Cidadeverde.com

Mion lança livro sobre o filho autista e fala de prenconceito

Imprimir

Marcos Mion afirma que aprendeu a ser “sua melhor versão” onze anos atrás ao se tornar pai de Romeo, diagnosticado autista aos dois anos de vida. Hoje aos 37 anos, o apresentador, que conquistou uma sólida carreira na TV, estreia como escritor com objetivo de conscientizar o público infantil sobre o autismo por meio do livro infantil “A Escova de Dentes Azul”.

Na história, o primogênito de Mion é o personagem principal, que convive com personagens baseados em seus irmãos, Donatella, de 8 anos, e Stefano, de 6 anos, em sua mãe, Suzana Gullo, e em sua cadelinha Pankeka. “Quero conscientizar as pessoas que o autismo não é uma doença, diminuindo o preconceito e fazendo um mundo melhor para o meu filho”, almeja Mion.

MARIE CLAIRE – Como nasceu a vontade de escrever um livro?
MARCOS MION – Por ter lido muitos clássicos da literatura por causa do teatro e ter estudado Filosofia, sempre sonhei em escrever um livro. Só não sabia como encaixaria essa vontade no meu dia a dia. Até que me fizeram a proposta de tornar o conto que publiquei na minha rede social sobre Romeo ter me pedido de presente de Natal uma escova azul em livro. Contextualizei toda a minha família na história para falar sobre o autismo. 

MARIE CLAIRE – Seus filhos participaram da elaboração do livro de alguma forma?
M.M. – A história é inspirada neles, que me ajudaram a escolher a ilustradora. O texto mostrei só quando estava pronto o livro. Claro que antes falei que estava fazendo um livro sobre o Romeo e que tinha a participação de todos na história. A reação deles foi muito legal. A Donatella me perguntou se a história deles iria vender na livraria e ficou toda animada quando respondi que sim.

MARIE CLAIRE – E como foi falar para o Romeo que o pedido de presente de Natal dele tinha virado um livro?
M.M. – Depois que publiquei o conto na rede social, em 2015, muitas pessoas vinham falar com ele para comentar o texto e ele não entendia o motivo. Tive que explicar para o Romeo que eu tinha contado a história do pedido de presente dele para os outros porque era muito bonita. Hoje ele entende.

MARIE CLAIRE – Você fala sobre autismo no livro. Contou com a ajuda de algum especialista?
M.M. – Antes de escrever sobre autismo, queria estar pronto, ter experiência. São 11 anos pesquisando e vivenciando isso. Por isso escrevi tudo sozinho mesmo. Hoje, a classe fala que sou um porta-voz para dois milhões de famílias com um autista diagnosticado e isso não tem preço para mim.

MARIE CLAIRE – Como foi a sua busca de conhecimento para criar seu filho?
M.M – A melhor coisa do mundo que aconteceu comigo foi o nascimento do Romeo, isso já foi um processo de aprendizado. As pessoas que cresceram comigo hoje olham aquele maluco da MTV como um pai de família dedicado. Se não fosse o Romeo, talvez eu não tivesse evoluído dessa forma e não seria o homem que sou. Ele ampliou a minha capacidade de aprender. Sempre quis ser pai e o nome do Romeo eu escolhi aos 16 anos. Então sempre levei o autismo de forma positiva, queria um filho, independente de como ele fosse vir.

MARIE CLAIRE – Como explicou o autismo para os outros filhos?
M.M. – Disse que o Romeo tinha superpoderes, uma ideia genial que tive e que levei para o livro também. Também sempre ensinei a eles se protegerem uns aos outros. Eles são muito unidos.

MARIE CLAIRE – Teve medo que o Romeo sofresse bullying?
M.M. – Esse sempre foi o meu maior medo, que ele fosse para a escola e saísse magoado de lá. Mas tive sorte com a escola dele, que apesar de não ter um projeto de inclusão específico para autistas, sempre o integrou muito bem. Os coleguinhas gostam muito dele. Mas sempre digo que só o pai e a mãe podem saber o que é melhor para o filho em termos educação. O médico tem uma opinião em relação a isso que deve ser ouvida, mas só os pais sabem do dia a dia. Se ele estivesse sofrendo bullying e ficasse com medo de ir para a escola, talvez fosse melhor outra forma de formação para ele. Acho extremamente necessário a presença e a participação constante dos pais na escola do filho para acompanhar de perto o que acontece.  

MARIE CLAIRE – Já sofreu muito preconceito?
M.M. – Todos nós já passamos por isso. Mas o pior preconceito é o velado. Ele é mais violento que o explícito. É aquela cutucada que o outro da no amigo, o olhar que trocam... Creio que isso ocorra por falta de conhecimento. Sou um defensor feroz dos autistas. Falta muito conhecimento ainda sobre os direitos deles. Poucas pessoas sabem, por exemplo, que a família do autista tem direito a um adesivo no carro para estacionar em vagas especiais e que pode usar a fila preferencial. 

MARIE CLAIRE – Qual foi a lição mais importante que o Romeo te ensinou?
M.M. – Aprendo constantemente com ele, mas até agora ele tem me ensinado a ser o melhor que eu posso. Tento ser a minha melhor versão, a mais amorosa, mais pé no chão... É maluco viver com uma pessoa que seja puro amor e o Romeo é assim.

MARIE CLAIRE – Qual ensinamento passaria para as pessoas?
M.M. – Que o autismo não é doença, que existe um ser humano lá. Não precisa ter medo dele. É só saber lidar com ele. Espero com o livro conscientizar as pessoas e fazer um futuro para o meu filho com menos preconceito e mais respeito.

MARIE CLAIRE – Já tem planos para mais livros?
M.M. – Lá em casa a ora de rezar é muito especial. Virou um momento para boas conversas. Tenho uma criatividade que não me abandona e faço conexões malucas da bíblica com histórias do Star Wars e Bob Esponja. Penso em fazer algo relacionado com isso. Acho muito importante a nossa relação com Deus.

Fonte: Marie Claire 

Você pode receber direto no seu WhatsApp as principais notícias do CidadeVerde.com
Siga nas redes sociais