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Polícia espera ouvir hoje PM que teria atirado em Eduardo

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O soldado da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Morro do Alemão que admitiu, numa averiguação da PM, a possibilidade de ter feito o disparo que provocou a morte do menino Eduardo de Jesus Ferreira, de 10 anos, na última quinta-feira, é esperado nesta quinta-feira na Divisão de Homicídios (DH) para prestar depoimento. A convocação foi entregue nesta quarta-feira à Polícia Militar. No entanto, o advogado do PM, Rafael Abreu Calheiros, afirmou que seu cliente já foi ouvido duas vezes na DH e, agora, só falará sobre o caso em juízo. Por outro lado, Calheiros garantiu que o soldado participará da reconstituição da morte da criança, que deverá ser realizada na semana que vem.

— Meu cliente admitiu que atirou durante um confronto com bandidos que estavam na comunidade. Como ele estava perto de uma mata e o menino, na curva de uma escadaria, não tinha como vê-lo — afirmou o advogado, acrescentando que o soldado se encontra em ‘‘tratamento psicológico’’.

DH busca esclarecimento

A Polícia Civil, que já ouviu o PM no dia em que Eduardo foi morto na porta de casa, na localidade conhecida como Areal, quer detalhes da versão que ele apresentou à 8ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar (DPJM). Em seu primeiro depoimento prestado na DH, o soldado admitiu apenas ser um dos dois policiais, de um grupo de 11, que fizeram disparos em direção a homens armados. Na 8ª DPJM, ele revelou que, por conta da sua localização e pela posição do corpo da criança, pode ter sido o responsável pelo assassinato.

Além do soldado, um tenente do Batalhão de Choque, que comandava uma operação na área onde o menino foi morto, também é esperado para prestar depoimento na DH.

Pezão comenta o caso

Nesta quarta-feira, ao comentar a morte de Eduardo, o governador Luiz Fernando Pezão afirmou que o Serviço de Inteligência da PM tem imagens de crianças segurando armas em diversas comunidades do Rio. Destacando que a investigação do caso continua em andamento, ele afirmou que o policial suspeito de ter feito o disparo está muito abalado.

— Soube que o policial está muito abalado desde aquele dia. Ele tomou um susto, achou que o garoto estava com uma arma. Infelizmente, é uma chaga que a gente tem dentro das diversas favelas no Rio. Nós temos fotos, do Serviço de Inteligência da PM e dos próprios soldados das UPPs, que mostram diversas crianças de 10, 12 anos, portando fuzil, pistola Glock. A gente vem trabalhando sistematicamente para mudar essa realidade — afirmou o governador após uma reunião no Ministério dos Transportes, em Brasília.

O caso levou o comando-geral da PM a determinar que todos os policiais de UPPs sejam submetidos a avaliações psicológicas. Especialistas em segurança pública ressaltaram que essa medida deveria ter sido tomada há muito tempo e que os PMs devem estar preparados para enfrentar situações de tensão que são inerentes ao seu trabalho.

— A profissão policial está calcada em quatro alicerces: técnica, equilíbrio emocional, uso proporcional da força e respeito aos limites da lei. Mesmo no momento ardente do combate não se pode esquecê-los, independentemente de quem esteja do outro lado. Esses conceitos precisam ser aplicados mesmo que, do outro lado, estejam traficantes com armas possantes e carros e motos para uma fuga — disse o tenente-coronel reformado da PM Milton Corrêa da Costa.

O sociólogo Ignacio Cano, coordenador do Laboratório de Análise da Violência da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), também destacou que policiais devem saber agir em situações de tensão como as do Complexo do Alemão:

— A UPP não foi feita para o policial ficar trocando tiros com criminosos, mas para o estado recuperar o território. Se é para trocar tiros, é melhor sair das comunidades.

Protesto em Laranjeiras

A advogada Victória de Sulocki, presidente da Comissão de Direito Penal do Instituto dos Advogados do Brasil, disse que, se for comprovado que um PM atirou em Eduardo, dificilmente o argumento de pressão psicológica poderá ser usado para minimizar ou eximir sua culpa:

— Se o policial estava psicologicamente abalado, se não era capaz de suportar a situação, ele não deveria estar trabalhando. O PM, em tese, deveria estar treinado para enfrentar qualquer situação de crise e tensão.

Pela manhã, a ONG Rio de Paz realizou uma manifestação no Cristo Redentor para cobrar a elucidação do caso. À noite, houve, em Laranjeiras, um protesto contra a violência nas favelas. Cerca de 150 pessoas, segundo a PM, fizeram uma passeata do Largo do Machado até o Palácio Guanabara, provocando engarrafamento.

Com informações de Jornal O Globo
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