Mexer nas lembranças e inquietações de Torquato Neto sempre vira poema ou relatos emocionantes. Se estivesse vivo, o poeta no último domingo (9) completaria 70 anos. Com a passagem do seu aniversário, ele foi lembrado por amigos ilustres. Além de, Caetano Veloso e Gilberto Gil, quem também prestou homenagem foi o publicitário Durvalino Couto, que conviveu com o poeta piauiense, e aproveitou a tarde desta quarta-feira (12) para relembrar o último diálogo com o tropicalista.
Em sua página no Facebook, o publicitário escreveu:
"MEMÓRIA
Minha mãe me acorda, 11 horas da manhã. Cabeça deste tamanho. Ressaca da farra da noite anterior. Pequeno burguês de férias estudantis em Teresina, 1972.
- Acorda. O Torquato está lá embaixo e quer falar com você. Ele vai agora à tarde para o Rio e veio se despedir.
Consigo me levantar na marra. Pego uns livros que Torquato me emprestou (dentre os quais "Understanding Media", de Marshall McLuhan) e desço. Ele está no terraço, sorri ao me ver. Camiseta branca cheia de flores coloridas, umbigo de fora, jeans lá embaixo. Cabelo enorme. Conversamos. O papo fica legal, esqueço a ressaca. Vou entregar os livros:
- Ah, que nada. Fica com eles aí, lá no Rio tenho facilidade de ter esses livros. Fica pra você.
Mais papo, sorrisos. Abraço. Ele diz:
- É o seguinte: estude, passe de ano, se forme, mas não esqueça uma coisa...
Pergunto o quê. Ele sorri:
- Seja bom em tudo.
Me abraça, sai pelo portão, vai embora pela Frei Serafim. Última vez que o vi."
Durvalino acredita que Teresina necessita de um local que abrigue a obra do poeta. "Aqui ele é no máximo nome de escola ou de rua. Pessoas procuram algum espaço que reúna a obra do Torquato e não encontram", lamentou.
Além de amigo, o publicitário é um grande admirador da obra de Torquato, tanto que, junto com o amigo Edvaldo Nascimento, montou o show "O poeta desfolha a bandeira", que reúne algumas músicas que ele fez com Gilberto Gil e Caetano Veloso.
Lucas Marreiros (Especial para o Cidadeverde.com)
[email protected]
