Atletismo do Piauí é destaque nas Olimpíadas Escolares

O exemplo do atletismo piauiense é só um dos que contrariam o pensamento do esporte escolar como brincadeira de criança. Enquanto muita coisa parece ser tratada como brincadeira neste país, professores e jovens estudantes deram muito suor e até lágrimas nas Olimpíadas Escolares em Maringá, na última semana. Gente que leva a defesa do nome de sua escola, cidade e Estado tão a sério que faz exigências além das que podem cumprir, que recebe pouca ajuda, mas quase não se queixa do poder público e tem como maior adversário a situação social dos praticantes: problemas familiares, falta de transporte, e até mesmo do que comer são barreiras a serem superadas na busca por medalhas.  

Patrocínio falta, a estrutura não é a ideal, mas são fatores além do esporte que o professor Sebastião dos Santos tenta resolver para manter seus alunos praticando o esporte. Sem saber por qual razão um de seus atletas que disputou os jogos de Maringá estava ausente nos treinos, o técnico foi surpreendido com o pedido de desculpas da mãe. Ela explicou que não tinha como dar o lanche para o filho. Em outro caso, Sebastião deu R$ 2 a um aluno, sem saber no que seria usado. Quando ia embora, achou dois atletas dividindo comida em uma lanchonete.

"A gente sabe que um aluno que se alimenta mal dificilmente terá um bom resultado. Eu mesmo pago, a cada duas ou três semanas, o lanche para a turma", revelou Sebastião dos Santos, que acompanhou os atletas em Maringá. O esforço do professor parece refletir positivamente nos atletas, que buscam superar outros problemas para continuar no esporte. Pais divorciados, parentes envolvidos com crimes, e outras questões até menores, como vale-transporte para ir ao treino, atrapalham. Mas isso não transparece. O próprio professor vai para a pista da Universidade Estadual do Piauí de bicicleta.

A superação de tantos problemas talvez tenha elevado o nível de exigência do saltador José Alcântara, da Unidade Escolar Pinheiro Sampaio. Nos treinos, ele obteve 1m90 no salto em altura. A boa marca não foi repetida no norte do Paraná, e os 1m70 foram insuficientes para brigar pelo pódio. Sem entender o fracasso, não houve quem consolasse o jovem atleta, que repetia aos prantos: "O que eu vou dizer para a minha mãe?". E mesmo já mais calmo, José era visto no estádio dias depois ainda a lamentar a derrota.

A teimosia e inconformismo são comuns entre muitos que treinam na pista de atletismo da Uespi com vários professores, entre eles Sebastião dos Santos, que encontrou na Escola Municipal Antônio Gayoso, bairro São Joaquim, boa parte das principais revelações do esporte. Em Olimpíadas Escolares, já foram sete medalhas conquistadas por seus pupilos, hoje tantos que ele divide o trabalho e até viagens com Adriano Santos. Valores como Reynan Costa, prata no Lançamento de Dardo no Paraná, começaram a treinar atletismo nas aulas de educação física da escola, até descobrirem sua verdadeira aptidão.

Sebastião conta ao Cidadeverde.com que o trabalho iniciado em 1997 já recebeu reconhecimento do poder público. Da Prefeitura de Teresina, o técnico recebeu material para treinamento até mesmo sem pedir, e a ordem de que o trabalho não fosse interrompido mesmo que os estudantes passassem para a rede estadual ou privada. "Ouvi isso do próprio secretário Washington Bonfim (Educação), de que eu devo continuar porque isso é bom para eles (alunos)", declarou o professor, que possui dardos e pesos para arremessos adquiridos como material didático.  

Enquanto os treinos prosseguem gratuitamente na pista cedida pela Uespi, Sebastião e os demais professores fazem o que podem para minimizar os fatores externos ao esporte. Um psicólogo já foi contatado para conversar com uma atleta com problemas familiares, por exemplo. No fundo, todos torcem para que os problemas sociais não prejudiquem os treinamentos, e a região das lagoas do Norte possa revelar uma fábrica de campeões.

Fabio Limafabiolima@cidadeverde.com

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