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Recesso

Por Sávia Barreto

Recesso:

O chatGPT faz muitas coisas, muitas mesmo, mas não consegue escrever 15 notas de análise política e apuração de bastidores diariamente. Dessa forma, aliviada por pouco tempo, a colunista informa ao leitor que não tendo substituto, passará mera uma semana de recesso. Ninguém é de ferro, né leitor? Retornamos na quarta, 31/07, ao batente! Aos adictos em política, sem drama: releiam os arquivos da coluna. De vez em quando tem alguma coisa que se salva… 

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23/07/24

No coração do governo Rafael Fonteles: a estratégia por trás da popularidade

A cena é narrada por mais de um secretário estadual: o governador Rafael Fonteles (PT) está no carro e antes de descer num município do interior piauiense, cercado por assessores de confiança, passa o check-list: obras prometidas pelo Governo na região, quem são os líderes e o que é possível entregar. Desce e faz no discurso, uma promessa que parece espontânea, mas não é: “Daqui há um mês, vamos entregar obra tal”. Os secretários se olham, levemente apavorados. Um deles, conversando com a coluna por telefone à noite, numa brecha de agenda, diz: “Só nós do lado de dentro é que sabemos o quanto corremos pra essa bicha (a obra) ficar pronta, a gente tem que se virar para entregar. A palavra dada é a palavra cumprida para ele”. 

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Passe a fórmula, por obséquio

Num mundo de desconfiança generalizada com a política, qualquer governante que ultrapasse os 40% de aprovação, está indo bem, é um paraíso. Como mostrou o Instituto Datamax, a gestão do governador Rafael Fonteles é aprovada por 90,13% dos teresinenses, com 9,87% que não aprovam. Os dados são de 15 a 18 de julho, e referem-se às respostas válidas. Independente da pesquisa, da metodologia e dos números que sempre podem ser questionados, até a oposição admite que o Governo Fonteles é popular. A calejada coluna quer saber: qual é a fórmula, então?

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Vamos medir tudo!

Uma figura importante na gestão Fonteles diz que tudo lá é medido por pesquisas. Tudo mesmo. “É uma equalização per capita. Sabemos onde tem que ter mais obra e de qual tipo. Teresina tem que ter mais, porque tem mais gente, etc”, ponderou. Mas é só pesquisa? A coluna desconfia que não...

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O tal do feeling

“O governador tem que ‘ler o pensamento do povo’. O que não tem nos livros, é feeling. Ele escuta muita gente. Às vezes uma liderança pede uma obra de calçamento numa cidade e ele (Rafael) diz: ‘Mas o povo de lá reclama que não tem uma quadra de futebol, vamos fazer também’”, completou. Tanta obra tem um motivo: mover a cadeia produtiva e gerar emprego, que ainda é a maior dor dos piauienses. 

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Sem tiro no escuro

“Tem que dar o passo sabendo até onde o time chega. Ele (Rafael) não faz o anúncio no escuro. Como ele acompanha o Governo tecnicamente, a palavra é balizada. Transformando em miúdos, a palavra é 100% cumprida”, explicou um outro tomador de decisão. Segundo esse interlocutor, a ideia é reverter a premissa de que “todo político é mentiroso”. “O ponto forte da imagem do Governo é a ideia de prosperidade”, resumiu.

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Aí vem os problemas...

No mito grego, Sísifo foi condenado, por toda a eternidade, a rolar uma grande pedra de mármore com as mãos até o cume de uma montanha. Ao chegar ponto mais alto, a pedra rolava montanha abaixo e ele recomeçava todo trabalho. Alguns trabalhos são para sempre. O Governo Fonteles precisa lidar até hoje com a luta pela erradicação do analfabetismo (algo que nunca será trivial), assim como a inclusão digital e a universalização do saneamento básico. Missões espinhosas, fato.

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Foca na Sasc

A partir desse segundo semestre, a expectativa é de que uma atenção extra deve ser dada à Assistência Social, comandada pela ex-governadora Regina Sousa. A pasta sempre foi um braço forte da esquerda local, mas não teve espaço preponderante nos primeiros anos de gestão desse novo PT, também é fato. Uma ideia que circula é a de lançar um tipo de formação para que os beneficiários do Bolsa Família entrem no mercado de trabalho. “Da transformação digital pra social”, seria um bom mote?

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Os que têm vez e voz

O Governo tem duas turmas: a do longo prazo (Washington Bandeira na Educação, André Macêdo na Inteligência Artificial e Victor Hugo na prospecção de investimentos). Projetos que não são para um ano ou dois. E tem os que são para ontem e vivem o hoje: Chico Lucas na Segurança e Antônio Luiz na Saúde. Leo Sobral (DER) é um ponto forte por ter implementado soluções administrativas para resolver problemas antigos. Sem Emilio Júnior (Sefaz), Washington Bonfim (Planejamento) e Samuel Nascimento (Administração), não têm saneamento fiscal e orçamento para nada, portanto, são essenciais também nessa receita. 

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Jogadores profissionais

Ainda tem briga de egos, gente com 50 padrinhos tentado passar por cima de ordem? Sempre vai ter. Mas quem se abraça com o plano de Governo da eleição de 2022, ganha pontos extras por lá. “O trabalho é executar o que está escrito, todo mundo entende que essa é a meta”, resumiu um interlocutor. Como os secretários do primeiro escalão, indicados por Rafael, não vão disputar a eleição estadual de 2026, o cenário é de estabilidade também política: “Já pensou se eles fossem se candidatar? Seria uma instabilidade muito grande”, comentou um gestor estadual à coluna. Mas e em 2030? “Bom, aí é outro jogo...”. É verdade: só pode jogar pôquer quem está dentro e sabe as regras, não é leitor?

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Dança das cadeiras na Alepi

Nem suplente, nem deputado: deputado licenciado, soa melhor? É que o coordenador da Coordenadoria de Combate às Drogas e Fomento ao Lazer, Tiago Vasconcelos (MDB), assumirá na quarta-feira, 24, uma cadeira na Assembleia Legislativa. Fica no lugar da deputada Ana Paula (MDB), que vai tirar 120 dias de licença (o filho, Daniel Carvalho, disputa para vereador no MDB). 

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Tiago entra, mas sai. Vanessa fica

Mas Tiago nem vai ficar para assistir uma sessão. Pede licença também e quem assume é a suplente seguinte, Vanessa Tapety. Tiago já tem acordo em Oeiras para deputado em 2026 com Ícaro Carvalho (filho do ex-deputado Assis Carvalho). Será que tem a ver? De todo modo, caso Pablo Santos (MDB) seja eleito como prefeito em Picos este ano, Tiago senta de vez, como efetivo, em 2025. Paciência é tudo!

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Sai Graça e entra Victor

Já na Câmara de Teresina, sai Graça Amorim (PRD) e entra Victor Linhares (PP). A decisão surpreendeu a turma do Direito e é um ponto para o grupo de Ciro Nogueira, de quem Victor é próximo. No último entendimento jurídico, a janela para o titular do mandato era a mesma para o suplente. O TRE-PI entendeu diferente. Cabe recurso ao TSE, mas sem efeito suspensivo automático, ou seja, Graça recorre fora do cargo. Uma baixa sentida no PRD, partido do prefeito Dr.Pessoa, que já sofreu com a defecção de Markim Costa na semana passada. A sigla passa a ter perspectiva de eleger três vereadores e não quatro.

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Linha de tiro

Qual a repercussão da carta aberta de Dr. Pessoa, em que o prefeito denuncia ataques e boicotes “de uma elite apodrecida” e diz temer sofrer ataques físicos? A turma que frequenta rodas de decisão preferia outro “time” (momento) e sem a inclusão da assinatura da primeira-dama, Samara Conceição. Foram vencidos. Mas, as duras palavras de Pessoa também não deixam de ser um ataque preventivo? Ou seja, enquadram a narrativa de defesa da campanha dele no preconceito sofrido pela origem social, mandam recados e trazem para o jogo as autoridades judiciais, instadas pelo prefeito a se manifestarem. Xeque?

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Do Império Romano, para você

Retirado de um pequeno panfleto de campanha eleitoral de 21 séculos atrás, feito para o famoso orador Marco Túlio Cícero eleger-se cônsul (um tipo de magistrado supremo do Senado romano), e assinado por seu irmão, Quinto Túlio Cícero: 

  1. “Você sempre deve pensar em divulgação pública com bastante rumor”.
  2. “Se um candidato fizer apenas promessas que tem certeza de poder cumprir, ele não terá muitos eleitores. Promessas quebradas se perdem em meio a circunstâncias nebulosas, de tal modo que a raiva contra você será mínima”.
  3. “A política é cheia de falsidade, traição e má-fé. Sua boa natureza do passado levou alguns homens a fingirem amizade, enquanto, na verdade, eles estavam com ciúmes, por isso, lembre-se das sábias palavras de Epicharmeion: ‘Não confie nas pessoas com muita facilidade’”. 

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A gente não abre nem pra um trem

Que recesso, que nada! Registro dos deputados federais Merlong Solano (PT), Florentino Neto, Flávio Nogueira e Dr. Francisco (online), com os dirigentes do PT estadual, João de Deus e Pedro Calisto. Pauta: articular atuação da bancada federal nas eleições municipais. Recado aos desavisados e à turma de olho em 26: a meta dos federais petistas é ampliar suas bases na capital e no interior. O PT tem hoje 50 prefeitos eleitos no Piauí e quer chegar a 70. Vereadores, passam de 1800 candidatos. Eles não param!

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Se conselho fosse bom

Você deve sim se importar com o que as pessoas pensam e falam sobre você. Não por questões psicológicas (necessidade de validação é uma fraqueza a ser evitada) e sim para analisar cenários e evitar obstáculos. Os inimigos nunca são óbvios ou autodeclarados. Se você decidiu ter uma vida pública, os insultos devem ter zero efeito no seu estado mental. Se estiver no meio dos holofotes, lute contra a vontade de mostrar o quanto sua vida é perfeita. Faça o contrário: deixe pistas falsas sobre dificuldades e falhas inofensivas para disfarçar sua capacidade real. Quanto menos souberem sobre seu eu verdadeiro, mais protegido você está.

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Cifrada das Tesouradas

Quando senta junto para comer um franguinho ou um bom caranguejo, a elite da elite política (e empresarial) do Piauí não perdoa ninguém. Quanto mais informal o papo (de futebol às fofocas da vida de cada um), melhor. Vez ou outra, pincelam uma de política. Sobrou para um deputado estadual sênior, que foi tesourado pelos estrelados que andam de mochila. A coluna questionou a um dos presentes o motivo da birra. Resposta: “Ninguém suporta ele, porque ele é um chato, amargurado. Não consegue dar atenção pro povo dele e fica pressionando todo mundo!”. Ihhh, gente...

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Foto do dia

Se tudo se mantiver, deve ser anunciado nos próximos dias (deve!) como candidato a presidente da situação na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-PI), o professor e ex-procurador geral de Teresina, Aurélio Lobão. Na oposição, o nome já está definido, é o do advogado Raimundo Júnior, que travou uma disputa acirrada contra o atual presidente Celso Barros Neto há dois anos. Segundo fontes que transitam bem no meio da advocacia, um nome de consenso como o de Aurélio (que pontua melhor e tem menos rejeição nas pesquisas internas que a coluna teve acesso) consolida a estratégia de Celso Neto para unir o grupo. Essa eleição de grandes players do Direito costuma ser tão intensa quanto o pleito municipal. A conferir!

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A frase para pensar

“Nem mesmo Deus conseguiria afundar esse navio”, Edward Smith, capitão do Titanic. Horas depois, quando o navio atingiu o iceberg, virou para o primeiro comissário, John Hardy: “Acho que ele [o Titanic] já era, Hardy”.