Ator presta homenagem ao pai, Chico Anysio, em série

Outro dia, estava vendo um show do Stevie Wonder na televisão, e a filha dele, Aisha Morris, que faz backing vocal na banda, cantou um solo acompanhada do pai. Na hora em que ela foi apresentada, e os primeiros acordes da introdução soaram, a primeira coisa que eu pensei foi: "Vamos ver se ela herdou o talento do pai". Não adianta, filho de gênio é sempre comparado. Isso também foi um pouco difícil para mim: administrar a minha comparação. Certas coisas a gente só aprende com a idade mesmo. Ser filho de quem eu sou vem com suas próprias regras. Umas facilitam bastante a vida, outras nem tanto. Amadurecer me ensinou a dosar e a achar a medida para seguir meu caminho. Pelo menos continuar tentando. Minha sorte é que meu pai tem um talento tão fora do comum que qualquer comparação com ele, seja com quem for, é uma covardia imensa. 

Alex Carvalho/TV Globo

Nizo Neto como Chico Anysio na minissérie "Dercy de Verdade"

Corujice à parte, basta lembrar da obra desse homem para constatar que é a mais pura verdade. E quem disser que é fã número um do Chico Anysio, vai me desculpar, mas esse posto pertence a mim. Por isso, não existe presente melhor do que interpretar meu pai na minissérie "Dercy de Verdade". Eu já havia vivido ele em "Azambuja & Cia.", nos anos 1970, mas foi quase uma brincadeira. Eu tinha dez anos, ainda nem pensava em me levar a sério como artista. Agora, em "Dercy", tive a chance de interpretar meu pai "a sério", mas sem a pretensão de ser sério e curtindo muito estar em cena fazendo "cara de Chico Anysio". Viver o Coronel Limoeiro, seu primeiro personagem de sucesso na televisão, foi uma experiência mediúnica. Parte da diversão é, diante dos meus 47 anos, interpretar meu pai com seus 30. A homenagem está à frente de tudo. Nesse momento difícil de saúde que ele está passando, são tantas as homenagens merecidas, mas digo com segurança, ainda que pareça pretensioso, que essa foi a mais carinhosa de todas. Meu querido pai, isso é só para você: ter vivido você nesse trabalho foi, sem dúvida, a coisa mais fofa e divertida da minha carreira. Uma experiência efêmera, mas muito intensa, assim como sua convivência com Dercy Gonçalves (1907-2008). São breves homenagens como essa, feitas com profundo carinho e gratidão, que me fazem confirmar o pai fantástico que você é, além do patrimônio nacional que você se tornou. Na verdade, você é o grande pai de todos que amam e fazem humor neste país. E ser seu filho é motivo de tanto orgulho que mal cabe dentro de mim. Fonte: Folha Online