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Caetano Veloso conta que sua temporada de shows dá prejuízo

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Em texto exclusivo para o Jornal do Brasil, Caetano Veloso conta que seu show Obra em progresso dá prejuízo. Mas que o andamento e a energia criativa do projeto compensam.

Tudo começou porque eu queria passar o ano todo no Rio: a  excursão do Cê durou uns oito meses. O ano de 2007 significou muita saudade dos meu filhos e da minha neta.

Queria prosseguir com o que venho fazendo com Pedro Sá, Ricardo Dias Gomes e Marcelo Callado. Aí pensei em fazer shows semanais em que fosse apresentando o crescimento de um novo repertório e o desenvolvimento de novos arranjos.

No escritório, me disseram que íamos perder dinheiro. Insisti. Fiquei feliz à beça quando finalmente estreamos no Vivo Rio. Abri o show com uma canção inédita e, durante o show, cantei mais três.

A platéia mostrou que essas músicas novas se imprimiam nas mentes. Depois, as pessoas já me falavam de cada música individualmente. Claro que Base de Guantánamo era mais nítida e pregnante.

Mas houve quem falasse primeiro em Por quem? (não sabiam o título, mas diziam: "aquela que você canta em falsete" ou "a que fala em 'ranhuras da montanha'"). Outros perguntavam sobre a do "biquíni amarelo" ou "a da bunda". Etc.

A cada quarta-feira, novas canções. E a história se repetia: gente dizia que Sem Cais é a mais bonita. Pessoas contavam que Perdeu vinha crescendo. Mas teve as antigas: Três Travestis, O maior Castigo, Feitiço da Vila, Vingança, Incompatibilidade de Gênios. E canções do Cê. E sucessos, como O Leãozinho ou Nosso Estranho Amor.

De fato, perdemos dinheiro. Ou, pelo menos, não ganhamos. Sinceramente, fui para a Europa para ganhar o que preciso para manter a vida de separado com dois filhos. Mas só penso na Obra em Progresso. Fico deslumbrado com Roberto Carlos cantando Jobim e me acho um privilegiado por estar por perto.

Mas minha energia criativa está toda voltada para as músicas que estamos mostrando e que gravaremos a partir do dia 1º. Prova disso é o tempo que encontro para estar presente no blog www.obraemprogresso.com.br.

Ali se vê e ouve tudo que se refere à feitura desse novo disco: os números dos shows, os comentários que fui fazendo a respeito (por escrito ou de viva voz), as idéias que passam pela minha cabeça à medida que vou fazendo o disco.

A palavra "transamba" foi uma dessas idéias. Nunca me decidi a tê-la como título do disco - e depois descobri que Marcos Moran já a tinha usado num disco dos anos 70 - mas ela diz muito sobre o que estamos fazendo, a Banda Cê e eu.

É aquela máquina urgente que produziu os sons de Cê se aproximando do samba. Ou melhor: exibindo suas relações internas com o mistério do samba. E é rock'n'roll. A Lapa é a inspiração.

Nos shows do Oi Casa Grande, vamos mostrar mais duas músicas novas (já são 10): uma se chama Lobão Tem Razão e a outra simplesmente Lapa. Transrock. Todo o projeto é profundamente enfronhado no Rio de Janeiro.

É um disco em homenagem ao Rio. É uma reza irreligiosa ou arreligiosa ou anti-religiosa pelo Rio. Estou muito cansado de tanto trabalho e não consigo escrever curto nem bem. Mas estou feliz com o andamento da obra.
 
 
Fonte: Terra
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