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Miguel Falabella rebate acusações de racismo

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Nesta quarta-feira (10), Miguel Falabella usou sua conta no Facebook para comentar sobre a polêmica envolvendo racismo em seu novo seriado, "Sexo e as Negas", da TV Globo.

O escritor começou seu depoimento explicando como surgiu a ideia da trama.

"Comecemos com a gênese do programa: Estávamos nós, há alguns anos, em uma feijoada, na Cidade Alta de Cordovil. Karin Hils estava comigo. E havia uma negra maravilhosa, montada, curvilínea e muito sexy, que me disse que cada vez que botava cabelo, dormia três dias 'no pique-esconde' [eu usei isso em ‘Pé na Cova’]. Daí, já não me lembro mais porque, a conversa descambou e acabamos em ‘Sex and the City’, porque algumas pessoas da festa eram fãs do programa. Eu disse: ‘A gente bem que podia fazer um 'Sex and the City' aqui na Cidade Alta’. ‘Sexo e as Negas’ gritou a negra deslumbrante, substituindo o ‘S’ do artigo pelo ‘R’, como é usual no falar carioca. Todo mundo teve um acesso de riso e eu fiquei com aquilo na cabeça."

Falabella, então, destacou que está na profissão há muitos anos e que dói acompanhar a luta de seus colegas negros na dramaturgia.

"As oportunidades são reduzidas, não trabalham sempre e, sem exercício, não há aprendizado, como sabemos. Pensei que aquela ideia, surgida em uma feijoada, pudesse ser um programa que refletisse um pouco a dura vida daquelas pessoas, além de empregar e trazer para o protagonismo mais atores negros. Basicamente, foi essa a ideia e nem achei que iriam aceitar o programa.”

Em seguida, o artista questionou: “Qual é o problema, afinal? É o sexo? São as negas? As negas, volto a explicar, é uma questão de prosódia. Os baianos arrastam a língua e dizem meu nego, os cariocas arrastam a língua e devoram os ‘S’. Se é o sexo, por que as americanas brancas têm direito ao sexo e as negras não? Que caretice é essa? O problema é porque elas são de comunidade? Alguém pode imaginar Spike Lee dirigindo seus filmes fora do seu universo? Que bobagem é essa? Pois é justamente sobre isso que a série quer falar! Sobre guetos, sobre cotas, sobre mitos! Destrinchá-los na medida do possível! Os mitos e lendas que nos são enfiados goela abaixo a vida toda. Da negra fogosa, das mazelas que os anos de colônia extrativista e escravocrata deixaram crescer entre nós".

Miguel também reclamou de ter ouvido pedidos para o seriado não ir ao ar. "Como é que saem por aí pedindo boicote ao programa, como os antigos capitães do mato que perseguiam seus irmãos fugidos? O negro mais uma vez volta as costas ao negro. Que espécie de pensamento é esse? Não sei o que é mais assustador. Se o pré-julgamento ou se a falta de humor. Ambos são graves de qualquer maneira. Como é que se tem a pachorra de falar de preconceito, quando pré-julgam e formam imediatamente um conceito rancoroso sobre algo que sequer viram?"

Por fim, Falabella assegurou que a atração não é preconceituosa ou racista. 

"'Sexo e as Negas’ não tem nada de preconceito. Fala da luta de quatro mulheres que sonham, que buscam um amor ideal. Elas podiam ser médicas e morar em Ipanema, mas não é esse meu universo na essência, como autor. Não sou Ipanemense. Sou suburbano, cresci com a malandragem nos ouvidos. Portanto, as minhas personagens são camareiras, cozinheiras, indicadoras de mesas, operárias. E desde quando isso diminui alguém? São negras, são pobres, mas cheias de fantasia e de amor. São lúdicas! E sobrevivem graças ao humor. Seres humanos. Reais. Com direito a uma vida digna e muito... Mas muito sexo! Vai dizer agora que eu sou racista? Ah! Nega, dá um tempo... Dito isso, faço como Truman Capote: never complain e never explain! [Nunca reclame e nunca explique]."

Antes mesmo da estreia - marcada para o próximo dia 16 -, a trama já foi denunciada três vezes por racismo na ouvidoria da Secretaria Especial da Promoção da Igualdade Racial. 

 

Fonte: Msn

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