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Agildo Ribeiro fala da dor de perder a mulher e reclama da mediocridade de alguns atores

No amplo apartamento em que mora, no bairro da Gávea, na Zona Sul do Rio de Janeiro, Agildo Ribeiro, 76 anos, recebe a equipe de QUEM com o tradicional bom humor de seus personagens. Atencioso, manda preparar um bolo de fubá para servir depois da entrevista. Mas logo um tom nostálgico toma conta do ambiente. Antes que qualquer pergunta seja feita, ele começa a falar sobre a ?saudade oceânica? que sente da mulher, a ex-bailarina Nídia Ribeiro, que morreu de câncer em novembro do ano passado, aos 59 anos. Foram 35 anos de união. Agildo está triste. ?Vendi este apartamento e comprei outro no Leblon. Tudo aqui me lembra a Didi?, diz ele sobre o lugar, reformado e decorado pela mulher.
 
É também para se manter ocupado e suportar a ausência da companheira que o humorista do Zorra Total se apresenta, esporadicamente, em teatros do Rio, com o espetáculo O Capitão do Riso, em que conta piadas e causos. Didi, segundo Agildo, era quem o mantinha sob controle e distante da sua trajetória de mulheres, drogas e bebida, como ele conta na entrevista a seguir.

Por que decidiu mudar desta casa?
Porque tudo aqui me lembra a Didi, mesmo tendo sido este o lugar onde ela ficou menos tempo. Chegou praticamente doente e, seis meses depois, morreu de câncer no pulmão, por causa do cigarro. Eu dizia: ?Larga essa merda!?. Eram três maços de mentolado por dia. Ela também gostava de uísque. Não corto o barato de ninguém, ainda mais de bebida. Mas o uísque tirava a fome dela, e ela começou a ficar subnutrida. Espero que eu não tenha sido um dos motivos remotos dessa fuga.

E por que seria?
Sei lá, ela estava casada comigo há 35 anos, aí, desandou a beber, fumar. Fizemos umas 30 viagens para a Europa, os Estados Unidos, a Argentina. Não faltou nada. Sou grato por tudo que ela me fez, me ajudou e me segurou. Eu era doido, detonava dinheiro, tinha namorada para tudo que era lado. Aquela coisa de brasileirinho babaca que eu era. Devo ser ainda, até hoje.

Ela sabia que você pulava a cerca?
Devia desconfiar. Não tivemos filhos e éramos casados com comunhão de bens. Eu achava que iria embora antes dela, queria que ela ficasse com tudo, queria deixar segurança. A saudade é oceânica.

Você não quis ter filhos?
Com a Didi eu queria, mas ela não podia. Fizemos vários exames, mas ela tinha uma deficiência. Uma hora resolvemos parar de pensar nisso. Eu adotaria dez crianças se ela tivesse tido uma dela. Mas adotar porque ela não podia ter faria com que aquela presença a lembrasse disso.

Você disse que teria deixado tudo para a Didi. Mas ela deixou tudo o que vocês tinham para você. E agora, para quem vai ficar?
Nem se Jesus Cristo aparecesse aqui e fizesse essa pergunta eu responderia. Imagine se eu digo que vou deixar tudo para o Faustão? Ele vai gritar ?Porra, meu, o Agildo não morreu. Morre, morre?. Essas coisas não se pode nominar. A maioria dos meus amigos já morreu. Hoje, tenho conhecidos. Não tenho tempo para fazer amizade. Mas, como sempre tive uma vida engraçada, deve surgir alguma coisa também engraçada na minha resolução.

Está mais difícil fazer humor no palco?
O palco, para o artista, é uma segunda natureza: quando ele entra ali, apaga tudo. No final, quando sai de cena, é uma emoção dupla. Consciente ou inconscientemente, a lembrança está atrás de você. Mas no terceiro uísque já estou bom.

Sempre gostou de uísque?
Quando saio com os amigos, peço um uisquinho e dá vontade de fumar charuto. Onde pode, né? Agora tem essa babaquice de não poder fumar, não poder beber. E trepar, nem pensar, porque dá doença.

Quantas doses você toma?
Não tomo álcool durante o dia. Não consigo. Não sei beber em casa. À noite, quando saio, tomo duas, três, quatro doses. Agora, estou preso em casa, vendo Pantanal.

Então Pantanal está te salvando da bebida?
Não está salvando, está atrapalhando, no bom sentido. A novela é bem-feita. Fico pensando: ?Cadê esses atores maravilhosos?? Será que estamos na época do antitalento? O que tem de gente medíocre aí! Têm coisas no meu programa, o Zorra Total, que são sem comentários.

Quem você acha medíocre no Zorra Total?
Prefiro não citar nomes.

Você gostaria de ter um programa solo?
Gostaria de um Agildo Ribeiro Show, na Globo. Tenho material de imitação, criação. Se eu for para outra emissora agora, semana que vem estréio com tudo pronto.

Como está sua vida afetiva?
Agora estou viúvo, quieto. Evidentemente, são duas facções na cabeça: o sentimento e o lado físico, que está latente. Ainda não cheguei naquele ponto de dizer (para uma mulher): ?Oi, tudo bem?? Mas se aparecer uma senhora de 80 anos querendo me comer, estou à disposição.

Você toma Viagra?
Não. Tem gente que toma Viagra. Eu prefiro tomar Plasil (comprimido para enjôo). Todas as minhas conquistas foram umas merdas. A única que deu certo foi a Didi. Tinha muita atração física por ela.

Como era antes dela? Que tipo de loucuras fazia?
Sou de uma geração em que tudo era cerceado. Para ter relação sexual, tinha que ir a casas de mulheres. Eu e meus colegas comemos as empregadinhas todas. Era doença venérea para todo lado. Tomava penicilina e curava tudo. Hoje, não se cura Aids. Já perdi vários amigos de Aids, uns homossexuais, outros não. Isso me deixa grilado.

Pensa em buscar uma nova parceira? 
Não gosto de citar nomes, mas se aparecer uma Melancia não vou rejeitar. É uma bela sobremesa sexual.

E qual seria o prato principal?
Às vezes, me perguntam: ?Agildo, você transou com a fulana?? Sabe qual é minha resposta? ?Um cavalheiro não tem memória.? Chique, não? Mas, respondendo a sua pergunta: seria com quem o Brasil inteiro quer transar. Fico sem graça, porque a moça é comprometida, vai que o cara é ciumento. Então, em vez de dizer Juliana Paes, vamos dizer que é a Juliana Clone. Pronto. É linda e doce.

Qual é sua relação com as drogas?
Acho que nada deve ser proibido. Proibir incentiva. Quando queimar fumo era coisa de morro, no bom sentido, eu morava no Flamengo com meus pais, a favela era poética, a garotada de lá freqüentava nossas casas, não era essa coisa infernal. Aí, eu fumava uns negócios, ficava às gargalhadas, imitava todo mundo. Mas sem seqüela. Dava uma puta fome, comia à beça, transava normalmente. Droga pesada nunca usei. Nunca tomei um ácido.

Ainda usa alguma coisa? 
Tenho que contar com minha maluquice natural. Eu não era nem para ter nascido. A mamãe estava grávida e meu pai, preparando a Revolução de 32 a favor de São Paulo, falou que não podiam ter um filho naquele momento. Mamãe tomou tudo que foi remédio (para abortar), mas eu me segurei lá dentro da barriga dela... (Faz uma pequena pausa) Do que eu estava falando mesmo? Às vezes, falo muito e me perco...

Falávamos sobre as drogas...
A cocaína era dos salões parisienses. Os escritores todos, no Brasil, cheiravam. Era chique. Eu cheirei, mas não tive conseqüências muito saudáveis. Desandei a falar, fiquei meio impotente, não quis mais. Hoje condeno a cocaína porque você não sabe com o que está misturada, vai de talco a lâmpada moída.

Tem medo da morte?
Nesse ponto, a natureza não caprichou. Agora é que a gente começa a tomar conhecimento das coisas, levanta da cadeira e dói a coluna, cruza a perna e doem os ovos, a bunda cai. A morte não me assusta, me intriga. Não acredito em vida após a morte, mas algum mistério tem. 
 
 
 
Fonte: Revista Quem
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