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Autor de livro sobre a Kiss retira trechos

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Responsável pela publicação do livro “Kiss – Uma Porta para o Céu”, a Editora da Mente diz que começou a distribuir nesta quarta-feira (10) para as livrarias uma nova edição da obra sem os trechos que causaram polêmica entre alguns familiares das vítimas da tragédia. Um incêndio na boate de Santa Maria, em 27 de janeiro, resultou na morte de 241 pessoas.


A publicação, de autoria do padre Lauro Trevisan, foi contestada pela Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM). Na sexta-feira (5), a entidade protocolou em cartório uma notificação extrajudicial solicitando a retirada de circulação da publicação.

“Nós recebemos essa notificação extrajudicial e encaminhamos para o nosso departamento jurídico. Mas por determinação do próprio autor, já retiramos os trechos solicitados da segunda edição do livro. Começamos a distribuir essas novas cópias hoje (quarta-feira)”, diz Maria Odete Fleig, diretora da Editora da Mente.

Lançada na última semana, a primeira edição do livro, com 2 mil exemplares, se esgotou. Segundo Maria Odete, não há mais cópias à venda na Livraria da Mente, em Santa Maria, da qual o padre Trevisan também é sócio-proprietário. A editora diz que não tem como controlar as obras que já foram distribuídas pelo país. A segunda tiragem do livro, vendido a R$ 20, também tem 2 mil exemplares.

Dois trechos da obra estão no centro da polêmica. Segundo o presidente da AVTSM, Adherbal Alves Ferreira, eles causaram revolta entre pais que perderam filhos na tragédia da Kiss. Na página cinco, o autor escreve que duas pessoas estavam vivas dentro do caminhão frigorífico que levava os corpos das vítimas para serem reconhecidos no dia da tragédia. 

“No auge da balada celestial, o Pai perguntou se alguém queria voltar. Dois ou três disseram que sim e foram encontrados vivos no caminhão frigorífico que transportava os corpos ao Ginásio de Esportes”, diz o trecho do texto em questão.

Na página 11, o uso do verbo “agonizar” no trecho “Por que foram ceifados pela morte, sem dó nem piedade, aqueles que se dedicaram, num imenso gesto heroico de solidariedade, a salvar os que agonizavam em meio à fumaça funérea?!” foi visto como ofensivo e desrespeitoso pela associação de familiares, que pretende ingressar na Justiça para tirar a obra de circulação.

“A capa não remete ao que nós gostaríamos. O conteúdo também não. O senhor Lauro diz que vai trocar. Mas nós não fomos consultados e gostaríamos de participar. É muito triste. Nós não queríamos entrar em atrito, de maneira nenhuma. Queremos só respeito”, diz Adherbal.

Autor de mais de 70 livros e figura conhecida na cidade, Lauro Trevisan diz que seu objetivo com a obra era oferecer “conforto aos familiares”, “erguer o ânimo de Santa Maria” e “oferecer uma lição de humanidade”. Ele esclarece que trata-se de uma obra ficcional, de autoajuda, e não uma reportagem ou documentário com o relato fidedigno dos fatos.  

“Para eu colocar o que aconteceu com os que partiram, só podia escrever em forma de alegoria. Alegoria, segundo o dicionário Houaiss, é uma história com personagens e acontecimentos simbólicos. Eu quis retratar um fenômeno de quase morte (...) e criei essa cena do caminhão frigorífico. E essa parte algumas pessoas acharam que era ofensiva e então eu retirei”, diz o autor.

Com relação ao uso do verbo “agonizar”, Lauro Trevisan argumenta que apenas utilizou o significado da palavra, “estar prestes a morrer”, segundo o mesmo dicionário. Mesmo assim, achou por bem retirar as duas passagens do livro, pois sua intenção “não é causar polêmicas ou machucar quem quer que seja”.

Entenda

O incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, região central do Rio Grande do Sul, na madrugada de domingo, dia 27 de janeiro, resultou em 241 mortes. O fogo teve início durante a apresentação da banda Gurizada Fandangueira, que fez uso de artefatos pirotécnicos no palco.

O inquérito policial indiciou 16 pessoas criminalmente e responsabilizou outras 12. Já o MP denunciou oito pessoas, sendo quatro por homicídio, duas por fraude processual e duas por falso testemunho. A Justiça aceitou a denúncia. Com isso, os envolvidos no caso viram réus e serão julgados.

Veja as conclusões da investigação

- O vocalista segurou um artefato pirotécnico aceso no palco
- As faíscas atingiram a espuma do teto e deram início ao fogo
- O extintor de incêndio do lado do palco não funcionou
- A Kiss apresentava uma série das irregularidades quanto aos alvarás
- Havia superlotação no dia da tragédia, com no mínimo 864 pessoas
- A espuma utilizada para isolamento acústico era inadequada e irregular
- As grades de contenção (guarda-corpos) obstruíram a saída de vítimas
- A casa noturna tinha apenas uma porta de entrada e saída
- Não havia rotas adequadas e sinalizadas de saída em casos de emergência
- As portas tinham menos unidades de passagem do que o necessário
- Não havia exaustão de ar adequada, pois as janelas estavam obstruídas

Fonte: Ego
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