Com 15 produtores, três intérpretes convidados e cinco compositores parceiros, o novo álbum de Zeca Baleiro, “Disco do ano”, é uma ode à camaradagem. O cantor chamou músicos e amigos que admira e fez seu nono trabalho a dezenas de mãos.
Zeca não nega o temor inicial ao optar por inovar e lançar um disco cheio de bedelhos. “Tive receio, mas acho que todos os meus discos são um pouco esquizofrênicos. Já perdi o medo.” Para ele, o álbum tem unidade e é uma produção tão sua quanto as demais. “Minha identidade está lá da mesma maneira. As participações não mudam nada.”
![](http://www.cidadeverde.com/noticias/editor/assets/img56/carlos/zecab2.jpg)
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Desde 2008 sem dar ao mercado um trabalho de inéditas, Zeca foi armazenando material ao longo dos anos até sentir que tinha um conjunto de canções interessante para gravar. A produção loteada priorizou os músicos da banda e demais amigos conquistados ao longo da carreira. “Os rapazes da banda estão comigo há muito tempo e são ótimos produtores, queria ser produzido por eles. Tem muita gente boa e, ainda assim, ficaram pessoas interessantes de fora. Quem sabe não repito a estratégia no próximo álbum?”
Os selecionados
Nos vocais, o cantor divide os microfones com Margareth Menezes, no reggae romântico “Último post”. Fã da cantora - definida por ele como “a mais adorável das baianas", o duo era um projeto antigo.
No rap “O desejo”, Zeca Baleiro insiste na parceria com Chorão, de quem já regravou “Proibida pra mim” – escolha que o fez ser massacrado pela imprensa, segundo suas recordações. “Na época em que gravei a música deles eu fui muito criticado. Eles eram infames mesmo, mas eu gostava da música e queria fazer uma releitura. Fui incompreendido. Hoje eles têm mais maturidade e talvez sejam a única banda rock em atividade no Brasil.”
Emicida foi cotado para a mesma vaga, mas por ser figura recorrente em parcerias, Zeca achou melhor deixar para uma outra oportunidade. “Embora eu goste muito dos trabalhos do Emicida, neste momento, ele é alvo de muitas parcerias. O Chorão entende de rap, e é um cara que eu admiro. Somos amigos de encontros em aeroportos. Ele deu trabalho para decorar a letra, demorou pra gravar, mas o resultado foi ótimo."
Andreia, cantora da nova safra de MPB, completa a trinca de intérpretes presentes no disco. Nas composições, ele reedita uma antiga parceria com Frejat (“Nada além), e outra com Hylton (“Calma ai coração”) – as únicas que não são inéditas. Kana, uma japonesa radicada no Brasil, a poetisa Lúcia Santos, e o músico e compositor Wado também participam do “Disco do ano”.
Desabafos
O nome do novo trabalho é uma sátira a indústria cultural. Zeca rechaça os rankings musicais na canção "Mamãe no face." As demais mantêm o tema de amor, relacionamentos e análises do cotidiano presentes nos antigos trabalhos do artista.
Embora dê de ombros às criticas e não tenha a pretensão de encabeçar a lista dos discos do ano, ele condena as injustiças provocadas pelos formadores de opinião.
“Não faço parte dessas listas e já estou acostumado com isso. Nunca quis ser uma unanimidade, mas não gosto de injustiças e desconfio dos critérios dessas listas. Eu queria provocar os formadores de opinião, as pessoas abelhudas, e questionar essas eleições.”
Durante o show, outra estilingada em forma de canção pode render a Zeca Baleiro um lugar nos top 10. Em “Funk da lama”, o alvo são as músicas coreografadas. “Eu sinto que brasileiro gosta de uma coreografia. Não queria ficar pra trás, por isso, fiz essa canção”, disse Zeca durante show para imprensa e convidados no HSBC, em São Paulo, no dia 16 de abril.
Tanto a letra engraçadinha quanto a dança – que mistura passos do axé, funk e até a clássica macarena – são de autoria de Zeca Baleiro. Na encenação, os integrantes da banda deixam seus instrumentos e, ao lado do cantor, reproduzem os passinhos. O refrão “Vem, cachorra, nem precisa de cama”, impregna a mente feito “Ai se te pego” e é reproduzido rapidamente pelo público. A música, entretanto, ficou fora do disco e só pode ser ouvida nas gravações feitas pelos fãs e postadas no Youtube - em menos de uma semana da estreia do cantor nos palcos, o site ja soma mais de dez opções de vídeos.
A tecnologia, aliás, está presente não apenas nas canções. Embora avesso às redes sociais, Zeca Baleiro criou um blog no qual dividiu as angústias e alegrias de sua produção em pequenos vídeos. Por meio de votação na internet, os seguidores do cantor também puderam escolher a capa do CD que mais agradava. As três opções de fotos compõe o álbum na ordem em que foram votadas.
Apesar da relação de amor e ódio com a web, Zeca revela intimidade com o meio. Segundo ele, a ideia inicial era fazer do disco uma pen drive e comercializá-la nos shows. O desejo foi adiado após ser seduzido por uma boa proposta da gravadora Som Livre. Embora tenha mudado os planos, ele ainda planeja disponibilizar o álbum completo para download em seu site, como sugere o final da canção “Mamãe no face”: “faz o download e baixa o disco aí. ”
Fonte: G1/MA