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"Caminho em busca de Deus. Aqui, me sinto igual a todos”, diz usuário de drogas

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Meio tímido, com olhar perdido e a passos firmes, Francisco Moreira, 37 anos, caminhava silenciosamente neste domingo (10/06) na avenida Frei Serafim. Aproximo-me. Ele desconfiado me olha de canto de olho; tento me justificar: “Estou fazendo matéria sobre a caminhada, você pode falar?” Para minha alegria, ele abre um sorriso e diz: “caminho em busca de Deus. Aqui, não me sinto excluído, me sinto igual a todos”, diz Francisco.

Fotos: Thiago Amaral

Há dois meses na Fazenda da Paz, entidade que trata pessoas com dependência química, Francisco Moreira diz que ao entrar no mundo das drogas o usuário perde totalmente a noção de família, religião e fé.

“A gente passa por tantas dificuldades, e, na caminhada, a gente faz uma reflexão e recebe energias positivas”. Francisco relata que estava acompanhado na caminhada de 60 dependentes da Fazenda da Paz.


Usuários de drogas, portadores de HIV, doentes, jovens ou crianças, a Caminhada da Fraternidade une todos em uma só luta: a de ajudar o mais próximo. Uma multidão de mais de 50 mil pessoas aglomerou-se na 17ª Caminhada que debateu o tema da saúde.



Dois metros à frente do grupo da Fazenda da Paz, o médico cardiologista José Itamar Abreu Costa avisa aos caminhantes: “caminhar faz bem à saúde. O homem é um ser bípede e a caminhada aqui é pela alma, pela solidariedade; e é um encontro entre as famílias”, disse.


 Fugiu para caminhar

A aposentada Raimunda Rosa Farias Couto, 88 anos, fez uma revelação ao passar pela ponte Juscelino Kubitschek. “A primeira vez que vim à caminhada em 2001 foi escondida”. Dona Raimunda mora no residencial Giovane Prado, no bairro Vale Quem Tem. Ela disse que desejava muito participar da caminhada, mas sua filha, com medo, a proibiu. “Ela dizia que era longe, pra eu não ir, com medo da minha saúde. Peguei o dinheiro do vale-transporte e o da água e fiz toda a caminhada. De lá pra cá nunca mais perdi uma caminhada”.

Fotos: Yala Sena

Quem não deixa de participar também é a avó Nazaré Leal, que levou os netos Artur, 3 anos, Flávia, 5 anos e Maria Fernanda, de quatro meses de vida. Ela diz ser "preciso criar a cultura da solidariedade e de ajuda aos mais necessitados”.   

Durante a caminhada, me deparo com um grupo de jovens com a faixa: “Jovens, anjos servidores do senhor, caminhando em busca da paz”. Segurando a mensagem estavam as estudantes Brenda Alves de Carvalho, 14 anos e Rauena Suelen Gonçalves de Sousa, 14 anos. “A nossa missão é ajudar os mais próximos e as entidades beneficentes da igreja. Por isso estamos aqui”.


Foram mais de 5km de percurso ao som de músicas e uma “onda branca”, já que todos estavam vestidos em camisetas brancas, símbolo da caminhada.  

Ao finalizar, me deparo com a catadora de lixo, Maria Araújo, 46 anos, que segurava um terço gigante nas mãos. “Rezo pedindo proteção para os jovens usuários de droga e em busca de paz e esperança”, disse elevando as mãos para o Céu. 



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Flash Yala Sena
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