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Reis da Noite se reencontram e falam das boates de Teresina nos anos 80 e 90

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Os empresários Ênio Moita e Leal Filho, os chamados "Reis da Noite", se reencontraram após anos para um bate papo saudosista sobre a vida noturna da capital no final dos anos 80 e década de 90. As histórias foram recontadas no "Especial Teresina Encontros e Reencontros", programa especial da TV Cidade Verde em comemoração aos 163 anos de Teresina.

 

Os dois foram os responsáveis por movimentar a noite teresinense naquela época. Ênio com o clube privê, Matrincham, no início da década de 80, já Leal com a boate Doce Vida, inspirada em uma casa de show da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro.
 
"Eu fui morar na Bahia com 14 anos e fiz faculdade. Lá aprendi a faculdade da vida também, de festa. Quando eu cheguei a Teresina botei a primeira boate, que foi a Matrinchan. Era um clube privê. Na época era uma moda colocar nome de bicho em boate, no Rio era Papagaio, Hipopotámo, daí resolvi colocar Matrinchan, que é um peixe do rio Parnaíba. É uma palavra indígena com som francês. Em 1983 foi a boate e um ano e meio depois eu inaugurei o Chê Matrinchan, que era a parte do restaurante. Cinco anos depois eu inaugurei a casa de shows, que era o Segunda Café", conta Ênio Moita.
 
Se Ênio tem sua história ligada a Bahia, Leal apostou no Rio de Janeiro para se inspirar e trazer para Teresina sua primeira grande boate, a Doce Vida. "Lá eu conheci uma boate na Barra da Tijuca chamada Lá Dolce Vita. E eu disse: vou trazer uma boate para Teresina. Era meu aniversário e eu tinha uma turma muito grande que eu andava. A gente estava no Nós e Elis e eu disse: agora vamos para a Boate 58. Chegamos lá já estava fechada. Era mais ou menos uma hora da manhã. Eu brinquei perguntando porque estava fechada e disse que comprava a boate. Naquela noite a gente negociou a boate. No ano de 1987 surgiu a boate Doce Vida e nós perduramos até 92. Naquela época, a gente não funcionava quarta e quinta", relembra.
 
Para evitar a concorrência, Ênio lembra que as boates funcionavam em dias diferentes. "A gente tinha que dividir, um dia era com um, outro dia era com outro. E aí, terminava dando certo para todo mundo", afirmou.
 
"A gente fazia muita festa temática, desfiles das lojas, colégios. Para lembrar essas coisas, eu fico todo emocionado, porque era uma época muito boa de se viver", conta Leal Filho.
 
Segundo o fundador da Matrinchan, naquela época era mais fácil promover festas, já que o público geralmente ia sempre para o mesmo lugar. "Era uma época que ia todo mundo para o mesmo lugar. A gente se encontrava mais. Atualmente é dividido. São panelinhas, tribos diferentes, já que a cidade cresceu. Uns gostam de roque, outros sertanejo e outros forró. Houve essa divisão. A pessoa que mais curtia a minha boate era eu. Eu fui muito namorador", relembra.
 
Ser dono de boate e namorador era comum naquela época, de acordo com o fundador da Doce Vida. Em uma de suas aventuras, ele conta que encontrou aquela que mais tarde se tornaria sua esposa.
 
"Quem era dono de casa noturna que não era namorador? Eu conheci a minha esposa na minha boate em um desfile de escolha da garota Teresina, uma festa da Elvira. Ela ganhou o concurso e eu me apaixonei ali. Até hoje estou com ela. Tenho dois filhos maravilhosos. Antes eu vivia na noite, Enio também, o Almir na Aquarius vivia na casa dele", afirma.
 
Chegada da Aquarius

 
A Boate Aquarius mexeu com a concorrência em Teresina. Mas nem por isso foi motivo de disputas entre os empresários. Ênio, por exemplo, admite que adorava dançar na Aquarius. "O Almir (dono da Aquarius), quando era sexta-feira, que não tinha ninguém na minha casa, eu ia para a casa dele. Passava a noite dançando e bebendo lá".
 
"O Almir já foi bem depois. Já foi quando a gente estava parando que o Almir começou a explodir. Eu estava fora do Brasil e a minha mãe ligou dizendo: é bom vir pra cá que tuas irmãs estão dizendo que a tua casa está caindo. Não adianta, você entrou na moda, você sai dela. Eu passei 6 anos com uma casa. Muito tempo. Cansa muito. Essas casas na época eram muito badalas porque eram poucas", afirmou Leal.


 
Surgimento da Templum

 
Diante da força da Aquarius, Ênio decide mudar radicalmente e transformar a Matrincham em danceteria. Anos mais tarde a aposta foi ainda maior: nascia em 1997 a Templum. "Mudei radicalmente. A Matrincham era estilo boate e mudei para um estilo novo, que era a danceteria. Batia mais com a Aquarius, que era uma casa grande. Aí botei a Templum, isso em 1997", conta.
 
Naquela época, segundo Leal Filho, as festas terminavam após as 5 horas da manhã, só aí os empresários paravam para contabilizar o lucro. "A gente ia sentar com os garçons para bater comanda. Tinha dia que a gente ainda saída para comemorar que a noite foi boa. Lembrar da noite de Teresina é lembrar de coisas boas. A gente deu essa contribuição em um momento que poucos davam", diz.
 
Para os empresários, hoje os donos de casas de shows não são as estrelas como antigamente. O importante agora é o nome do estabelecimento. "O dono da casa hoje em dia não é a estrela da história. A casa hoje em dia é o nome, a franquia. Naquela época a gente tinha uma responsabilidade porque o nome da gente pesava na história", afirma.
 
"No dia que faltava um garçom na minha casa eu ia ser o garçom. Eu estava lá botando a mão no ombro dos meus clientes", relembra Leal.
 
Diante de tanta nostalgia, os empresários contam que planejam uma festa para relembrar a época de ouro das boates de Teresina. "Se eu encontrasse as pessoas dessas época eu diria: vamos nos juntar e fazer uma grande festa para relembrar. Juntas as casas da época. Não me admirem se me verem na noite com uma grande casa de show", aposta Leal.
 
"Eu me orgulho muito de ter dado esse impulso inicial. Eu me vejo meio pai dessa noite de hoje", finaliza Ênio Moita.

Hérlon Moraes
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