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Cauã Reymond fala de separação: 'Sou infinitamente melhor'

Nossa entrevista estava marcada para as 14h30, numa pequena sala de som de uma produtora no bairro do Joá, no Rio de Janeiro. Cauã chegou poucos minutos depois do combinado, vestindo jeans, chinelos e uma camiseta com botões – desabotoados – na gola, que mostrava um reluzente cordão de ouro.

Reluzente é também o sorriso do maior galã do Brasil, gesto que ele sabiamente não economiza durante a conversa. Cauã gosta de ser simpático, de vez em quando fala no diminutivo para gerar empatia e responde às perguntas olhando para o chão, um sinal de timidez. Embora não goste de falar de política nem de expor sua intimidade, não se esquivou de nenhuma pergunta durante a conversa. “Sou uma pessoa muito melhor hoje”, disse, referindo­­­­­­­­?se ao conturbado fim do casamento com Grazi Massafera. “Bem mais maduro”, completa. Também relembrou o período “mais difícil de sua vida” – quando trabalhou como modelo, antes de virar ator.

Filho de um psicólogo e de uma ex-vendedora de roupas, foi criado em um apartamento de classe média baixa na Gávea com a mãe, Denise Reymond, a avó e uma tia esquizofrênica. Durante os surtos dela, precisava dormir no corredor do prédio. O pai, José Marques, mudou-se para Santa Catarina ao se separar, quando Cauã tinha 2 anos. “Sentia a ausência dele em vários aspectos.” Virou lutador de jiu-jítsu “em busca da admiração” do pai. A carreira de modelo começou aos 17 anos, quando viveu “sem grana e sem glamour” em Milão, Paris e Nova York até que, aos 21, virou ator de Malhação.

Desde então, figura no primeiro escalão da TV Globo e se orgulha de ter construí­do uma carreira para além de sua beleza. Hoje, soma 13 papéis na televisão e 12 no cinema. Prestes a viver os gêmeos Yaqub e Omar, em Dois Irmãos, nova minissérie baseada no premiado livro homônimo de Milton Hatoum, escrita por Maria Camargo e dirigida por Luiz Fernando Carvalho, que estreia em janeiro, afirma que esse será o grande papel de sua vida.

Leia a seguir alguns trechos do bate-papo. A íntegra está na edição de dezembro, que chega às bancas nesta quinta (01).

MARIE CLAIRE Como fica o galã de novelas num período em que se discute, como nunca, o empoderamento feminino?
CAUÃ REYMOND Hoje, a tendência da maioria dos autores é escrever mulheres fortes. Os personagens femininos, ultimamente, são mais ricos do que os masculinos. Fico um pouco angustiado quando há escassez de personagens que me interessam fazer. Por isso Dois Irmãos é muito importante.

MC Você disse que esse será o papel de sua vida. Por quê?
CR A complexidade da história me encantou. São dois personagens [Yaqub e Omar] completamente distintos, mas que estão sempre ligados. Eu me entreguei totalmente a esse trabalho, como poucos pedem. Lembro de ter me interessado pelo livro quando coloquei as mãos nele. Estava no começo da carreira e havia uma conversa no Projac de que o Luís [Fernando Carvalho] faria algo com ele. Fiquei atrás do produtor de elenco. Fui fazendo trabalhos cada vez mais interessantes até que rolou.

MC Sempre pensou em ser ator?
CR Não. Gostava de assistir a novelas, não de atuar. Via Renascer e Quatro por Quatro com meus avós.

MC Seus avós também te  criaram?
CR Meus pais se separaram quando eu tinha 2 anos. Meu pai foi morar em Santa Catarina. Eu só o via nas férias. Meu avô ocupou o lugar da figura paterna. Foi ele quem me levou aos primeiros testes de modelo, aos 17 anos. Era engraçado, bonitinho [risos].

MC Você sentia falta do seu pai?
CR É complicado ter filho aos 19 anos, quando você ainda não se sustenta. Sentia em vários aspectos. Eu era um aluno difícil, desafiava a autoridade. Hoje vejo que queria chamar atenção. Foi difícil, mas superentendo a busca dele. Tive a sorte de ter a minha filha [Sofia] mais velho [aos 32 anos]. É importante, para mim, construir uma relação diferente da que tive com meu pai, com quem fui morar pela primeira vez aos 9 anos.

MC Por que foi morar com ele?
CR Minha mãe se casou e mudou para o interior de São Paulo. Ela e meu pai acharam que era o momento de eu ficar com ele, no Balneário Camboriú. Minha mãe se separou um ano depois, voltou para o Rio e fui com ela. Vivíamos em um apartamento na Gávea, na entrada da Rocinha. Brincava na rua, muitos dos meus colegas foram assassinados pelo tráfico depois. Na infância, a gente se misturava. Na adolescência, a vida deles mudou. Depois, fomos morar em Friburgo.

MC Para sair de perto do tráfico?
CR Não. Nunca participei dessas coisas. Pode ser um santo forte, um axé. Nessa época, passamos por uma situação difícil, economicamente inclusive. A irmã da minha mãe, que era esquizofrênica, morreu de repente. Vivia em um hospital psiquiátrico. Um dia, ela teve um surto e quebrou os braços de dois enfermeiros. Estava saudável, normal, e apareceu morta no dia seguinte.

MC Você tem lembranças dela?
CR Sim. É uma história trágica. Nos ataques, ela quebrava a casa inteira. Dormi várias vezes no corredor do prédio por causa disso. A família por parte de mãe era simples. Minha mãe era vendedora da [marca de roupas] Company, minha avó, que adotou minha mãe e minha tia, trabalhava como enfermeira, empregada doméstica.

MC Aos 14 anos foi morar outra vez com seu pai?
CR Isso. Tinha muitos conflitos com minha mãe, por causa da necessidade de desafiar. Foi uma decisão feliz, desabrochei nessa época. Meu pai tinha admiração por esporte e, na busca pela admiração dele, que era lutador de jiujítsu, comecei a praticar também. Venci vários campeonatos. Com as artes marciais, aprendi a lidar com a hierarquia.

MC Como foi de lutador a modelo?
CR Quando lutava, tinha o patrocínio da Company. Um dia, eles chamaram os lutadores para fazer uma campanha. Fui escolhido. A fotógrafa me incentivou a continuar, me apresentou para um stylist e comecei a fazer testes. Logo, trabalhei com o Mario Testino, Bruce Weber, Karl Lagerfeld, [Jean Paul] Gaultier.

MC Era uma vida de glamour?
CR Nenhum. Terminei a carreira com R$ 10 mil na conta, depois de três anos e meio rodando o mundo. Era uma vida simples, dividia apartamento. Tem uma história... Meu vizinho de porta, em Milão, era um ex-mariner americano, lindo de rosto, mas com o corpo destruído e queimado por uma granada. Trabalhava vestido. Um dia, brincando de jiu-jítsu, peguei-o numa chave e esperei  que ele revidasse. Ele não quis e foi embora. Quando voltei para casa, bateu na minha porta com uma faca deste tamanho [mostra uma distância de 30 centímetros com as mãos]. Começou, então, um thriller psicológico de umas duas horas, comigo tentando convencêlo a não me matar. Num determinado momento, consegui sair correndo. Depois fiquei sabendo que ele também era esquizofrênico. Já passei por cada uma...

MC Não é uma época de que você lembra com carinho?
CR Não gostei de ser modelo. Agradeço, ganhei um senso estético, trabalhei com pessoas legais, mas foi uma ralação. A época em que morei em Nova York foi uma das mais difíceis da minha vida. Nunca tive dinheiro para sair para jantar. Às vezes tinha que escolher uma refeição ao longo do dia. Aprendi malandragens de quem tem que sobreviver, não recomendo que ninguém as faça. Uma vez fui comer numa deli [loja de conveniência] de um coreano e encontrei um fio de cabelo no prato. O cara não me deixou pagar. Depois disso, quando estava com muita fome e não tinha grana, repetia isso. Minha outra refeição era uma banana, uma maçã e uma barra de proteína sabor morango.

MC Como decidiu virar ator?
CR Fui para Nova York como modelo. Namorava uma modelo também. Ela me deu um pé na bunda. Foi horrível, fiquei mal. No dia seguinte, a vi de mãos dadas com outro cara. Aquilo me matou. Decidi voltar para o Brasil. Falei com meu pai, que me aconselhou a tentar a vida como ator. Me indicaram, então, uma escola. Fiz as primeiras aulas, até que o dinheiro acabou. A dona me deu uma bolsa de estudos e um trabalho, para que pudesse me sustentar. Virei um “faz-tudo” da escola: limpava o chão, pintava a parede, atendia o telefone, comprava material de limpeza. Ganhava US$ 20 por dia. Foram dois anos assim.

MC Como voltou ao Brasil?
CR Comecei a dar aulas particulares de jiu-jítsu para um árabe, em troca de moradia. Dormia no quarto dos cachorros dele, em um colchão inflável. Quando saía, os cachorros voltavam para lá. Depois do 11 de setembro, havia um xenofobismo forte em Nova York e ele tinha medo de ser atacado. Nessa fase, dormi com uma faca no travesseiro. Ele decidiu viajar e vim para o Brasil temporariamente. Fiz um teste para a Globo e passei.

MC Como lida com as separações?
CR De forma diferente. Posso dizer que, da minha separação [de Grazi] para cá, houve um amadurecimento brutal. Não sou a mesma pessoa. Sou infinitamente melhor. A gente tem uma relação muito bacana por causa da Sofia. Quando nos separamos, recebi um conselho excelente que é manter uma relação “walking distance”: moramos perto e estamos sempre conversando. Temos guarda compartilhada, um papo aberto com a escola, com a pediatra.

MC Você ficou seis anos casado. Depois que se separou, entrou numa fase de pegação?
CR [silêncio] O que vivi com a separação, o furor e o prolongamento dessa história me deixaram recatado. Até entender como seria a guarda, fiquei bastante recatado. Depois, curti mais a solteirice, mas não tem uma foto minha no Google [ficando com alguém]. Sou tímido, não sou exibicionista. Não gosto de noitada. Meus programas começam antes da meia-noite.

MC Na época em que se separou, muita gente culpou a atriz Isis Valverde pelo fim da relação. Foi machismo?
CR Tocar nesse assunto agora, e citar uma pessoa que não tem nada a ver com um casal se separando, é abrir uma ferida desnecessária. Você está falando de uma suposição. A responsabilidade de um casal que se separa é do casal e cabe só a ele resolver isso.

MC Você está namorando a apresentadora Mariana Goldfarb. Pensam em morar juntos?
CR A gente tem uma relação de namorados que vem amadurecendo de forma superbacana. Com os anos de estrada, aprendi que os relacionamentos ganham uma pressão no início, que deve ser comedida. Se não, casamos assim que começamos a namorar.

MC Ainda mais com você, que tem a vida monitorada por milhões de pessoas...
CR Sei como funciona a engrenagem [da fama] e tento não me influenciar pela pressão, por mais curiosidade que exista. Não sou uma Rihanna. Você não me vê em balada, discutindo no trânsito. Também sei que não dá pra lutar contra. Tenho orgulho de ter cativado meu público.

 

Fonte: Marie Claire 

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