Conselho anunciará regras para identificar feto sem cérebro

O Conselho Federal de Medicina vai anunciar em 60 dias um conjunto de regras para o diagnóstico seguro de casos de anencefalia. Atualmente, 65 hospitais públicos estão qualificados para realizar a interrupção da gravidez, e mais 30 deverão ser capacitados até o fim do ano.Enquanto os ministros do Supremo Tribunal Federal decidiam se mulheres grávidas de fetos anencéfalos poderiam ou não abortar, um drama era vivido em um hospital de Cuiabá.Ernandes e a mulher dele, Brenda, de 19 anos, descobriram que o bebê que esperavam era anencéfalo logo no início da gravidez. Nesses casos, o feto tem o tronco cerebral, mas não tem o restante do cérebro, nem a calota óssea.Ernandes e Brenda recorreram à Justiça para fazer um aborto. A decisão saiu dois meses depois: o pedido foi negado e a gravidez seguiu adiante. O parto aconteceu em uma cirurgia complicada, de emergência. O bebê morreu minutos depois.“Passaram-se quase oito meses e a gente gestando um funeral”, diz Dalete de Souza, avó do bebê.Foi em função dos danos físicos e psicológicos enfrentados pelas gestantes que a discussão sobre o aborto dos anencéfalos vinha sendo travada no Supremo Tribunal Federal. A mais alta corte do país decidiu que o parto de fetos sem o cérebro poderá ser antecipado. Na prática, é a interrupção da gravidez, e agora sem a necessidade de pedir autorização à Justiça.A decisão agora é da mulher, que pode ou não interromper a gravidez sem que isso seja crime.“A mulher vai precisar apenas da certificação, da informação médica, da comprovação médica que é um anencéfalo”, explica Rui Geraldo Viana, presidente da Comissão de Bioética da OAB.O Conselho Federal de Medicina vai criar uma comissão para estabelecer critérios de diagnóstico para a anencefalia.“Um critério utilizado hoje é o exame ultrassonográfico, com uma grande margem de especificidade e de precisão. Precisa-se elaborar isto com detalhes”, acrescenta Carlos Vital Corrêa Lima, vice-presidente do Conselho Federal de Medicina.Brenda voltou para casa depois de ficar dois dias internada. E falou sobre a decisão tomada pelo STF.“Se outra mãe passar por isso e poder tirar antes, é muito mais fácil do que vivenciar o que eu vivi”, conclui.A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil lamentou a decisão do Supremo Tribunal Federal. A CNBB declarou que não é correto diagnosticar como "mortos cerebrais" os fetos com anencefalia e que considerar a interrupção da gravidez a melhor opção para a mulher é negar o direito inviolável do feto, e ignorar as consequências psicológicas negativas para a mãe.Fonte: G1