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"Eu não tinha ideia de como ser Rita Lee", conta Mel Lisboa

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Ela nunca havia cantado, tinha os cabelos castanhos escuros e um jeito sensual que mexe com o imaginário masculino desde que foi emprestado à ninfeta-título de Presença de Anita (2001). Ainda assim, o diretor de teatro Márcio Macena -- provavelmente só ele, na ocasião -- viu em Mel Lisboa um quê de Rita Lee: "magra, de olhos claros e com a pele bem branca". Era o que bastava. De resto, contava com o talento da amiga. "Quando fiz o convite, ela disse que eu estava louco. Na verdade, ouvi isso de muita gente. Ainda bem que não acreditei", diverte-se Macena, em conversa com o site de VEJA. Mel começou a mudança pelo mais fácil, a aparência. Pintou os cabelos de vermelho, cortou a franja característica da roqueira, emagreceu alguns quilos e assimilou o andar mais "moleca". E a voz? "Essa era uma parte super importante, claro. Rita é uma das cantoras mais afinadas desse país. Mas a Mel é muito dedicada e estudiosa. Fui convencendo-a de que era capaz. E, em pouquíssimo tempo, ela já estava cantando", orgulha-se o diretor.

O tempo mostrou que ele estava certo. Cinco anos depois de decidir homenagear a cantora que admirava desde criança, Macena montou o musical em São Paulo. Desde a estreia, em abril, Rita Lee Mora ao Lado é sucesso de público -- o que levou, nesta semana, à decisão de estender a temporada até 23 de novembro no Teatro das Artes (de sexta a domingo, com ingressos que vão de 60 a 100 reais). O espetáculo é uma adaptação do livro de mesmo nome escrito por Henrique Bartsch. Ainda no início da produção, Macena lembra de ter consultado a roqueira sobre o assunto, por e-mail. A resposta foi direta: "Mandem bala, com as minhas bênçãos. Beijos, Rita". Ele comemorou, Mel quase se desesperou. "Eu não tinha a menor ideia de como ser Rita Lee, e ninguém tinha como me dizer. Construir um personagem que existe, que está aí e vai te assistir é muita responsabilidade. Nunca tinha feito nada parecido", desabafa ela, ao site de VEJA. "Fora o fato de ser uma figura tão emblemática e única", completa.

Mel diz que adora "coisas que parecem impossíveis de fazer", por isso aceitou o convite inicialmente. Depois que viu o quão árdua seria a missão, chegou a desistir -- várias vezes. Mas sempre voltava, e se envolvia mais profundamente. Debruçou-se sobre entrevistas, shows, documentários, livros e as músicas da cantora. "Eu escutava Rita, lia Rita, respirava Rita 24 horas por dia, deixei que ela tomasse conta de mim. Só falava disso. Fiquei insuportável, mas fui me apaixonando muito. Chegou uma hora em que eu queria ser a Rita de fato", recorda, agradecendo a paciência extra do marido, o percussionista Felipe Roseno, e dos dois filhos que tem com ele. Decidiu abandonar a novela que estava gravando no Rio para se dedicar totalmente aos ensaios, dentro e fora do palco. Fez (e ainda faz) aula de canto, seu maior desafio. "Foi a parte mais difícil, por questões pessoais. Eu era travada, não tinha nenhuma técnica, nem gostava da minha voz. Fui me soltando aos poucos e, hoje, sinto que estou cada dia melhor, mais confortável e errando menos."

São 29 músicas cantadas em mais de duas horas de espetáculo -- 23 delas, só de Rita, as demais lembram parceiros da vida, como Elis Regina e Ney Matogrosso. "Assinar essa trilha foi a coisa mais difícil que fiz na vida. Comecei com 130 canções. Cada corte doía muito", conta Macena. Mutante e Caso Sério, por exemplo, ficaram de fora; mas Lança Perfume e Banho de Espuma foram incluídas no 'bis'. "O público sai cantando, e essa é a minha realização", destaca. A própria Rita já foi assistir duas vezes à peça, que mistura ficção a fatos reais da vida dela. Mel Lisboa caiu em prantos no palco na primeira vez, mas ainda se lembra do que ouviu da cantora. "Ela disse: 'Passei a gostar muito mais de mim depois que te vi no palco'. Foi demais." A partir do próximo ano, o musical começa a viajar o país. A passagem pelo Rio de Janeiro está confirmada, ainda sem data definida. Macena comprou também os direitos para levar a história para o cinema, mas diz que isso não é cogitado por enquanto. "O espetáculo tem uma vida muito longa", frisa. Rita comemora: "E eu ainda estou viva".

 


Fonte: Veja

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