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Contabilidade - José Corsino

Empreendedores querem lançar nova bolsa de valores

Nova Bolsa de Valores no Brasil poderá usar Blockchain | Livecoins

 

Com a taxa Selic em seu menor patamar histórico, a renda fixa já não é mais suficiente para atender à demanda de retorno dos investidores brasileiros. Com isso, o número de pessoas físicas disparou na B3 desde o ano passado. Em julho deste ano, eram 2,8 milhões — no começo de 2019, eram pouco mais de 800 mil.

É neste contexto que os empreendedores do Banco Maré querem criar uma nova bolsa de valores no país, encerrando um longo monopólio da B3, porém com um enfoque diferente: startups de impacto social e ambiental. A ideia é democratizar o acesso à renda variável e facilitar o financiamento de empresas que têm dificuldade de conseguir aportes de investidores anjo.

O Banco Maré é uma fintech que surgiu como plataforma de investimentos em 2016 no Complexo da Maré, no Rio, para levar serviços financeiros a uma população marginalizada pelos grandes bancos. Em quatro anos, o número de clientes ativos já ultrapassa os 37 mil. Eles podem fazer pagamentos, depósitos e compras utilizando a Palafita, a moeda digital do banco.

“Nós sabemos o quão difícil é para uma startup de impacto social se capitalizar. Isso é algo muito mais fácil no exterior, onde há uma preocupação muito maior com sustentabilidade [ESG] do que aqui”, disse Alexander Albuquerque, co-fundador do Banco Maré. “Tivemos poucos investidores no Brasil, os principais vieram do exterior. Nos Estados Unidos, 40% dos investidores investem em empresas de impacto.”

“Quando você é uma startup, você tem que falar com todo mundo. Mas quando você diz que é uma startup de impacto, já tem gente [investidores] que não querem falar contigo. Quando você fala que é uma startup de impacto social numa favela e que ainda no setor financeiro, nem sua mãe quer falar com você”, brincou o CEO do Banco Maré.

Eduardo Baumel, CEO da futura bolsa, acredita que a pandemia de Covid-19 evidenciou a importância do investimento de impacto. Segundo ele, a ideia é atrair pequenos doadores para transformá-los em sócios de empresas que geram retorno para eles próprios e suas comunidades.

“Uma startup que atua em favelas, ao crescer contrata mais funcionários locais e faz a economia girar dentro da comunidade. É um dinheiro que, a médio e longo prazos, oferece retorno individual para o investidor e ao mesmo tempo acaba beneficiando toda a sociedade”, disse.

(bvm:)12

A nova bolsa será chamada de (bvm:)12 — bolsa de valores do Maré — e terá sua sede no Rio de Janeiro, próxima ao aeroporto Santos Dummont, mas os empreendedores querem abrir uma filial em Nova York, nos Estados Unidos, no ano que vem. O 12 no nome é uma referência ao seu principal índice, que terá ações de 12 companhias que já demonstraram interesse em ter papéis listados — sendo duas da África, uma da Índia, uma da Colômbia e as demais, brasileiras.

“Primeiro vamos colocar as empresas brasileiras e só depois as estrangeiras, até porque a CVM [Comissão de Valores Mobiliários, órgão regulador do mercado de capitais no Brasil] tem que orientar como devemos fazer isso”, disse Baumel. A expectativa do CEO da (bvm:)12 é de que ela comece a funcionar ainda neste ano e possa atrair cerca de 150 mil investidores logo no início das operações.

Mas isso vai depender da CVM, já que a (bvm:)12 pretende se enquadrar nas regras do sandbox anunciadas pelo órgão regulador em maio (Instrução 626). Muito comum no exterior, o sandbox é um ambiente de testes controlado e supervisionado pela CVM para que empresas possam inovar no mercado de capitais com segurança. Era uma demanda antiga do mercado que só começou a sair do papel no Brasil agora — em ritmo lento.

 

Como a nova bolsa vai funcionar

A expectativa dos empreendedores é que a moeda de negociação da nova bolsa — como os investidores vão comprar e vender ações — será a Palafita, a moeda digital já utilizada no Banco Maré. Não será preciso ser cliente da fintech para investir, mas quem já tiver conta nela terá o cadastro facilitado na (bvm:)12.

As regras de cadastro, assim como os detalhes de negociação e estruturação da nova bolsa serão definidos em conjunto com a CVM, caso o projeto seja aprovado para o sandbox. Os empreendedores querem simplificar o investimento em bolsa, mas, claro, sem abrir mão da segurança de todos os envolvidos.

As startups que quiserem ser listadas na (bvm:)12 vão precisar ter sido aceleradas por um dos parceiros da nova bolsa, como a Artemisia ou a Estação Hack, projeto de aceleração do Facebook. “Assim garantimos já terem ter sido feitos um primeiro levantamento de dados e uma análise da contabilidade da empresa. São fatores que garantem um selo de qualidade”, disse Baumel.

Sandbox regulatório

A Instrução CVM 626, que regulamenta a constituição e o funcionamento do sandbox regulatório no Brasil, foi publicada pela CVM em 15 de maio deste ano. A iniciativa, segundo o órgão regulador, visa a fomentar o empreendedorismo e o desenvolvimento do mercado de capitais brasileiro por meio da criação de um ambiente regulatório experimental, em que as entidades participantes possam testar modelos de negócio inovadores em atividades regulamentadas pela CVM.

O participante admitido no sandbox receberá autorização temporária da CVM para desenvolver seu modelo de negócio inovador, e poderá receber dispensas de requisitos regulatórios para reduzir o ônus da conformidade com as regras vigentes estabelecidas pela autarquia.

Em contrapartida, serão estabelecidas condições e limites à atuação do participante, bem como salvaguardas para mitigar riscos identificados, de modo a assegurar o bom funcionamento do mercado e a proteger clientes e demais partes interessadas. Além disso, o participante será continuamente monitorado pela CVM.

Fonte: InfoMoney

 
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