Francesa Lagarde é eleita primeira mulher diretora-gerente do FMI

A ministra francesa das Finanças, Christine Lagarde, foi nomeada nesta terça-feira diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI). Ela assumirá o cargo no próximo dia 5. Pouco depois da escolha, Lagarde disse que se sente "honrada" e "feliz". "Caros amigos, é uma honra e uma alegria anunciar a vocês que o Conselho de Administração do FMI acaba de me designar diretora-gerente!", declarou em sua conta do microblog Twitter. Foto: Georges Gobet/France PresseLagarde e o diretor do Banco Central do México, Agustín Carstens, eram os dois candidatos que pleiteavam a direção do FMI, depois da recente demissão do francês Dominique Strauss-Kahn, acusado pela justiça americana de agressão sexual contra uma camareira em Nova York. A ministra era considerada há semanas como ampla favorita ao cargo, que é tradicionalmente ocupado por um europeu e ficou, na maior parte da história do Fundo, na mão de um francês. A escolha foi anunciada em um comunicado do FMI, após reunião do Conselho da Administração, principal órgão do FMI e formado por 24 membros. O sistema de votação proporcional do FMI é determinado pelo número de cotas que cada país tem, o que, por sua vez, leva em conta principalmente o volume de recursos que o país coloca no Fundo. Os Estados Unidos têm cerca de 17% dos votos. Os países europeus, incluindo os nórdicos, têm cerca de 40% a 47% do voto. Já países como Egito, Coreia do Sul, Rússia e nações africanas têm pouca representatividade. Lagarde já tinha obtido mais cedo o apoio dos EUA, o principal membro do FMI e que, por si só, garantia em teoria a sua eleição. No mesmo dia, a francesa obteve ainda o apoio da Rússia e do Brasil. Segundo o ministro Guido Mantega (Fazenda), a escolha foi feita porque Lagarde se comprometeu a continuar as reformas do fundo, buscando aumentar a participação dos emergentes. "Esperamos que esse compromisso seja cumprido, de dar continuidade a essas reformas, que não só nos colocaram em uma posição melhor", afirmou. Lagarde assume já com o desafio de lidar com a crise da dívida grega e os temores crescentes de um calote. O Parlamento grego votará nos próximos dias um amplo pacote de austeridade ao qual está condicionado seu novo pacote de resgate, que deve contar com a participação dos bancos privados.

Perfil

Advogada de formação e mãe de dois filhos, Lagarde, 55, começou a trabalhar em 1981 na delegação parisiense de Baker&McKenzie como advogada associada. Em 1995, passou a atuar como membro do comitê executivo mundial e, quatro anos mais tarde, como presidente. Em 2004, ganhou atenção à frente do comitê estratégico mundial. Ela abandonou o cargo um ano depois para entrar no governo do então presidente francês, Jacques Chirac, como vice-ministra de Comércio Exterior. Após uma breve passagem como ministra de Agricultura e Pesca no início do mandato do presidente Nicolas Sarkozy, Lagarde estreou, em junho de 2007, como a primeira mulher ministra da Economia e Finanças de um Estado membro do Grupo dos Sete (G7, que reúne os países mais industrializados do mundo). Seus defensores destacam sua longevidade no Ministério, no qual viu passar vários titulares. Outros fatores positivos são seu perfeito domínio do inglês e seu trabalho na gestão da crise econômica e financeira iniciada em 2008. Ela acumula ainda a façanha de ter ocupado em 2009 o 17º lugar na lista das mulheres mais poderosas do planeta elaborada pela revista "Forbes", o 5º na lista das executivas europeias realizada pelo "Wall Street Journal", e nesse mesmo ano, o título de melhor ministra de Finanças da UE concedido pelo "Financial Times". Contra, há o suposto abuso de autoridade cometido na indenização ao empresário Bernard Tapie pela venda da Adidas em 1992, e sobre o qual a Justiça francesa decidirá no próximo dia 8 se abre contra ela uma investigação judicial. A sombra dessa controvérsia se agravou depois que a procuradoria de Paris decidisse nesta quarta-feira a abertura de uma investigação preliminar sobre o papel de altos funcionários que fecharam a arbitragem propícia ao empresário, embora ela própria não esteja envolvida. Fonte: Folha