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Marcelo Perrone: Prince era um artista, um símbolo

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Prince sai de cena mais uma vez. Ao longo de sua fulgurosa carreira, o artista — como ele próprio passou a se anunciar certa vez — desapareceu e ressurgiu em diferentes ocasiões, sempre por vontade própria. Era a sua maneira de marcar sua posição de rebeldia às amarras criativas e mercadológicas impostas pela indústria musical. Em seu tempo áureo, com músicas como Purple Rain e Kiss tocando sem parar em todo o mundo, ele foi tão grande quanto Michael Jackson e Madonna.

Quando lhe deu na telha, o baixinho vaidoso e enfezado renunciou ao próprio nome para virar literalmente um símbolo impronunciável. Passou parte dos anos 1990 em 2000 enfurnado no estúdio produzindo incessantemente discos que, por conta de sua reclusão midiática, circularam de forma irregular — alguns foram ouvidos apenas pelo fãs mais empenhados.

Era um artista completo, reconhecido como grande cantor, guitarrista virtuoso, multi-instrumentista, compositor e arranjador de rara sensibilidade e enorme repertório. Como toda estrela pop, Prince tinha suas excentricidades. Talvez a mais evidente delas fosse essa de canalizar sua energia e foco para música. Trabalhou até morrer. Dentro do seu celebre estúdio Paisley Park, em Minnesota.

Herdeiro de James Brown e Jimi Hendrix, Prince foi sempre um artista singular e sem concorrentes na sua fusão de funk, soul, rock 'n' roll. Enfileirou uma série de discos de sucessos nos anos 1980 — Purple Rain (1984), Around the World in a Day (1985), Parade (1986) e Sign o' the Times (1987). Assim como Madonna, Prince ajudou a injetar na música pop norte-americana, durante a conservadora era Reagan, uma alta voltagem de provocação comportamental e sexual.

Nos anos em que ficou rompido com as grandes gravadoras, Prince lançou por seu próprio selo álbuns ricos em experimentações sonoras que o mantiveram, com regularidade mas sem o estardalhaço de outrora, em evidência nas paradas de sucesso e nos palcos.

Ele foi ainda um dos primeiros artistas a vislumbrar o potencial da internet — e muito de sua independência vem da maneira criativa e profissional com que fez uso das ferramentas digitais e virtuais para se manter em atividade. Em 2004, lançou seu próprio canal de download, Musicology, nome do disco homônimo lançado naquele ano e anunciado por ele como um espécie de carta de alforria que o permitia trabalhar longe de regime de escravidão imposto ao artistas pelas grandes corporações musicais.

Em 2014, uma reviravolta na carreira recolocou Prince no topo outra vez. Ele reatou com a Warner, selo com o qual havia rompido em 1996, para lançar dois álbuns simultâneos, Art Official Age e Plectrumelectrum, ambos ovacionados por público e crítica e colocados entre os melhores trabalhos de sua carreira. Seguiram-se a onipresença de Prince na mídia, turnês lotadas por todo o mundo e a reverência de artistas de diferentes nova gerações. Mas ele nunca foi de se acomodar. No ano seguinte, apresentou, por conta própria, na surdina, outro projeto duplo: Hit n Run 1 e 2, discos direcionados ao Tidal, serviço musical por streaming criado por seu amigo Jay-Z com o objetivo de remunerar melhor os artistas nas plataformas digitais.

Reinventando-se mais uma vez, Prince estava apresentando a Piano & A Microphone Tour, espetáculo em que tocava sozinho no palco seus hits e covers — o último show foi dia 14 de abril, em Atlanta (EUA).

Certamente ouviremos falar ainda muito de Prince. De seu volumoso acervo deverá emergir muito material inédito — ele teve dezenas de projetos anunciados e nunca lançados, como Camille, em que assumia a identidade de uma cantora fictícia cantando em falsete — amostras desses trabalhos foram distribuídos em diferentes discos seus ao longo da carreira.

Prince foi de fato um artista, um símbolo.

Fonte: Zero Hora

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Tags: princemorte