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Morte de idosa levanta debate sobre impacto de obra pública

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Atualizada às 09h26 do dia 19/05

A morte de Isabel de Paula Sousa, 75 anos, no último sábado (16), levantou o debate sobre o impacto social das obras Lagoas do Norte. Segundo informação dos vizinhos, a idosa teria sua saúde debilitada e, consequentemente, tido um infarto por conta do anúncio de que deveria deixar a casa onde mora há cerca de trinta anos às margens da avenida Boa Esperança. A via, conforme o projeto, deve ser duplicada, o que implica na retirada de 198 famílias desde a região do Poti Velho até o bairro Matadouro. 

Helena Rodrigues Nogueira de Sales, 65 anos, vizinha de dona Isabel, conta que sua amiga tinha uma vida difícil. “Ela cuidava do marido da mesma idade dela e de um irmão que tem Alzheimer. Vivia angustiada porque o irmão tinha horário para comer e até para beber água. Às vezes ela chorava porque tinha deixado ele com sede. Acho que essa história de retiraram (os moradores) contribuiu para que a saúde dela piorasse”, acredita. 

Dona Helena conta que os moradores da região não são informados corretamente dos próximos passos do projeto. “Uma vez chegou uma assistente social e foi logo selando (marcando) as casas e perguntando se a gente queria casa ou apartamento. Não entendemos nada. Ficamos muito nervosos. Um ia pra casa do outro perguntando se já tinham selado, o que a gente ia fazer. Pedimos uma explicação à prefeitura e um secretário veio, mas ele mesmo disse que não estava entendendo e ia procurar saber para depois nos dizer. Depois nos disseram que lá não ia ficar ninguém porque lá agora é área nobre. Como é área nobre? Quando chegamos não havia nem água. Por que agora é área nobre?”, reclama. 

A moradora diz que a prefeitura prometeu aterrar uma lagoa e construir um residencial para abrigar quem for retirado e também colocar os demais no Jacinta Trindade. “Mas lá é cheio de problemas. Não tem ônibus, não tem nada. Disseram até que iam fazer uma lagoa artificial pra gente. Eles pensam que é isso que a gente quer. Que nós somos sapos. Aqui tem espaço suficiente para fazer a duplicação e a gente construir a casa nos nossos terrenos”, critica.

Dona Helena explica que a área não é regularizada e pertence ao Ibama. “Quando viemos para cá, disseram que era do Ibama. Dez anos depois uma pessoa de lá disse que poderíamos morar aqui que não haveria problema, porque estávamos protegendo o rio”, relembra. 

“Hoje tem muitos idosos que estão sofrendo, sem dormir, com problemas de saúde devido a essa pressão. O viúvo (de dona Isabel) Matias vive chorando. Ele é bem conhecido, tem um comércio, está muito mal”, relata.

Prefeitura
Através de sua assessoria, a Secretaria Municipal de Planejamento (Semplan) informou que a Prefeitura está, no momento, fazendo um cadastro da situação dos imóveis quanto à sua composição (tijolo, taipa), relação ao nível da pista (mesmo nível, abaixo), quantas pessoas (familiar, multifamiliar), se é apenas domiciliar ou comércio ou os dois. 

A avenida Boa Esperança, construída na década de 1970 funciona como um dique para barrar as cheias do rio Parnaíba e toda a área é considerada de risco pelo Governo Federal, e não deveria estar ocupada. A incumbência da desocupação cabe à Prefeitura. Entretanto, segundo a Semplan, a pesar de o cadastro gerar uma grande ansiedade, ninguém será removido antes de 2017.

Até lá, devem ser construídos três residenciais – dois no Poti Velho – e outro nas proximidades do antigo posto da BPRE. Os moradores poderão optar por morar nestes empreendimentos ou receber a indenização. 

As remoções serão necessárias para a execução da segunda fase do Lagoas do Norte que deve ter início no final deste ano e durar até 2020 e contempla as obras de urbanização e saneamento básico no Poti Velho. Além da duplicação da Boa Esperança, há ainda a reforma do Encontro dos Rios que consiste na construção de um calçadão e trilhas, palco, mirante e melhorias do Polo Cerâmico, além do saneamento das lagoas. 

 

Confira na íntegra a nota divulgada pela Prefeitura de Teresina sobre o caso:

 

A Prefeitura de Teresina vem, por meio desta nota, contestar com veemência, informações contidas em matéria publicada nesta Segunda-feira, no Portal Cidade Verde atribuindo ao Município a responsabilidade pela morte de uma pessoa na zona Norte.

O que a Prefeitura de Teresina está fazendo na região que abrange o Programa Lagoas do Norte é o maior investimento público que esta cidade já teve e que já está sendo responsável pela transformação da vida das pessoas que residem na área.

Reiteramos que, desde fevereiro de 2015, nenhuma família foi cadastrada e/ou removida de suas casas na região do Dique da Boa Esperança. Ao contrário, tudo o que está sendo feito é uma discussão que envolve, além da Prefeitura de Teresina, as pessoas que moram na área e o Ministério Público.

Acrescentamos que na segunda fase do Lagoas do Norte, a Prefeitura reforçará o dique que margeia o Rio Parnaíba para garantir que eventuais enchentes naquela região não venham a deixar famílias alagadas. Para tanto, compete à Prefeitura reassentar, na própria região, as famílias que habitam na área entre o rio Parnaíba e o dique, que coincide com a Avenida Boa Esperança.

A Prefeitura tem reiterado em todas as instâncias que as famílias que moram em área de risco serão transferidas para local seguro ou indenizadas. No entanto, essa retirada não se dará imediatamente, muito menos de afogadilho. 

Por isso a Prefeitura, ao tempo em que lamenta  e presta seus pêsames à família, entende como absolutamente improcedente ser responsabilizada pelo falecimento de qualquer pessoa pelos motivos citados na matéria.

A Prefeitura também alerta para o fato de que não trata a vida dos cidadãos teresinenses com qualquer viés político e repudia qualquer tentativa de que isto seja realizado por quem quer seja, em nome do interesse maior da cidade.

Prefeitura de Teresina

 

 

 

Carlos Lustosa Filho
[email protected]

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