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Elvira & Júlia

Coluna 06/04/2020

Piauienses contam como enfrentam a quarentena em países como Portugal, Espanha e Suiça

Cinco entrevistados compartilharam suas experiências de isolamento fora do Brasil

Desde dezembro, a pandemia do Covid-19, o novo coronavírus, tem se espalhado pelo mundo levando medo e insegurança para todos os lugares. Para tentar barrar esse avanço, muitos governos determinaram quarentena em seus territórios, proibindo a circulação de pessoas e definindo o fechamento de estabelecimentos com serviços não essenciais. Enquanto em certos países o ritmo de crescimento da doença finalmente diminuiu e em outros territórios, o pico de contaminação foi atingido agora, no Brasil a "guerra" contra o vírus apenas começou. Infelizmente, muitos brasileiros não estão levando o isolamento a sério.
Por isso, a Coluna Elvira & Júlia decidiu entrevistar piauienses que residem no estrangeiro para falar um pouco sobre a situação em seus países, além de fornecerem um pequeno conselho para evitar tanto desastre no Brasil. 

Marta Vasconcelos - Lisboa, Portugal.
Marta Vasconcelos passou a morar em Lisboa em dezembro de 2019, com o intuito de fazer mestrado em Turismo pela Universidade Lusófona. "Naquela época, jamais imaginei passar por tudo isso que o mundo inteiro tem passado", diz Marta. 
Há pouco mais de 1 mês, as autoridades de Portugal começaram a alarmar a população, pois o coronavírus já havia avançado na Itália. "Logo no início, minhas aulas foram suspensas e pouco tempo depois o presidente Marcelo Rebelo decretou estado de emergência aqui no país", conta. 
Marta, por ser bastante ativa e nunca ter morado fora de Teresina, além de, durante toda a vida, sempre ter estado cercada de familiares, amigos e trabalho, afirma que essa é uma experiência completamente diferente de tudo que já viveu: "Estou em um país novo, onde não conheço muita gente e não tenho nenhum familiar, buscando ter uma inteligência emocional para lidar com essa situação. Se o pessoal acha difícil enfrentar esse momento acompanhado daqueles que fazem parte de seu núcleo familiar, avalie como é tudo isso para quem está sozinho". 
Com a experiência que adquire em Portugal, a administradora tenta contribuir dando depoimentos em suas redes sociais. "Querendo ou não, estou um pouco à frente, já que a doença chegou primeiro aqui do que no Brasil. Infelizmente há quem ainda não consiga entender a importância do isolamento e eu tento ensinar com o que vivo". 

"Fico bem triste com quem infelizmente não conseguiu sobreviver, mas, mesmo estando apreensiva, tento me manter forte e emanar boas energias para o restante do planeta, pois acredito que esse momento, ainda mais diante da quaresma, não veio à toa e sim como lição. Eu acredito que há uma mensagem muito grande por trás do Covid-19 e em torno de tudo isso que tem acontecido no mundo. Agora, precisamos parar, pensar e fazer a nossa parte, não só com o recolhimento ou tomando as devidas precauções, mas em oração e entendendo que, na verdade, a humanidade é que estava doente e precisando de uma pausa. O mundo não será mais o mesmo quando tudo isso passar". 

Karlos Wendell - Lisboa, Portugal. 
Karlos Wendell, que também assiste em Lisboa, deu um pequeno depoimento sobre a situação do país. "Sinto muito medo, pois não sei o que será do amanhã. Aqui, tudo está parado. A quarentena tem sido levada a sério, até porquê quando não é, a polícia entra em ação". Como trabalhador independente, o cabelereiro teme uma quebra gigantesca da economia, mas defende a permanência em isolamento. "Antes falido do que falecido", diz Karlos. 

Karlos tenta não focar nos pontos negativos e sim, no humor. "Estou enfiado em casa sem poder exercer minha profissão no salão e o que resta é pentear as minhas cachorras e os meus papagaios". 

Thesca Monteiro - Zurique, Suiça. 
Thesca Monteiro destaca que a Suíça tem muitas qualidades. "Existe a vantagem das pessoas serem obedientes e respeitarem as regras que são impostas pelo Governo. Além disso, tem também a vantagem da Suíça ser um país pequeno, logo, mais fácil de lidar. Por exemplo, as autoridades vão liberar uma verba para os trabalhadores autônomos que estão sem ganhar e com dificuldades para se manter", declara. 
Mesmo com tudo isso, a assistente cirúrgica ressalta que passar por essa situação não é algo fácil: "O mundo parou. O que devemos fazer nesse momento é rezar para que tudo melhore e seguir as restrições para evitar que a doença se propague". 

Como assistente cirúrgica, Thesca faz parte de um dos grupos que não podem ficar em quarentena. "Nós, profissionais envolvidos com a área da saúde, temos trabalhado bastante por aqui. Estamos super preocupados e tomando todos os cuidados para se proteger ao máximo", conta. 

Anderson Pinheiro - Paris, França. 
Anderson Pinheiro conta que no começo, assim que a França anunciou o confinamento, muitas pessoas foram em massa aos supermercados e fugiram de seus pequenos apartamentos para casas de campo. Ele, por sua vez, continua em Paris. "Saio de casa somente para comprar o essencial em horários onde eu sei que cruzarei com poucas pessoas, por segurança. Viaturas da polícia e drones monitoram as ruas para que as pessoas permaneçam em casa".

"Quem está aqui sente mais de perto a dor dos que perdem amigos, familiares e colegas de trabalho". Imerso nesse sentimento de tristeza e vendo de perto o caos de um país que já ultrapassou 4 mil mortes por coronavírus, Anderson acha que o confinamento é hoje a melhor arma pra combater a propagação da doença. "A mensagem que eu deixo é: Fiquem em casa", diz o piauiense. 

João Pinheiro - Valência, Espanha. 
"De forma geral, tristeza. É medo de morrer ou perder alguém querido. É preocupação com o emprego ou ir à quebra. É receio com a escassez de alimentos". Esses são alguns dos sentimentos manifestados pela população espanhola, segundo o piauiense João Pinheiro. O país superou 130 mil infectados e mesmo que um pouco tarde, tendo em vista o número de mortes, João conta que não observa mais rejeição à difícil medida que foi adotada: "A população tem se apresentado mais consciente sobre a importância da quarentena para frear o contágio. A união foi trasmitida inclusive entre rivais políticos, que deixaram de lado quaisquer diferenças, para juntos lutarem nesta guerra que já matou 13 mil pessoas na Espanha". 

"Assim como observo o medo, também vejo os pontos positivos. Aqui existe coragem, resistência, solidariedade, força e superação. Queremos passar por essa crise sanitária e a única coisa que nos pedem é que fiquemos em casa. Esse é o nosso papel nesta batalha. Muito mais tem se pedido aos que lutam na linha de frente. Parabenizo os policiais, os bombeiros, os porteiros, os empregados em supermercados, os farmacêuticos, etc. Cito especialmente os profissionais da saúde, que além da exposição ao Covid-19, lidam diretamente com o drama emocional e psicológico de ver tantas pessoas morrerem sem sequer ter entes queridos por perto". Na Espanha, o reconhecimento desses profissionais é tanto que todos os dias, às 20h, são dedicados vários aplausos. "O objetivo do isolamento social, além de nos proteger e proteger às pessoas que amamos, é, também, proteger o sistema de saúde de enfrentar um colapso. Fiquem em casa!", diz. 
Por lá, João também conta que o hit de 1988 da dupla Dúo Dinámico voltou 'à baila' e virou hino na luta contra o coronavírus. 
E é com um trecho dessa música que finalizo a coluna de hoje... 

"Resistirei, para seguir vivendo;
Suportarei os golpes e jamais vou me render;
E mesmo que os meus sonhos se desfaçam em pedaços, resistirei e resistirei".

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