Empresário Jesus Tajra escreve sobre perigo da volta à inflação

 PERIGO À VISTA Jesus Tajra Quem teve a oportunidade de vivenciar aquele terrível ambiente inflacionário, que se encerrou com o advento do Real, se apavora só com a perspectiva, que se vem delineando, da volta desse monstro aterrador.

Não se tinha noção de valor. Os preços se reajustavam de um dia para o outro. Às vezes, pela manhã e à tarde. Lembro de que uma geladeira custava um bilhão de cruzeiros. Planos de combate sucediam-se sem êxito. Já não havia esperança de extirpá-la.

Até que veio o chamado plano real, precedido da implantação da URV. Embora descrente quanto ao seu sucesso, notava-se que sua implantação era cercada de medidas com características bem diferentes dos planos anteriores. Houve verdadeira operação de guerra na distribuição da moeda, desde o centavo até a cédula de maior valor. Não ficou recanto no país que não dispusesse da nova moeda.

Medidas, muitas vezes drásticas, eram adotadas visando a resguardar nossa nova moeda no clima de crises internacionais, que repercutiriam no nosso país. Nosso Real marchava firme e valioso através dos anos, tornando-se símbolo da soberania pátria.                       

O real nos dá noção de valor.                        

Contudo, essa noção está ameaçada diante da perspectiva de uma inflação, que, de mansinho, está alcançando patamares que nos sugerem cautela e mais do que isto, medidas rigorosas de contenção dessa onda.                       

Há no ar um grande e grave indício que nos sugere tal preocupação. É sintomático o volume de cédulas de cem reais em circulação. É só observar. No dia a dia das nossas atividades, passa despercebido esse indício.                       

E é aí que reside o perigo. Pois a inflação, fluindo em célere crescimento, vai minando o nosso poder aquisitivo.                       

Há outros sintomas reveladores que nos levam a essa preocupação. Não só elevação de preço, mas também a explosão imobiliária que se estende por todo o país. Facilmente se constata este fenômeno em Teresina. Só se fala em valores acima do milhão de reais.                       

Depreende-se, assim, a importância de medidas realistas compatíveis com a necessidade extrema de contenção da bolha inflacionária, antes que, sendo tarde, percamos a noção de valor que a nossa moeda – o Real – nos proporciona.                       

É o que se impõe ao Governo.                        

É o que se espera da Presidente Dilma.                       

Caso contrário, não demorará muito, passaremos a ter em circulação cédulas de R$ 200,00 e até mesmo de R$ 500,00. 

* Constituinte 1988, Advogado e Jornalista.