Entusiasmo e perseverança. Além de sentimentos que norteiam a seleção brasileira em busca de se reerguer na primeira competição depois da Copa do Mundo, também é o nome do primeiro texto publicado por um dos maiores poetas da humanidade, Pablo Neruda. Mas o que o chileno tem a ver com o Brasil? Neste fim de semana, muita coisa.
A Seleção estreia na Copa América contra o Peru, neste domingo, em Temuco, cidade que se orgulha de ter despertado a veia poética em Neruda, residente local durante toda sua infância. Referências a ele não faltam: placas no chão, o museu ferroviário que leva seu nome, já que seu pai trabalhava nos trens, e a casa onde viveu, preservada pelas autoridades contra propostas de demolição.
Tão preservado se mostrou o respeito pelo futebol brasileiro. O “7 a 1” não se refletiu na recepção à Seleção. Milhares de pessoas que habitam a terra que criou o gênio das palavras juntaram-se para ver os artistas liderados por Neymar.
Atacante e poeta são precoces. Neruda tinha 13 anos quando publicou, na edição de 18 de julho de 1917 do jornal “La Mañana”, de Temuco, um artigo sobre os princípios de vida que já o fascinavam. Aos 13, Neymar já convivia com a responsabilidade de se tornar um craque, acima de qualquer expectativa normal de um adolescente.
Atacante e poeta passaram por maus bocados. Não se comparam, é claro. O chileno, membro do Partido Comunista, foi perseguido político, exilado, viveu na clandestinidade e viu um de seus casamentos não ser reconhecido. O brasileiro “apenas” viu seu maior sonho ruir com a joelhada do colombiano Zúñiga em suas costas: saiu da Copa do Mundo e não participou da goleada alemã na semifinal.
Atacante e poeta foram premiados. O que dizer de quem é citado por outro gênio, Gabriel García Márquez, como maior poeta do século 20? E ainda é vencedor do Prêmio Nobel de Literatura em 1971, doutor pela reconhecida universidade de Oxford... E o que dizer de quem se tornou o primeiro jogador a ganhar Libertadores e Liga dos Campeões com gols nas finais, e conseguiu igualar-se aos extraterrestres Messi e Cristiano Ronaldo na artilharia do mais difícil torneio do mundo?
Neymar saiu da última Copa machucado, mas escolhido para conduzir o Brasil à recuperação moral e técnica. A superioridade fez dele o capitão do capitão Dunga. Por mais que o técnico insista na tese do coletivo forte, os olhos do mundo estarão sobre o camisa 10 nesta Copa América. A começar por Temuco, cidade gelada que abrigou Neruda entre 1906 e 1921, dos dois aos 17 anos de idade.
Quando escreveu “Entusiasmo e Perseverança”, o poeta ainda assinava Neftalí Reyes, parte do pomposo nome de batismo: Ricardo Eliécer Neftalí Reyes Basoalto. O pseudônimo Pablo Neruda só foi adotado em 1920. No artigo, ele diz que a falta de entusiasmo e perseverança faz cair por terra boas ideias, que poderiam causar bens em abundância. Fala também que grandes benefícios à humanidade só podem ser alcançados com esses dois fatores. E que há “exemplos que todas as nações ensinam aos seus filhos para que aprendam a maneira de saber honrar sua pátria”.
A partir de agora, os versos do gênio das palavras precisam inspirar o craque da bola. Neruda também gostava de futebol (quem não gosta?) e, certa vez, escreveu um poema sobre jogadores que terminava assim: “Olhando esses homens se vê que a vida é triste”. Cabe à Seleção alegrar as almas e a vida de Temuco. Entusiasmo e perseverança, Brasil!
FICHA TÉCNICA
BRASIL: Jefferson, Daniel Alves, Miranda, David Luiz e Filipe Luís; Fernandinho, Elias, Fred e Willian; Neymar e Diego Tardelli. Técnico: Dunga
PERU: Gallese, Advincula, Zambrano, Ascues e Vargas; Ballon, Lobatón, Sánchez e Cueva; Farfán e Guerrero. Técnico: Ricardo Gareca
Data: 14/06/2015 Horário: 18h30 (de Brasília) Local: Estádio Germán Becker, em Temuco (Chile) Árbitro: Roberto García (MEX) Auxiliares: José Luis Camargo e Marvin Torrentera (MEX)
Fonte: Globoesporte.com
