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Falta de nome de consenso trava opção 'eleições indiretas'

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Avaliando que o governo Michel Temer pode estar com seus dias contados após as revelações contidas na delação da JBS, parlamentares da base já começam a se articular para defender que a única alternativa viável no caso do afastamento do presidente será a sucessão por meio de eleições indiretas. Ou seja, o novo presidente da República, que assumiria o cargo por um mandato tampão até o próximo pleito em 2018, seria escolhido pelo Congresso Nacional. Por ser o próximo na linha sucessória, Rodrigo Maia (DEM-RJ) presidiria o país por 30 dias e conduziria o processo. O problema, na avaliação geral, é a falta de um nome claro para substituir Temer. 

À exceção dos oposicionistas, que são minoria no Congresso, deputados e senadores dizem que o tempo para a votação de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que alterasse a forma de escolha para eleições diretas seria longo e que, nesse período, o país continuaria sangrando com instabilidade. As consequências, nesse caso, seriam ainda mais imprevisíveis, dizem esses parlamentares.

Há ainda o temor de que, com eleições diretas, radicais de direita ou esquerda tenham chances ou o ex-presidente Lula volte ao poder, já que ele é hoje o mais bem avaliado nas pesquisas eleitorais. Para os políticos que hoje integram a base aliada, isso traria como consequência uma conflagração ainda maior do que aquela que se vê no cenário atual, já que Lula voltaria em condição delicada, por ser réu em cinco processos, e com “sede de revanche”, conforme tem mostrado em suas declarações mais recentes sobre os investigadores, a imprensa e a oposição.

Mesmo diante deste cenário de probabilidade de uma sucessão presidencial, os parlamentares da base não conseguem cravar um nome ideal para este momento, mas traçam um perfil. Teria de ser alguém conciliador, capaz de acalmar os ânimos e que não estivesse contaminado pela Lava-Jato ou outros casos de corrupção. Muitos dizem que não seria adequado eleger um senador ou deputado, já que o Congresso como um todo está sob forte desgaste perante a sociedade. Abrem inclusive a possibilidade de escolher um “outsider” político, desde que não seja um “aventureiro”. Ainda há dúvidas sobre as regras que norteariam uma eleição indireta e, por esse motivo, os parlamentares têm dificuldades em elencar nomes que se adequariam a este perfil.

— Para se ter um nome, seria preciso haver no comando do processo uma liderança que tivesse condição de unir para fazer uma pré-candidatura vencedora. E hoje não existe essa liderança capaz de juntar as pontas para fazer candidaturas de consenso — analisa o presidente do Democratas, José Agripino Maia (RN).

Aliados de Temer querem manter a resistência às pressões pela renúncia, mas analisam o plano B para o caso de não ser possível evitá-la. Como prevenção, traçam uma estratégia para ter um candidato ligado à equipe econômica. Dentro do Palácio do Planalto, a avaliação é que o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, são reconhecidos internacionalmente e que ainda têm prestígio junto ao próprio mercado. Esse trunfo é o que o presidente Michel Temer tenta ainda explorar com boia de salvação.

A convicção é de que um nome do atual grupo de poder teria que sair da equipe econômica, podendo ser até mesmo o próprio Meirelles, apesar de sua relação direta com a JBS dos empresários Joesley e Wesley Batista. Outros levantam nomes eternamente cogitados, como o do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Nelson Jobim. A amigos, Jobim disse, brincando, que seu nome sempre é lembrado em momentos difíceis. Ele, porém, quer se manter afastado, além de ser advogado de empresas investigadas na Lava-Jato.

A ministra Cármen Lúcia também é citada no brainstorm que os parlamentares têm feito em busca de um sucessor para Temer, mas sua eleição é vista como pouco provável, já que ela sequer é filiada a um partido político. Alguns tucanos gostariam de ver o presidente interino da legenda, senador Tasso Jereissati (CE), eleito para o cargo. Há também quem defenda que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), apesar de citado na Lava-Jato, seria uma alternativa viável, já que, há apenas poucos meses, conseguiu a maioria na Câmara para presidi-la. Um consenso em torno de um nome, porém, ainda parece algo distante.

Perguntado sobre que fórmula defenderia no caso de afastamento do presidente da República, Rodrigo Maia foi objetivo.

— Respeito à Constituição — disse.

O senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), vice-presidente do Senado, defende a mesma tese.

— Não há saída fora da Constituição. Até porque a Constituição tem roteiro para situações como a que estamos vivendo. Esse caminho é o que tem que ser seguido — afirma Cássio.

 

Fonte: O Globo

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