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Mães denunciam agressões e choques elétricos a internos dentro do CEM

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Os pais dos dois adolescentes de 17 anos- naturais da cidade de Parnaíba e que foram assassinados com várias perfurações no último sábado (18) dentro do Centro Educacional Masculino (CEM) -  denunciaram casos de maus tratos dentro do centro. Em entrevista ao Notícia da Manhã, os familiares contam que jovens mortos relataram que era comum ver internos com barras de ferro na unidade. 

"Meu filho tinha dito que um tinha uns caras lá que andavam com ferros e que eles mandavam nos educadores. Como pode em uma prisão, os presos mandar nos educadores? Que país é esse que a gente está", disse Helen Késia, mãe de Júnior Alcino. 

"O meu filho falou que outro dia foram fazer vistoria e que deram uma 'lapada' nas costas dele, sem ele fazer nada. No outro, deram um choque no pescoço. Como que a pessoa vai sair de lá ressocializado? Ele vai sair transformado, odiado", disse Elza Sousa, mãe do outro jovem assassinado, Kelson Wendel. 

O crime ocorreu durante a noite após o jantar.  Kelson Wendel Sousa Gomes e Júnior Alcino Gomes estavam no CEM há apenas um mês. O crime revoltou familiares dos garotos.

"Disseram que no CEM ele teria toda a segurança, todo o preparo para adolescente e acontece uma tragédia dessas", disse Ernandes Rocha, padrasto de Júnior Alcino. A mãe do menino também está inconformada com o assassinato. "Não querem dizer pra gente o que aconteceu. Se eles não sabem como aconteceu, alguém tem que dar alguma explicação, porque nós somos pais. Foi covardia porque furaram muito os meninos", lamentou Helen Késia.

"Eles dizem que o CEM é um centro educativo, mas dentro eles matam e ninguém sabe quem é, ninguém sabe quem foi, ninguém vê. Se é um centro educativo, cadê a Educação que tem ali?", desabafou Elza Sousa, mãe de Kelson Wendel. 

Os homicídios teriam ocorrido devido a uma rixa entre os internos. De acordo com a Secretaria da Assistência Social e Cidadania (SASC), as duas mortes ocorreram ao mesmo tempo. As vítimas estavam em alojamentos separados e em um dos casos, dois adolescentes assumiram a culpa. No outro, um menor assumiu a autoria.

Em entrevista ao Notícia da Manhã, o diretor de medidas sócioeducativas da Sasc, Anselmo Portela, rebateu denúncias de familiares de internos e negou que os educadores sofram ameaçam dos internos. "O Estado tem o controle dos menores. No CEM eles não aplicam choques e as portas estão abertas. O próprio juiz da Infância e Juventude, a promotoria e defensoria estiveram lá fazendo mutirão e conhecem a unidade, podem entrar a qualquer hora. Agora, infelizmente, a estrutura do CEM é antiga e não ajuda porque não foi feita nos moldes de um centro socioeducativo e proporciona que se tire barras de ferro dentro da própria estrutura, que foram as utilizados nestas mortes. As vítimas estavam nas alas corretas, voltadas para homicidas, latrocidas e roubo majorado", explica Portela.

Ele disse ainda que os crimes teriam ocorrido por motivos banais, após as vítimas-supostamente- xingarem as mães dos suspeitos. "Pra eles, a mãe é considerada sagrada", reitera. 

Após os crimes, os jovens suspeitos de terem cometido a infração foram encaminhados para o Complexo da Cidadania, mas devem retornar para o CEM. 

"Estamos avaliando se lá haverá represália, pois os próprios adolescentes da ala não concordaram e sem aceitaram a situação. Os menores que fizeram isso, inclusive, aproveitaram a calada na noite, dentro da própria cela, porque no horário de convivência coletiva, eles não iriam aceitar. Os próprios internos ficaram surpresos com o que ocorreu", reitera. 

O diretor de unidade de medidas sócio educativas da Sasc destaca ainda a responsabilidade das famílias na recuperação dos internos. "O Estado não tem o papel de substituir as famílias. Uma pequena parcela dos familiares não têm cumprido o seu papel e já flagramos, neste mês, até mães tentando entrar com drogas para os filhos", alerta. 

 

Graciane Sousa
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