Maria Deusa, mãe da adolescente de 15 anos baleada pelo próprio pai - Firmino de Assis Filho - na tarde de ontem (26) no bairro morada Nova, zona Sul de Teresina, conta se sentir culpada pelo que aconteceu à filha por não ter levado o caso à polícia. Ela declarou ao Jornal do Piauí nesta sexta-feira (27) que o homem tentava comprar a garota com presentes e que a filha chegou a pensar em matar o próprio pai, por medo. 

"Não foi registrado boletim de ocorrência porque me pediram para preservá-la. Ficamos com medo de ele se revoltar. Porque ele já ameaçou todo mundo, ele disse a ela: 'Se tu contar a verdade, mato tu, tua mãe e tua irmã". Essa verdade é o assédio dele com ela, que não era carinho de pai, ele queria que ela se entregasse a ele. Para preservar nossa segurança, procuramos não mexer com isso.", disse. 

Ela considerou que a atitude foi um erro.  "Foi um erro, erro grande demais. Estou me sentindo culpada por não ter feito isso [denúncia] antes. Muito culpada. Demais. Espero que ele não saia nunca da cadeia, que fique para sempre", declarou. 

Segundo a mãe, o medo que a garota sentia do pai fez com ela quissesse matá-lo. No início, a família não suspeitou de nada porque o homem se mostrou um pai bastante atencioso. 

"Nós não queríamos a convivência dele com ela, porque ele nos enganou com presentinhos, tentando comprar com objetos, bens materiais. Eu como mãe fiquei feliz, parecia um pai maravilhoso. Não ia imaginar que ele ia fazer isso com a própria filha. Mãe nenhuima imaginaria. Na minha visão, não tinha nada demais na relação deles, mas depois ela falou que estava com muito medo, que ia mandar matar o pai. Eu disse para ela não fazer isso, mas ele ficava torturando ela psicologicamente, mandando mensagem, a gente não podia ficar perto quando ele ligava", relatou. 

 

"Fiz por revolta", diz suspeito 

Em entrevista exclusiva ao Jornal do Piauí, Firmino de Assis comentou o crime e confessou a tentativa de homicídio contra a própria filha durante audiência de custódia nessa sexta-feira. Na audiência, a justiça decretou sua prisão preventiva. 

"A família [da mãe da garota] não queria que eu tivesse contato com ela, talvez por ciúme da mãe dela. A gente ficava na casa dela vendo filme, não tinha nada suspeito, nada estranho, a família dela inventou o assédio, proibindo minha visitação porque sou separado da mãe dela, eu ia visitá-la todo domingo. Fiz isso por revolta", disse. 

Ele disse ainda que não há provas de assédio e que não utilizava o WhatsApp ou o Facebook para aliciar a filha, rebatendo denúncias da família da mãe da garota. Segundo o homem, ele agora vai se afastar da adolescente e disse que espera que a filha se recupere e tenha "vida longa". Segundo ele, a garota é sua única familiar viva, já que seus pais já faleceram. 

Ele declarou não estar sob efeito de álcool ou outras drogas. Ele agora está preso na Casa de Custódia de Teresina. Ele pode responder pelo crime com o qualificador de feminicídio. 

 

Estado de saúde

O diretor clínico do HUT, Fábio Marcos, disse que a menina está na UTI, com quadro estável, mas ainda sem previsão de alta. Não há ainda como avaliar as possíveis sequelas das lesões.  

"Hoje ela está estável, fora de risco de morte e já conversa com médicos, sem se queixar de dor. As cirurgias foram feitas com sucesso, tanto pelo cirurgião geral quanto ortopedista. Ela foi para a UTI e hoje a família vai falar com o plantonista. As notícias no geral são animadoras. Infelizmente foi retirado o rim esquerdo e foi preciso fazer a reconstrução do pâncreas e do estômago. Mesmo com essa gravidade, ela se recupera bem. Temos dois rins, então sem um não significa o comprometimento total do outro. A principal preocupação é a articulação do joelho. Não podemos dizer ainda que tipo de sequelas ela terá. Não há previsão de alta porque o quadro ainda requer acompanhamento", disse. 

Maria Romero (com informações de Tiago Melo)
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