"Eu sou macaco velho, toco desde 1981. Na minha época, até festa evangélica era boêmia. Isso não existe mais, por causa da lei do silêncio, da lei seca, as coisas estão afunilando. Hoje o camarada não bebe, sai cedo do bar para ir para casa, não vai com tanta freqüência. A noite de São Paulo já não é mais a mesma, a boemia acabou."
O ressentimento é cada vez mais amplo. E a lei seca, que proíbe os motoristas de dirigirem depois de terem ingerido qualquer quantidade de bebida alcoólica, é apontada como a grande vilã. Segundo a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), a queda do movimento nos bares varia de 20% a 40% nas noites de quinta e sexta-feira e nos fins de semana, quando ocorrem as blitze policiais.
Pela estimativa do Sindicato dos Trabalhadores no Comércio e Serviços em Geral de Hospedagem, Gastronomia, Alimentação Preparada e Bebida a Varejo de São Paulo (Sinthoresp), houve um aumento de 15% nas demissões em bares, restaurantes, lanchonetes e hotéis no mês de julho. O setor emprega ao todo cerca de 300 mil pessoas - entre elas, centenas de músicos profissionais, a ponta mais recente dos reflexos da lei seca. Os próprios donos de bares assumem que os cachês dos músicos são os primeiros itens que estão entrando no corte de custos.
"Antes eu fazia shows a semana inteira, arrebentava a boca do balão, era uma delícia", conta o cantor Léo Marcos. "Hoje nem tenho feito mais casas noturnas, o trabalho sumiu." Léo Marcos já lançou três álbuns na sua carreira e fez turnê por Portugal. Em 1992, ganhou disco de ouro pela sua versão em português de Killing Me Softly with His Song, famosa na voz de Roberta Flack, que ganhou por aqui o nome de Me Faz Perder o Juízo. Até o mês passado, ele entoava essa e outras canções em um bar na Rua Avanhandava, no centro de São Paulo. "Mas não me chamaram mais", conta. "O movimento anda fraquíssimo, então o dono não tem mais dinheiro para pagar o cachê. Está cada vez mais difícil ser músico."
Fonte: Jornal Estado de São Paulo