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Movimento pede veto de Firmino á Lei que proíbe material de gênero nas escolas

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Depois de aprovado, na semana passada, o projeto que veda a distribuição de material didático com conteúdo de ideologia de gênero na rede pública municipal de ensino em Teresina, o debate continua e agora ganha força depois que o grupo de pesquisas SEXGEN emitiu uma note de repúdio à lei.

Na nota, o grupo pede que o prefeito Firmino Filho (PSDB) vete a proibição, e a campanha pelo veto está sendo endossada pela tag #vetaFirmino. Para os pesquisadores, a vedação é um “obscurantismo e atraso representados pela maioria dos vereadores do município de Teresina, ao tentar impedir que crianças em idade escolar possam ter acesso a discussões sobre fatos tão relevantes para a sua formação como cidadãos e cidadãs”.

O projeto ainda não foi enviado à Prefeitura de Teresina, conforme informou a assessoria. Depois que chegar ao poder executivo municipal, ele será enviado aos órgãos que têm relação com a questão, como a Procuradoria, a Secretaria de Educação e Secretaria de Trabalho, Cidadania e Assitencia Social, para que elas também darem o seus pareceres e só depois o prefeito se manifestar.

O projeto é de autoria da vereadora Cida Santiago (PHS) e dos signatários Ananias Carvalho (PDT), Antônio Aguiar (PROS), Celene Fernandes (SDD), Joninha (PSDB), Pastor Levino (PRB), Ricardo Brandeira (PSL), Teresa Britto (PV) e Tiago Vasconcelos (PRB).

Para o SEXGEN, os vereadores que assinaram e aprovaram a medida estão equivocados e desconhecem o verdadeiro teor e importância da discussão de gênero. “Gênero NÃO se refere a uma escolha entre ser homem ou mulher, macho ou fêmea, homossexual ou heterossexual ou bissexual ou assexual; refere-se, sim, às formas como nos construímos ao longo da vida entre as diversas possibilidades que nos são apresentadas, não só em termos de orientação sexual. Discutir gênero na escola NÃO significa ensinar as crianças que elas podem escolher o gênero que terão. Não se escolhe gênero nem sexualidade. Nem na infância nem na vida adulta. Daí a importância de se discutir desde cedo as diferenças e hierarquias de gênero numa sociedade ainda patriarcal, heteronormativa, misógina e LGBTfóbic”, explana parte da nota.

A vereadora Cida Santiago mais uma vez saiu em defesa do seu projeto e disse que entende que a criança ainda não tem o censo crítico para dizer que quer ser do sexo A, ou B, ou C e destacou que não está em nenhuma contra os homossexuais.

“Não estamos aqui em nenhuma luta contra os homossexuais. Cada família ou arranjo familiar tem que ter esse livre arbítrio para ensinar seus filhos, sejam adotados ou não, a dar educação que eles acham que devem. O que nós não queremos é que a própria escola tenha esse livre arbítrio de expor aos nossos filhos, ou alunado, àquilo que compete aos pais e por conta disso, essa lei vai realmente contra o próprio MEC e alguns segmentos tentam colocar na educação para que os nossos filhos venham a aprender essas coisas de um forma deturpada. Então a criança ainda não tem esse senso crítico de entender que ela quer ser homem ou mulher”, declarou a parlamentar

De acordo com a vereadora, ficou estabelecido na Convenção Americana de Direitos Humanos que o dever à educação sexual e moral dos filhos compete apenas aos pais.

Veja na íntegra a nota do SEXGEN:

"Diante das recentes investidas da Câmara Municipal de Teresina contra as discussões de gênero nas escolas municipais, o grupo de pesquisa SEXGEN – Sexualidade, Corpo e Gênero - vem a público externar profundo repúdio ao obscurantismo e atraso representados pela maioria dos vereadores do município de Teresina, ao tentar impedir que crianças em idade escolar possam ter acesso a discussões sobre fatos tão relevantes para a sua formação como cidadãos e cidadãs, e também para o melhor entendimento e solução das questões relativas às diversas formas de violência de gênero na nossa sociedade.
Em junho de 2015, após uma conturbada audiência pública, os vereadores de Teresina – com duas honrosas exceções – votaram contra a inclusão, no plano municipal de educação, das discussões de gênero (que, sintomaticamente, foram nomeadas de “ideologia” de gênero). Um mês antes, em Castelo do Piauí, a apenas 190 quilômetros da capital, quatro adolescentes foram estupradas, amordaçadas, amarradas e jogadas de cima de um morro. Uma delas faleceu dias depois. Mas nossos nobres edis não viram qualquer conexão entre as discussões de gênero e a violência contra a mulher, tristemente ilustrada pelo que ficou conhecido como “Caso de Castelo”.
Se, em junho de 2015, a decisão da Câmara foi compatível com a Idade Média, com argumentações que não caberiam em um estado constitucionalmente laico, pudemos ao menos comemorar o fato de que houve ampliação do debate, em audiência pública que repercutiu nos meios de comunicação e na sociedade de forma geral.
A oportunidade do debate já não foi dada dessa vez. No último dia 22 de março, o Projeto de Lei n° 20/2016 - proposto pelos vereadores Cida Santiago (PHS), Ananias Carvalho (SD), Antonio Aguiar (PROS), Celene Fernandes (SD), Joninha (PSDB), Levino dos Santos (PRB), Ricardo Bandeira (PSDC), Teresa Britto (PV) e Tiago Vasconcelos (PSB) – foi aprovado pela quase totalidade dos presentes, sem qualquer discussão com a sociedade. Tal PL visa “vetar a distribuição, exposição e divulgação de material didático contendo manifestação de Ideologia de Gênero (sic) nos estabelecimentos de ensino da Rede Pública Municipal de Teresina”.
O Index Librorum Prohibitorum da Câmara Municipal pretende retirar de circulação livros enviados pelo MEC que “incluam em seu conteúdo informações sobre a prática da orientação ou opção (sic) sexual, da igualdade e desigualdade de gênero, de direitos sexuais e reprodutivos, da sexualidade polimórfica, da desconstrução (sic) da família e do casamento, ou qualquer manifestação da ideologia (sic) de gênero”.
Nós que fazemos o SEXGEN, ao entender que temos uma função não apenas acadêmica mas também de militância pela igualdade de gênero, apontamos o desserviço de se tentar impedir tais discussões na capital do estado que ocupa a quinta posição do país no ranking de feminicídios registrados, segundo o Atlas da Violência no Brasil, divulgado na última semana pelo Instituto de Pesquisas e Estudos Aplicados (IPEA). O mesmo levantamento mostra que o número de assassinatos de mulheres aumentou 142% no Piauí, nos últimos dez anos. Não menos significativos são os dados relativos às diversas formas de violência contra os indivíduos LGBT, parcela da população que vive à margem, tendo direitos negados em função de suas orientações sexuais e identidades de gênero.
Ao que parece, existe um desconhecimento entre os ocupantes da Câmara em relação ao tema sobre o qual estão legislando Queremos frisar que o termo gênero refere-se à forma como nos colocamos no mundo como sujeitos, não apenas em relação à sexualidade, mas aos comportamentos, posturas e possibilidades que nos são disponibilizadas, como sujeitos de uma cultura e momento histórico. Gênero NÃO se refere a uma escolha entre ser homem ou mulher, macho ou fêmea, homossexual ou heterossexual ou bissexual ou assexual; refere-se, sim, às formas como nos construímos ao longo da vida entre as diversas possibilidades que nos são apresentadas, não só em termos de orientação sexual. Discutir gênero na escola NÃO significa ensinar as crianças que elas podem escolher o gênero que terão. Não se escolhe gênero nem sexualidade. Nem na infância nem na vida adulta. Daí a importância de se discutir desde cedo as diferenças e hierarquias de gênero numa sociedade ainda patriarcal, heteronormativa, misógina e LGBTfóbica.
Levar questões de gênero à escola significa simplesmente debater as diversas formas de existência dos sujeitos, e as relações de poder que são naturalizadas na vida cotidiana. Assim, as raízes das diversas formas de violência contra as mulheres, da homofobia, e da transfobia, dentre outras, poderiam, talvez, começar a ser cortadas, ainda na infância.
Ao tentar excluir a discussão de gênero das escolas municipais, a Câmara Municipal de Teresina está contribuindo para a perpetuação das violências de gênero, ao negar a diversidade e invisibilizar parte da população que não se enquadra nos preceitos heteronormativos. E mais: excluir essa discussão configura-se também como exercício de violência simbólica contra famílias, contra crianças, contra cidadãos e cidadãs.
Diante do exposto, nós que compomos o Grupo de Pesquisa SEXGEN pedimos ao prefeito Firmino Filho que VETE o Projeto de Lei n° 20/2016, a fim de construir uma sociedade mais justa e inclusiva para todos. #vetafirmino"


Lyza Freitas
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