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Carteiros contam como surgiu o serviço de entregas em Teresina

Em tempo de internet, amigos e parentes em quaisquer partes do mundo conversam como se estivessem lado a lado, mas devemos lembrar que nem sempre foi assim. Muito antes da possibilidade desse encontro virtual, os sentimentos corriam o mundo em envelopes, que transmitiam os mais diversos sentimentos através das letras. Em 2013 os Correios comemoram 350 anos e sua maior referência para a história é a comunicação que passava pelas mãos dos carteiros.


Em 1869, o Departamento de Correios e Telégrafos foi transformado em empresa, ligada ao Ministério das Comunicações. No início, a maior movimentação dos Correios era a carta social. Hoje, as cartas são na maioria comerciais. Mesmo assim, as correspondências representam 30% da receita da empresa e o volume maior de trabalho é na entrega de encomendas, na operação com o banco postal e nos últimos dez anos, no crescente mercado da entrega das compras da internet. Entretanto, ainda no auge das correspondências, muita coisa esquisita chegou a Teresina pelos Correios, como um piano, um carro e até mesmo um cadáver.

Quando a notícia era urgente, a informação era dada por telegrama. Na década de 1960, os 180 mil habitantes de Teresina recebiam em média 30 mil telegramas por mês. Muitos deles foram transcritos pelo seu Pereira, na máquina de código Morse. "Eu nunca achei ninguém que transmitisse mais rápido do que eu, que fazia 50 palavras por minuto. Só encontrei um que topou comigo, um do Estado do Pará", contou.


Seu Pereira afirma que foi o funcionário mais antigo do Brasil. "Eu cansei de ganhar dinheiro para tirar plantão a noite toda. Eu amanhecia o dia com 1.200 telegramas", acrescentou.

O que Seu Pereira recebia era entregue pelos mensageiros, que na época tinham entre 12 e 13 anos. Eles eram chamados de carteirinhos. Naquele tempo, o Ministério do Trabalho emitia uma carteira para menores e o responsável por eles tinha que assinar. "Lá no colégio Diocesano eu tinha vergonha que soubessem que eu entregava telegrama e eu ficava me escondendo. Até que um dia, o padre me pegou e no outro dia, ele me colocou na frente da turma porque eu era o único deles que trabalhava", conta um dos carteirinhos, Felinto. "Foi a primeira vez que eu usei calça comprida. A farda tinha bota e na camisa as iniciais bordadas", lembrou outro carteirinho, Afonso.


Aos poucos os adolescentes começaram a descobrir as vantagens do trabalho, que íam além da independência financeira. "Havia uma identidade com a população. Tinham acesso aos cinemas, tinham reconhecimento. Havia interação com a comunidade", destacou o carteirinha Castro.

Mas, para chegar à glória, eles enfrentavam longos percursos numa árdua missão. A cidade era dividida em seis quadras, zona Sul somavam três delas e a zona Norte somavam outras três. "Eu trabalhava da rua 7 de Setembro até onde a cidade desse", recorda Flinto. Os carteirinhos tinham o mapa de Teresina na cabeça, o que permitia a distribuição com produtividade máxima em menos tempo, apesar das precárias condições de infraestrutura que a capital apresentava.


No final da década de 60, não era apenas o asfalto ruim que dificultava o trabalho dos carteirinhos, mas também a numeração irregular das casas. Foi aí que um deles, Francisco Seabra, resolveu o problema. A cidade foi dividida na avenida Frei Serafim em zonas Norte e Sul. De um lado, só números pares, do outro, só ímpares. Porém, a numeração se repete, e, quando não vem especificada a zona, ainda hoje é necessário contar com a experiência do carteiro.

A base da numeração foi a média de 100 metros que tinha cada quarteirão da planejada Teresina. Daí foi decidido que a cidade começaria no meio do rio Parnaíba. Então, calculou-se a distância até onde começa a área habitada. "A numeração é de Oeste para Leste, e nasce na avenida Maranhão, número 700", explicou Felinto.


Mesmo com o passar do tempo, os Correios mantêm exclusividade na postagem e distribuição de correspondências, mas a disputa com outras prestadoras gerou uma competitividade e exigiu um processo de evolução que é percebido nas atribuições e no perfil dos usuários e colaboradores.

Indira Gomes (TV Cidade Verde)
Jordana Cury (da Redação)
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