Grupo brasileiro prepara indicação de Havelange ao Nobel da Paz

Paralelamente à implicação como suposto protagonista do caso ISL, em que altos dirigentes da Fifa receberam propina da empresa de marketing esportivo em questão, o veterano João Havelange será indicado ao prêmio Nobel da Paz deste ano, em iniciativa da Academia Brasileira de Filosofia (ABF).FEITOS POLÍTICOS:- De 1956 a 1974 presidiu a CBD (Confederação Brasileira de Desportos), que congregava, na época, 24 esportes e não somente o futebol- Dirigiu a Fifa de 1974 a 1998. Organizou seis Copas do Mundo, visitou 186 países e trouxe a China, desligada por mais de 25 anos por motivos políticos, de volta à entidade- Atuou nos bastidores políticos do COI no lobby pelos Jogos de 2016 no Rio de JaneiroCredenciada oficialmente pela Fundação Nobel para sugerir nomes do país na disputa de literatura, a ABF prepara a indicação de Havelange [exceção aceita pelo instituto], apoiada no argumento de que o dirigente que completa 96 anos em 2012 promoveu a paz através da difusão do futebol como negócio gerador de empregos e justiça social.No entanto, os mentores da ideia veem o trâmite do escândalo ISL na Suíça e a recente renúncia do brasileiro como membro do Comitê Olímpico Internacional (antecipando-se a uma possível expulsão) como um jogo político ligado à sucessão de Joseph Blatter na Fifa em 2014 e um consequente obstáculo na candidatura.    Presidente da academia abrigada no Rio de Janeiro, João Ricardo Moderno já preparou a carta oficial destinada ao braço norueguês da Fundação Nobel, responsável por organizar o prêmio da Paz. A indicação brasileira será encaminhada já nos próximos dias, antes do prazo limite para inscrições, que expira em 1º de fevereiro."A ABF vai encaminhar o dossiê até o final da semana. Somos credenciados para indicar nomes do país para o Nobel de literatura, vamos indicar o Carlos Nejar [poeta gaúcho, membro da Academia Brasileira de Letras]. Mas também podemos apresentar indicações para outros prêmios", afirma Moderno."O João Havelange fez muito mais pela paz mundial do que outros ex-laureados. Fez mais do que Obama e Yasser Arafat [líder palestino morto em 2004], por exemplo. Parou a guerra Irã-Iraque [nos anos 80] para a realização de jogos. Não deixou que questões raciais, ideológicas e militares influenciassem no esporte e ainda acabou com o racismo no futebol, integrando África, Ásia e o mundo árabe à Fifa, unindo o mundo", argumenta o presidente da Academia Brasileira de Filosofia.Na carta endereçada ao comitê norueguês da Fundação Nobel, João Ricardo Moderno discorre sobre o legado Havelange na presidência da Fifa, entre 1974 e 1998, em argumento que a administração do brasileiro gerou mais de 250 milhões de empregos diretos no universo do futebol, em várias esferas. "Renda é paz social, emprego é paz social", destaca. Se não for aprovada para 2012, a indicação fica na fila para os anos seguintes.A ideia da indicação ao Nobel da Paz surgiu em 2010, quando João Havelange foi nomeado doutor honoris causa da Academia Brasileira de Filosofia.ACUSAÇÕES CONTRA DIRIGENTE REPRESENTAM OBSTÁCULOA iniciativa brasileira de brigar por um Nobel da Paz para João Havelange encara a posição atual do dirigente no cenário político do esporte como uma adversidade à causa.Em dezembro passado, Havelange renunciou como membro do COI dias antes de a entidade anunciar decisão sobre casos de corrupção ocorridos nos últimos anos. Integrante da entidade desde 1963, o brasileiro estava sob investigação por supostamente receber um pagamento de US$ 1 milhão (cerca de R$ 1,7 milhão) da ISL.Dois outros integrantes do Comitê Olímpico envolvidos no caso, Lamine Diack e Issa Hayatou, receberam advertências brandas."Querem atingir o Brasil, o jogo político é pesado. Quando ele esteve aqui na homenagem da academia, falou das acusações. Dizem que o Blatter quer atingi-lo, mas o alvo é o [Ricardo] Teixeira. O Havelange foi muito claro, jogam pesado para tirar o Brasil da reta. Não querem o Brasil na sucessão da Fifa. O Blatter não quer isso", diz João Ricardo Moderno.  "Ele é um homem acima de qualquer suspeita, só fez bem à humanidade. Brasileiro tem mania de transformar bandidos em homens honrados e homens honrados em bandidos. Ele foi convocado para a reunião da comissão ética [do COI], mas disse que não iria, disse que não fez nada, não pegou dinheiro de ninguém", acrescenta o mentor da candidatura brasileira ao Nobel da Paz.JUSTIÇA SUÍÇA PRESSIONA FIFA A DIVULGAR NOMES DE ESCÂNDALO Em 27 de dezembro passado, a Suprema Corte do estado de Zug, na Suíça, determinou que a Fifa revelasse os documentos sobre o caso da ISL, empresa de marketing esportivo do país que faliu e tinha diversos negócios com a entidade, entre eles os direitos de televisão da Copa do Mundo.A Fifa tem 30 dias para recorrer da decisão da Suprema Corte da Suíça, em prazo que começou exatamente na data mencionada.O órgão máximo do futebol planejava divulgar a informação na reunião do comitê executivo em 17 de dezembro, mas uma ação legal de uma parte envolvida no escândalo forçou a decisão a ser adiada por tempo indeterminado.Publicamente, o que se sabe é que dois dirigentes da entidade que tiveram o suborno comprovado fizeram um acordo com a Justiça suíça em nome de sigilo, devolvendo o valor financeiro embolsado nas negociações com a ISL. De acordo com documentário da BBC inglesa, os cartolas em questão são Ricardo Teixeira e João Havelange.Fonte: Uol