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Lenine aposta na química musical em novo disco

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De acordo com a pressão exercida, carbono pode ser tanto diamante quanto o grafite que, em poucos traços, define o rosto do artista na capa. Mas é também um elemento químico gregário, que pode gerar incontáveis compostos ao se combinar com si mesmo e com outros elementos, em cadeias de exuberante grafismo. A base da química da vida. Enfim: um dia, essa ideia ia acabar inspirando um disco de Lenine.

— Criar nada mais é que procurar a beleza junto com os outros — diz o cantor e compositor pernambucano, ao lançar “Carbono”, álbum no qual a sua teia de colaborações/combinações está mais evidente do que nunca.

Sucessor de “Chão” (2011), o novo álbum de inéditas de Lenine nasceu, segundo ele, do simples e puro desejo de criar um repertório que pudesse gerar um novo show (“que é o que eu mais gosto de fazer”). Por trás disso, havia também a vontade de reunir amigos cultivados ao longo de mais de três décadas de carreira.

— Como sempre nos meus discos, eu saí atrás de uma imagem, de uma palavra. E assim todas as músicas foram feitas imbuídas pelo conceito de carbono — conta ele.

Em seu novo trabalho, o artista refirma algumas de suas parcerias mais constantes (Lula Queiroga, Dudu Falcão, Carlos Rennó) e apresenta outras (Carlos Posada, Vinicius Calderoni, Marco Polo, líder do grupo Ave Sangria), um todo instrumental heterogêneo, em que gravou faixas com sua banda, com os conterrâneos da Nação Zumbi (“Cupim de ferro”, composta com o grupo), a Orkestra Rumpilezz, baiana, do maestro Letieres Leite (“À meia noite dos tambores silenciosos”, parceria com Rennó) e a Martin Fondse Orchestra, holandesa (“O universo na cabeça do alfinete”, com Lula).

Na construção dessa intrincada cadeia, diferentes reações químicas/musicas tiveram que ser pensadas para que se chegasse ao resultado final.

— A mecânica do fazer muda em cada caso — explica Lenine, que, por exemplo, teve que gravar a faixa com a Rumpilezz ao vivo, numa segunda-feira em que o Teatro Castro Alves, em Salvador, estava vazio.

“Carbono”, acredite se quiser, foi um disco que Lenine teve apenas dois meses para realizar. Do desejo de fazer um disco, foi algo como um "mergulho em apneia", diz ele, para que conseguisse ter tudo pronto a tempo da estreia do show (esta quinta-feira, no Sesc Pinheiros, em São Paulo — o espetáculo só chega ao Rio em junho). Por sorte, os amigos colaboraram. Literalmente de um dia para o outro, o maestro Martin Fondse aprontou o arranjo da sua canção e ensaiou a orquestra.

Três dias depois de o disco ter ficado pronto, Lenine começou a ensaiar o show de “Carbono” com a sua banda, formada por JR Tostoi e o filho Bruno Giorgi (mestres das cordas, com os quais produziu o disco), o baixista Guila, o baterista Pantico Rocha e o técnico de som Henrique Vilhena (responsável pelos efeitos de som da mesa). O espetáculo segue os passos do anterior, do disco “Chão”, com o som quadrifônico lá inaugurado. Com cenografia especial, reproduzindo os grafismos das cadeias de carbono, ele terá, segundo Lenine, “uma arquitetura diferente a cada canção”. Ter segurança para isso não é um problema.

— Sempre me cerquei de pessoas bacanas para me respaldar. Cada um dos músicos contribui muito com a sua sonoridade, com as suas pesquisas sonoras, e também com o trabalho do outro. Não tem muito dogma. Na hora de transformar o disco em show, a gente já sabia o que era o “Carbono”. O tesão maior aqui foi pegar as canções antigas que eu pincei do meu repertório antigo e “carbonizei”.

“Carbono” sai em CD num acordo do artista com a Universal Music. Ele ainda vai decidir se disponibilizará o disco nos serviços de streaming. As modalidades digitais de venda e distribuição de música têm ocupado muitos dos seus pensamentos.

— Enquanto o disco físico era a mola propulsora de toda uma indústria, o criador não estava presente em nenhuma mesa de negociação. As leis que regiam o universo físico migraram todas para o digital. E isso não é justo. O que nós criadores exigimos é transparência — discursa. — Dentro desse universo global estamos vendo um ser gigantesco crescendo e ele não está sujeito a lei alguma, de ninguém. Estou numa posição mais confortável porque eu canto o que componho. Me preocupa muito saber dos meus parceiros. E o Rennó, que não faz show? E o Dudu, que faz show esporadicamente?

Fonte: O Globo

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