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Confira na íntegra o laudo do CREA/PI sobre a rua Francisco Mendes

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CONCLUSÃO DO LAUDO SOBRE O AFUNDAMENTO DE UM TRECHO DA FRANCISCO MENDES:
 
O Crea-PI, por meio de seu presidente, o Engenheiro Agrimensor e Civil José Borges de Sousa Araújo, homologou, na data do sinistro (31 de Julho), uma comissão formada pelos seguintes profissionais: Geólogo Ronildo Castelo Branco da Silveira, os Engenheiros Civis José Mendes de Sousa Moura, Pedro Wellington G. do Nascimento Teixeira e Paulo Roberto Ferreira de Oliveira, Engenheiro de Minas/Segurança do Trabalho Demóstenes Antônio Moreira Pinto, Engenheira Agrônoma Jacqueline de Freitas Diniz, Engenheiro Agrimensor/Seg. Trabalho Sandro Antônio da Cunha Souza e o Engenheiro Civil Carlos Alberto Rocha Costa, para, sob a Coordenação do primeiro, compor Comissão que analisou as possíveis causas da subsidência ocorrida na Rua Francisco Mendes, entre as Ruas Antônio Almeida e Orlando Rolo, no bairro Cabral, zona norte desta capital. 
 
Também foram convidados para integrar a comissão os Engenheiros Civis Pedro Wellington G. do Nascimento Teixeira (Representante da UFPI), Vinicius de Carvalho Leal (Representante do Corpo de Bombeiros), Wilson dos S. Batista (Representante da Agespisa), Christiane Machado Lima (Representante da Prefeitura Municipal de Teresina), Vital Teotônio Luz (Representante do IPIAPE) e John Roberto Feitosa da Silva (Representante da Defesa Civil) e os Geólogos João Oliveira Cavalcante (Representante do Instituto de Desenvolvimento do Piauí), Paulo Roberto Rebelo Lages (Representante da Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos), Francisco das Chagas Lages Correia Filho (Representante da CPRM), Jorge Pimentel (Representante da CPRM-RJ) e César Negreiros Barros Filho (Representante da AGEPI).
 
Preliminarmente, o que se pode concluir é que o "afundamento" da rua Francisco Mendes, no bairro Cabral, que provocou danos estruturais significativos em edificações particulares e numa escola pública, constituiu-se em mais um sinistro registrado em Teresina, na área da mesopotâmia (entre os rios Poti e Parnaíba), desta vez, sem ligação (influência) da execução de obra que pudesse associar-se ao ocorrido.
 
A comunidade técnica tem conhecimento que a cidade de Teresina está assentada em sedimentos da formação Pedra de Fogo e dentre seus constituintes litológicos encontram-se lentes de calcário, que são rochas carbonáticas.
 
As rochas carbonáticas, também denominadas de carstes, são facilmente solúveis pela ação do fluxo de água, que inicialmente ocorrem nas fraturas. A infiltração de águas pluviais, vazamentos na rede hidráulica e oscilações de nível freático são processos que, provavelmente, tenham favorecido a formação de dolinas ou pequenas cavernas no subsolo de nossa cidade.
 
Outro fator que favorece a abertura de espaços vazios no subsolo é a ação dos esforços tectônicos que, dependendo das características do material (rocha, sedimento, mineral), pode originar fraturas. As fraturas podem ser abertas deixando espaços significativos no subsolo, que visualmente ficam imperceptíveis, por estarem parcialmente preenchidos por sedimentos e recobertos pelo solo e pavimentações.
 
Os espaços vazios existentes no subsolo ficam servindo de áreas livres ao fluxo de água, lama, e/ou fluxo de pastosos e gasosos. Este processo de infiltração pode ser lento ou acelerado, dependendo dos constituintes dos solos e rochas predominantes na região. A ocorrência de afundamentos de terreno na forma de subsidência (movimento lento) ou colapso (movimento rápido) relacionados com a evolução de cavidades no subsolo, se incluem como mais um dos problemas geotécnicos relacionados com o processo de urbanização acelerada.
 
A evolução do Carste encoberto tem como condicionante básica a ocorrência, no subsolo, de calcários fraturados, que permitem a percolação de águas vindas da superfície. Em região de clima tropical, as águas contem ácidos orgânicos e ácido carbônico que são muito agressivos e eficientes na dissolução dos carbonatos. A dissolução alarga as fraturas criando cavidades na rocha e também no próprio solo, em contato com a rocha. A intercalação de calcários com outras rochas e/ou com seus solos de alteração é considerada como uma configuração que aumenta o alcance da ação das águas de dissolução.
 
Assim, do ponto de vista da geologia de engenharia, a ocorrência de lentes de calcário em meio a outras rochas e materiais terrosos, tem de ser considerada na avaliação dos riscos de subsidência e colapso. A água de percolação e suas oscilações de nível, as variações de pressão e velocidade de fluxo, aliadas às forças resultantes da ação da gravidade, consistem nos principais fatores da deflagração e evolução de cavidades que, por colapso do solo ou rocha, podem refletir-se na superfície por afundamentos.
 
Essa ação se propaga de baixo para cima, com o solo migrando para as cavidades da rocha, e ampliando as cavidades. A evolução do processo pode atingir a superfície formando o afundamento, que, em geral, apresenta a forma de um cone invertido. Essas oscilações podem ser mais atuantes na mobilização dos solos quando adquirem intensidade e freqüência mais amplas, como as provocadas pela exploração de água subterrânea de forma intensa e prolongada, como também, pela infiltração de águas superficiais e/ou vazamentos de rede de abastecimento de água.
 
As áreas de Carstes necessitam de cuidados especiais, porque sofrem impactos naturais e antropogênicos (decorrentes da ação do homem), também chamados impactos induzidos, que podem ser a impermeabilização do solo, edificações e a conseqüente sobrecarga do solo, entre outras ações.
 
Como forma de prevenção de novas subsidências e colapsos na região de Teresina (mesopotâmia), O Crea-PI, através da Comissão formada para solucionar as causas do sinistro, recomenda os seguintes procedimentos e estudos:
 
- Reconhecimento e mapeamento das características geotécnicas das ocorrências do carste encoberto, setorização de riscos;
- Levantamento dos poços tubulares existentes; monitoramento do bombeamento das águas subterrâneas; disciplinamento das águas de superfície (saneamento básico);
- Práticas e obras de engenharia (fundações) e geologia de engenharia.
 
No caso da Rua Francisco Mendes, bairro Cabral, o Crea-PI, através da Comissão formada, sugere os levantamentos e procedimentos metodológicos a seguir:
 
- Cadastramento das moradias e lotes afetados;
- Mapeamento geológico- geotécnico de detalhe da área afetada, incluindo feições de abatimento do terreno, trincas,
rachaduras, litologias, espessura do manto de intemperismo, estruturas geológicas (fraturas e falhas);
- Cadastramento de poços tubulares existentes na área;
- Levantamento topográfico, antes e depois da recomposição da área afetada;
- Investigação, através de métodos geofísicos e sondagens geotécnicas. 

Da Redação
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