitária chegar a ser enviada à força para a Venezuela, poderá desencadear um conflito e provocar graves consequências", disse Geng Shuang, porta-voz do ministério de Relações Exteriores da China. "Isso é o que ninguém quer ver."

Fonte: Folhapress