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"Excluir outros tipos de família é violência simbólica", diz pesquisadora

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O projeto que veda a distribuição de material didático com conteúdo de gênero na rede pública municipal de ensino em Teresina é uma violência simbólica com as crianças. É o que defende o Grupo de Estudos Sexualidade, corpo e gênero (SexGen). Em entrevista ao Jornal do Piauí desta terça-feira (29), as pesquisadoras Clarissa Carvalho e Ana Carolina Fortes afirmaram que a Câmara Municipal de Teresina demonstra ignorância sobre o tema.

"Nada do que eles estão falando se trata de teoria de gênero. Tem uma série de absurdos teóricos que quero acreditar que se trata de falta de conhecimento, mas me parece que é deslealdade mesmo", explicou a pesquisadora, mestre em Antropologia, Clarissa Carvalho.

Para a autora do projeto, a vereadora Cida Santiago (PHS), a decisão de abordar o tema deve ficar a cargo dos pais, deixando que a escola continue educando com o modelo tradicional. "Os livros estão sendo implantados sem consentimento dos pais. O que nós vamos acrescentar no projeto é isso. Cabe aos pais decidirem a educação moral e sexual dos seus filhos. Vai competir a eles que querem ou não adotar esses livros", afirmou.

No entanto, a pesquisadora do SexGen acredita que discutir educar as crianças sobre o tema é fundamental. "As crianças estão vivendo isso. E os filhos de outros tipos de família, que estiverem em sala de aula e não se sentirem representados nos livros, isso não é uma violência simbólica, invisibilizar essas crianças?", questiona Clarissa Carvalho.

Sobre a acusação de que o tema contribui para a desconstrução da família tradicional a pesquisadora rebate: "Existe uma família tradicional? Está desconstruindo? Está se impedindo que homem e mulher não constituam família em algum comento ou está se dizendo que deve se incluir todos os tipos de família? Desconstruir seria dizer que não existe mais família de homem, mulher e filhos, isso não existe. Está se dizendo que é preciso que se inclua todos os tipos de família".

Para a advogada Ana Carolina Fortes, também membro do SexGen, o projeto é uma forma de censura prejudicial a sociedade. "O que acontece é a repetição de um equivoco. Toda vez que se fala em teoria de gênero as pessoas fazem uma interpretação restritiva como se isso fizesse respeito apenas à mulher e a comunidade LGBT, o que a gente esquece é que até mesmo os homens estão incluídos nisso", pontua.

A pesquisadora explica que os padrões de gênero coíbem a liberdade dos indivíduos independente do sexo e da sexualidade. "É comum a gente perceber homens reclamando que não podem expressar seus sentimentos ou chorar, que não podem desempenhar atividades que tradicionalmente são associadas a mulheres, como a dança. Essas pequenas coisas na verdade são grandes violências para quem se coloca a parte disso, para quem tem seu direito de agir livremente silenciado", finaliza Ana Carolina Fortes.

Lucas Marreiros (Especial para o Cidadeverde.com)
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