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"Aprendi com a vida", diz Hebe Camargo em entrevista

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Ninguém reparou nas comandás, sementes nativas que brotam em abundância na beira da praia de 21 quilômetros e 20 mil coqueiros, e de onde se origina, em tupi, a palavra Comandatuba. De verdade, o que brotava aos borbotões naquela hora era uma certa energia contagiante, sem medida de tempo e de espaço. Uma energia que leva o nome e o sobrenome de Hebe Camargo. O sol das 13 horas no domingo era quente na ilha baiana, a 70 quilômetros de Ilhéus, mas a brisa não deixava arder na pele o calor de 30 graus. A água do mar, morna a 23, 24 graus, era convidativa. Dentro de um caftã verde, maiô por baixo, brincos de brilhante com pedras brasileiras nas orelhas e sapatilhas douradas nos pés.

Hebe abriu o sorriso e apertou os olhos ao avistar o horizonte. Sentada no carrinho que faz o transporte dos hóspedes do hotel Transamérica, ela era levada pelo motorista Danilo, que atravessava a última fileira de coqueiros na fronteira do resort com a praia, para entrar, enfim, no areião a perder de vista. “Praia é vida. Você olha para o mar, essa coisa imensa que não tem fim… É vida sem fim”, divagava ela, no auge de seus 83 anos. “Ter peninha de morrer é isso: não dá pena de perder isso aqui? Olha que beleza!”
Era a sua primeira viagem dois meses após a cirurgia de emergência que retirou do seu intestino um tumor maligno equivalente ao tamanho de uma laranja e, depois dos dias tensos, a deixou dois meses em repouso. Hebe tinha sido convidada pelo empresário João Doria para participar do 11o Fórum empresarial de Comandatuba, que reuniu 300 empresários e autoridades. Ao chegar ao evento, na hora do almoço, ela foi aplaudida de pé. “Senti muita emoção. Eu nunca externo tanto, mas as pessoas vêm correndo, contam que rezaram por mim”, conta. “É bonito saber que alguém que não te conhece pessoalmente rezou por você, pela sua saúde.”

Na praia de areia batida, o carrinho ganhou velocidade. “Que delícia esse passeio!”, disse, enquanto falava da vida, e refletia sobre a morte. “Que ódio desse corpo!”, gritou Hebe para a modelo Marina Sanvicente, que curtia a praia e acenou de longe. Ao pararmos para as fotos, com seu jeito maroto a dama da televisão se ofereceu: “Você quer que eu entre no mar?”. Ela tirou a sapatilha, e, pé na areia, dirigiu-se devagar até a areia molhada. Nas primeiras marolas, Hebe se desequilibrou e soltou uma gargalhada: “Faz muitos, muitos anos que eu não entro no mar”, contou, virando-se de costas enquanto molhava os pés.

Fez as contas com o sobrinho Cláudio Pessuti, também seu empresário, e a mulher dele, a restauranteur Helena Caio, e eles concluíram: fazia dez anos que Hebe não punha os pés na areia e muito menos no mar. Naquela espécie de batismo depois de anos, sugeri que ela se desprendesse e, totalmente livre, também tirasse a peruca que esconde os efeitos da quimioterapia, da qual já está liberada. Mas ali, reagindo com olhos de surpresa, foi fácil enxergar na rainha da alegria um ligeiro e inofensivo pudor protegendo seu legítimo direito à vaidade. “Mas agora?”, Hebe respondeu, com um olhar tristinho – como ela diria. “Eu vou tirar depois. Já tirei da primeira vez que a doença apareceu. Mas ainda não está bonito. O cabelo cresceu só um pouquinho, mas tem uma mecha maior do outro lado.” Desculpou-se, lembrando ainda que uma cola prendia a peruca à cabeça. “Vai doer se eu tirar agora.” Deixamos a sugestão para lá. Pensei: esqueça Hebe, vamos curtir. O momento era tão singular que não precisava de mais nada. Por 15 minutos ou um pouco mais, nos divertimos nas ondas, de roupa e tudo, durante as fotos. O caftã de Hebe molhou inteiro, minha calça jeans ficou ensopada. Um iPhone caiu na água, um disparador de flash molhou e estragou. Nada parecia ter a menor importância.



Fonte: Isto É Gente
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