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Ser humano: a essência além da IA

 

*Por Prof. Carvalho Neto

 

No início da Quarta Revolução Industrial, assistimos à ascensão da inteligência artificial (IA) com admiração e, por vezes, inquietação. À medida que as máquinas de inteligência artificial diagnosticam doenças com uma precisão sobre-humana e os carros autônomos percorrem as ruas e aprendem com cada viagem, surge uma questão fundamental: o que realmente significa ser humano em uma era dominada pela IA?

O Humanismo e a Busca da Excelência

A resposta pode estar menos nas diferenças de capacidade e mais na compreensão da essência que nos caracteriza. O humanismo, com sua busca incansável pela excelência, evidencia essa essência. Excelência não apenas em façanhas ou em realizações tangíveis, mas também na contínua melhoria do caráter, na expansão da compaixão e na prática constante da moderação, o equilíbrio que nos protege do excesso e da vaidade.

O Autoconhecimento e o Racionalismo

No âmbito do autoconhecimento, exploramos o eu interior e abraçamos a capacidade de autocrítica construtiva. A IA, embora possa analisar dados sobre nossos comportamentos, carece da habilidade de introspecção, de ponderar sobre seus próprios processos e existência. O racionalismo, entrelaçado com o autoconhecimento, guia-nos na procura de respostas que nos permitam distinguir entre o que é sensato e o que é pura ilusão, e o que é conhecimento e crença.

A Curiosidade Incansável e o Amor à Liberdade

Nossa curiosidade incansável nos leva a questionar o status quo, a explorar o desconhecido e a inovar. Essa é uma dimensão onde a IA nos serve como ferramenta, mas a chama da curiosidade é genuinamente humana. O amor à liberdade, outro pilar inabalável da humanidade, se expressa no desejo de explorar, de escolher, e de expressar nossa verdade única. A liberdade é o sustentáculo sobre o qual construímos as nossas vidas, fazemos escolhas e delineamos os nossos destinos.

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O Individualismo e a Arte da Conexão

Por fim, o individualismo não se refere a um isolacionismo frio, mas ao valor único que cada pessoa traz para o tecido da sociedade. Embora a IA possa significar personalização, somos nós que experimentamos a singularidade de cada ser, o direito à autodeterminação e a contribuição única de cada pessoa para o enriquecimento da humanidade.

A essência humana se manifesta não somente na habilidade de pensar, mas no sentir profundo, na compaixão, na criatividade que não nasce de padrões, mas da vivência e do irracional.

A IA, por mais avançada, opera através de algoritmos, aprendizado de máquina e redes neurais artificiais, tentando simular processos cognitivos humanos. Ela pode compor uma peça musical ou criar uma obra de arte, mas faltam-lhe as experiências subjetivas — a alegria pungente de um compositor ao criar uma melodia, a dor e o prazer que acompanham o pincel de um pintor.

Essas experiências subjetivas humanas formam a base da empatia. Empatia vai além do reconhecimento das emoções: é a capacidade de sentir com o outro. É o consolo numa mão estendida, a lágrima compartilhada, a alegria multiplicada. A IA pode imitar comportamentos empáticos, mas sem a vivência emocional que autentica essas ações, é como um eco sem voz própria.

No cerne da essência humana, também encontramos a consciência e a autoconsciência. Não apenas entendemos o mundo que nos rodeia, mas também nos entendemos dentro desse mundo. Questionamos nossa existência, propósito e legado, algo que a IA não possui. Podemos ensinar uma máquina a reconhecer padrões e até prever necessidades, mas não a ponderar sobre sua própria existência.

Outro pilar é a nossa capacidade de criar e apreciar a beleza em suas múltiplas formas. O valor da arte não está somente na sua estética, mas no significado que ela carrega, na história que ela conta e na conexão emocional que ela estabelece. A IA pode criar obras "belas", mas lhe escapa a intenção, o contexto, a memória emocional que dá profundidade à beleza.

A ética e os valores morais são, ainda, exclusivamente humanos. As máquinas operam segundo a lógica e a eficiência, enquanto nós tomamos decisões baseadas também em crenças, cultura, compaixão e justiça. A capacidade de perdoar, de atuar com altruísmo e de escolher o certo em detrimento do fácil são atos intrinsecamente humanos.

Em uma era onde a IA está permeando cada aspecto da nossa existência, faz-se imperativo reafirmar a singularidade da experiência humana. Enquanto devemos abraçar as maravilhas da tecnologia, não podemos nos esquecer daquilo que nos faz humanos. Precisamos de uma simbiose onde a IA amplia nossas capacidades sem substituir a nossa essência.

A verdadeira interrogação que se impõe é como equilibrar este avanço tecnológico com a preservação e o cultivo das qualidades que nos definem. Ao término, talvez a mais importante tarefa da IA seja nos auxiliar a compreender e a apreciar a complexidade, a beleza e a profundidade do ser humano.

Enquanto navegamos neste novo mundo, a tecnologia deve ser uma extensão da nossa humanidade, não um substituto. O futuro promissor será aquele em que a IA e a essência humana coexistirão, onde a tecnologia servirá para realçar e não obscurecer o que nos torna verdadeiramente humanos. É nesta harmonia que repousa o segredo de um avanço que enaltece e não diminui a condição humana.

Referência bibliográfica:

BERTMAN, Stephen. Os oito pilares da sabedoria grega. Tradução de Maria Luiza Newlands. Rio de Janeiro: Sextante, 2011.

 

*José Carvalho da Silva Neto

Analista Pesquisador/SEPLAN-PI (desde 1983). Lotado na SEMARH-PI. 40 anos de experiência em gestão, controladoria e liderança. Professor de graduação e pós-graduação (1987-2017). Diretor-geral TCE-PI (1990-1994). Publicou 18 livros na área de orçamento, finanças, contabilidade e controladoria (esgotados). Atualmente, concentra estudos em governança e gestão, neurociências e comportamento, comunicação e sociedade 5.0 e inteligência artificial para negócios.

 

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