Violência cresce no Chile mesmo com toque de recolher, após terremoto

Esporádicos a princípio, os saques se intensificaram e ficaram mais violentos nas últimas horas, apesar do toque de recolher e do reforço do patrulhamento pelas tropas chilenas nas regiões mais atingidas pelo terremoto de magnitude 8,8 do último sábado (27), que matou ao menos 723. A violência aumenta os temores da população, já angustiada com a falta de alimentos e a situação de abandono em várias localidades. Em Concepción, 500 km ao sul da capital e epicentro da tragédia, a situação era crítica: ainda não foi implementado um canal de distribuição de alimentos e, apesar da forte presença militar nas ruas, os saques prosseguiam. No final da tarde, um grupo de vândalos ateou fogo a uma loja de departamentos e a um supermercado em Concepción, e uma pessoa envolta pelas chamas foi resgatada pelos bombeiros no interior da loja, situada em uma zona comercial do centro da cidade. Uma nuvem de fumaça negra cobriu a cidade devido ao incêndio, enquanto fuzileiros navais tentavam controlar a situação. No domingo, um homem morreu baleado por um grupo que tentava assaltar sua casa na periferia de Concepción, em meio ao toque de recolher. A polícia identificou o homem como Romeo Alexis González Martínez, 22, morador de Chiguayante, na periferia da cidade de Concepción, informa o jornal chileno "La Tercera". A violência também foi registradas em outras cidades, como na localidade costeira de Dichato, onde moradores denunciaram saques cometidos por pessoas vindas de outras regiões. O governo chegou a estender o toque de recolher para outras três cidades: Talca, Cauquenes e Constitución. A medida vigorou das 24h às 06h e envolveu um amplo dispositivo militar, informou o general-de-brigada Bosco Pesse, encarregado da zona de Maule.

A presidente Michelle Bachelet anunciou o envio de 5.000 soldados às regiões de Maule e Concepción, que têm, no total, 7.000 militares.

Afetados

O Escritório Nacional de Emergência (Onemi, na sigla em espanhol) estimou nesta terça-feira que 2 milhões de chilenos foram afetados de alguma forma pelo terremoto de magnitude 8,8 que atingiu o centro-sul do país no último sábado (27). O tremor, um dos fortes do país e do mundo, deixou ainda 723 mortos, mais de 500 feridos e outros 19 desaparecidos.

Segundo a diretora do Onemi, Carmen Fernández, citada pela imprensa chilena, o número de desaparecidos ainda é muito parcial já que as informações ainda chegam de maneira precária das regiões mais atingidas.

"Não vamos ficar contabilizando dia a dia. Nossa meta é ajudar as 2 milhões de pessoas em suas condições básicas de vida e neste marco estamos nos movendo", disse.

Fernández defendeu-se ainda das críticas sobre a lentidão na entrega de ajuda humanitária aos afetados pela tragédia e afirmou que o Onemi trabalha para agilizar o processo de entrega dos suprimentos aos cerca de 2 milhões de afetados.

"Aqui estamos em uma rede de distribuição que está operando e o maciço da ajuda começou a operar. É uma rede em que trabalham todos os organismos, que inclui dispositivos aéreos, caminhões que estamos alugando para via terrestre e os barcos da Armada", disse, citada pelo jornal "El Mercurio".

Fernández afirmou ainda que está prevista ainda para esta terça-feira, quatro dias após o tremor, a entrega de tendas de emergência para os desabrigados. "Vamos começar com um estoque de cinco mil", explicou.

Fonte: Folha Online