Dia dos Solteiros: por que tendência é que eles aumentem ainda mais?

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O Brasil chega ao Dia dos Solteiros, 15 de agosto, com o estado civil sendo predominante entre os brasileiros: são 81 milhões de solteiros no país e 63 milhões de casados, segundo o último dado disponível do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), baseado na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), de 2022.

Mas isso não significa que estes solteiros estejam, de fato, sem um parceiro romântico: 24,3 milhões deles viviam em uma união até o último levantamento do Instituto.

Nos países da América do Norte e Europa, o número de solteiros também é maior do que o de casados. E ,em nível mundial, deve crescer mais de 20% até 2040, segundo dados do Euromonitor International.

De acordo com a PNAD, a proporção de lares com apenas uma pessoa aumentou de 12,2% para 15,9% em dez anos. Atualmente, 11,8 milhões de imóveis são ocupados por apenas uma pessoa no Brasil.

Crise no casamento e aumento das separações

As especialistas ouvidas pelo SBT News concordam que o modelo tradicional de casamento vem entrando em crise. É o que também mostram os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O tempo médio entre o casamento e a assinatura do divórcio caiu de 17,5 anos em 2009 para 13,8 anos em 2022. A psicanalista Vera Cristina aponta que o casamento é a necessidade que todos nós temos de um outro, já que ele seria uma forma de autoconhecimento narcísica (comportamento centrado em si mesmo). E isso vem entrando em crise.

"A busca é ter um outro para que eu me conheça e possa enxergar qualidades minhas. Além disso, a necessidade do outro para aliviar suas próprias frustrações", afirma.

Segundo a psicóloga Andrea Lorena, o conceito de casamento passou por transformações ao longo dos séculos. No início, as uniões eram arranjadas e havia interferência familiar, especialmente por interesses políticos e econômicos. Só mais recentemente é que surgiu o "casamento por amor".

"Basta você participar de uma roda de conversa na academia, no bar, ou em qualquer outro lugar para ouvir uma história recente de separação." , disse

Excesso de convivência entre as pessoas colaborou com aumento nos divórcios

De acordo com a psicóloga da USP Liliana Seger, o aumento no número de divórcios pós-pandemia da Covid-19 pode ser explicado pelo excesso de convivência entre as pessoas que estavam em uma relação amorosa. Dessa forma, uma das partes ou ambas se davam conta de quem eram, de fato, os companheiros (as), o que as levaram a desistir da relação.

Vera observou em seu consultório o crescimento de relacionamentos mediados por aplicativos de paquera e redes sociais durante e depois a pandemia de Covid-19. "Esses relacionamentos têm mais tendência de ficarem superficiais e de trazerem muitas surpresas, já que a manipulação de sentimentos pode crescer com a relação digital. Algumas pessoas estão cansadas de relações que não se aprofundam e isso faz com que elas prefiram estar solteiras", explica Vera.

Relações na lógica do consumo

Seger aponta que os relacionamentos estão com uma tendência cada vez mais forte de entrar na lógica do consumo. Nesse sentido, segundo ela, as pessoas passam a procurar pessoas como se fossem "alimentos na prateleira".

"A pessoa já começa a se relacionar pensando em quantos likes vão ter juntos nas publicações e, muitas vezes, isso faz com que elas se desconectem dos sentimentos do outro. Assim como consumo está exagerado, os relacionamentos passaram a ser produtos também", ressalta.

Isso colabora com relações superficiais e sem diálogo, segundo ela. Você sai com uma pessoa, mas caso ela não seja aquilo que se espera, você desiste de continuar imediatamente. A sensação de "estar perdendo alguma coisa" é maior com o excesso de facilidade proporcionado pelas interações digitais que, de acordo com Liliana, muitas vezes colaboram com o declínio do vínculo afetivo, uma vez que prejudicam a qualidade do diálogo e aumentam a intolerância aos conflitos naturais dos relacionamentos amorosos.

"As pessoas estão desaprendendo a olhar nos olhos e conversarem com os outros. Ficou líquido, como diria Bauman", explica.

Ela menciona a obra do sociólogo Zygmunt Bauman que, em seu livro "Amor Líquido", investiga, dentre outras coisas, a redução do laços a longo prazo, tanto amorosos, quanto familiares ou de amizade.

Mais mulheres estão optando por ficarem solteiras

A principal novidade, segundo Vera observa em seu consultório, é com relação às mulheres. Ela notou um crescimento por parte de pessoas do sexo feminino que optam por estarem sozinha ou em relações fugazes e superficiais "que não invadam sua vida pessoal", disse.

Além disso, segundo ela, os casamentos vem diminuindo e os divórcios aumentando também porque as mulheres vem aceitando cada vez menos ficar em relações abusivas.

Número de contratos de namoros cresceu Em paralelo a isso, houve um aumento considerável no número de contratos de namoro. De acordo com levantamento realizado pelo Colégio Notarial do Brasil (CNB), foram celebrados 126 acordos desse tipo em cartórios de todo o país no ano passado, o que representa um aumento de 35% em relação a 2022.

A tendência é influenciada por não possuir desejo de compartilhar os bens que estão em seu nome e deixar claro que não estão em uma união estável.

Segundo o advogado especializado direito patrimonial Cassio Namu, o contrato de namoro surgiu em 2002, mas passou a ser bastante procurado a partir da pandemia especialmente jovens casais de namorados, que passaram a morar juntos, além de casais mais velhos, que já foram casados anteriormente e passaram morar juntos.

De que maneira a pessoa pode fazer a melhor opção de relacionamento?

Vera brinca que "todos os acordos devem ser escritos a lápis", já que, no decorrer do tempo, é preciso rever o que foi pré-estabelecido.

"Penso que isso é bastante saudável, um ouvir o outro sobre as suas demandas e possibilidades de aceitação ou não", explica a psicanalista.

Lorena ressalta que um relacionamento saudável só funciona se o casal mantiver conversas assertivas, e que sempre na relação há os desejos conjuntos e os individuais. Por isso, caso a pessoa esteja descontente com a relação, é importante que ela investigue a origem desse sentimento.

"Após esse mergulho interno, a pessoa deve chamar o parceiro para conversar, sendo honesta consigo e com o outro. Em alguns casos, ambos identificarão juntos questões que podem ser comuns", disse.

Segundo ela, o descontentamento não está no modelo adotado, mas nas expectativas e valores depositados pela pessoa na relação amorosa.