A ministra da Cultura, Marta Suplicy, tem comemorado a sanção do projeto que cria o Vale Cultura, que deve começar a vigorar no início do segundo semestre. O trabalhador terá recursos para investir em atividades culturais. No entanto, um estudo da Fundação Perseu Abramo, do Partido dos Trabalhadores, da mesma ministra, dá margens a um questionamento: onde esse dinheiro vai ser gasto?

O estudo "Exclusão nos equipamentos culturais e potencial do Vale Cultura no Brasil", divulgado em março, aponta a necessidade de investimento em teatros, cinemas, bibliotecas, enfim. Faltam equipamentos para o trabalhador fazer uso do novo benefício, que será de R$ 50 para quem tenha até cinco salários mínimos. E o Piauí apresenta alguns dos piores resultados no levantamento da fundação petista. 

O levantamento foi feito com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e ministérios. Os dados mostram que em 2011 o Piauí tinha 90,5% dos trabalhadores com remuneração mensal de até cinco salários mínimos, o que significa um grande número de futuros beneficiados com o Vale Cultura. Porém, o mesmo estudo apontou que os equipamentos culturais estão concentrados nas áreas mais ricas. 

Números de 2009 do IBGE mostram o grau de exclusão dos municípios para o acesso a equipamentos culturais. No Piauí, alguns percentuais são altos. A falta de acesso a teatros ou sala de espetáculo chegava a 94,6%, perdendo apenas para o Tocantins. A carência também atinge cinemas (98,2%), museus (87,1%), centros culturais (84,4%), shoppings (99,6%) e livrarias (92,4%).

O resultado menos ruim registrado diz respeito a bibliotecas públicas (14,7%). Mesmo assim, o percentual deixa o Piauí na quinta posição entre os que propiciam menor acesso a leitura gratuita. 

Em geral, a situação brasileira é de carência nos equipamentos culturais. Em 2009, 91% dos municípios não possuía cinema, sendo o percentual no Nordeste de 95,5%. Só um quinto das cidades brasileiras era dotada de teatro ou sala de espetáculos. O percentual do sem museus chega a quase 77%.

Na avaliação da Fundação Perseu Abramo, a inclusão do Vale Cultura vai estimular o surgimento de novos equipamentos públicos onde a demanda será criada e faltam espaços para o uso do recurso. 

Em entrevista, a ministra Marta Suplicy levou a questão para os municípios. “Acredito que todo o prefeito deveria ter a preocupação de não deixar os seus cinemas fecharem, de levar livrarias [para o município], de ter uma análise do que tem de produção cultural na cidade”.