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A história de Cássia Eller em acervo mantido por cantora lírica de Brasília

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Uma longa fila se formou no subsolo do Teatro Nacional, em maio de 1984. Quem estava ali eram jovens cantores brasilienses que iriam participar da seleção para o coro da ópera Porgy and Bess, de George Gershwin, a ser encenada na Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional. Entre eles, uma garota tímida chamada Cássia Eller, que seis anos depois viria a ser saudada como a nova voz do rock brasileiro. Uma outra, a espevitada Janette Dornellas, se tornaria futuramente destacada cantora lírica.

Um pouco antes, Janette havia assistido, no Ginásio Nilson Nelson, a um show do Malas & Bagagens, e se entusiasmara com a performance e a atitude de Cássia, vocalista da banda. “Quando a vi ali na fila, para o teste de Porgy and Bess, imediatamente fui falar com ela. Me senti acolhida por aquele sorriso largo de Cássia e logo começamos a conversar, como se já nos conhecêssemos há muito tempo”, recorda-se.

“Quando saímos dali, já fomos direto para o apartamento em que eu morava na 103 Sul. Para minha surpresa, Cássia foi ficando dias a fio e só voltou à casa da família, no Setor Militar Urbano, para pegar as poucas roupas que usava. Em dias e dias de convivência, surgiu um namorico, pois me apaixonei por ela. Cássia, porém, disse que não daria certo, porque eu não era sapatão. Surgiu, então, uma grande amizade que só se acentuou com o tempo”, revela.

As duas participaram da ópera e, durante a montagem, se aproximaram do ator e cantor Marcelo Saback. Logo começaram a idealizar projetos, obviamente ligados à música. O primeiro a ser colocado em prática foi o Dose dupla, dirigido por Marcelo Saback e com direção musical de Márcio Faraco – cantor, compositor e violonista radicado em Paris desde o final da década de 1990 –, com o qual as duas dividiram o palco da Martins Pena por três noites.

“Tivemos sala lotada nos três dias. Quem ainda não conhecia Cássia ficou impressionado com a voz e a interpretação dela. Após cada apresentação, íamos comemorar no Beirute e, pelos comentários que ouvíamos, o show havia sido um sucesso. Ao recebê-los, Cássia, generosamente, os transferia para mim”, conta Janette. Logo depois, aproveitando a repercussão do Dose dupla, Cássia se juntou a Saback em Gigolôs, espetáculo cênico-musical sob a direção de Alexandre Ribondi, que foi encenado na Sala Funarte e, posteriormente, na Martins Pena. A ótima acolhida do público e da crítica contribuiu para projetar Cássia e ela passou a ser convidada para tomar parte em eventos diversos na cidade, entre os anos 1985 e 1986.

Janette cita alguns como Feira de Música, no Teatro Galpão; Jogo de Cena, no Galpãozinho e na Martins Penna; e o Concerto Cabeças na rampa acústica do Parque da Cidade.. “Tomei parte desse show, que foi muito marcante. Ali uma plateia bem maior pôde ter contato com o talento e a arte da cantora, que se tornaria uma estrela da música brasileira. Estivemos juntas ainda na opereta My fair lady (Sam Shepard), com direção do professor da Universidade de Brasília (UnB) Arthur Meskell”, destaca. “Sempre tive fama de acumuladora. Ao longo dos anos em que convivi com Cássia, guardei muita coisa e formei um pequeno acervo iconográfico, do qual constam, principalmente, fotos de momentos marcantes da carreira dela, programas de shows, cartas e bilhetes que me enviava”, relaciona Janette. “Tenho em meus arquivos até um currículo que criei para ela. Obviamente, não foi utilizado porque, assim como a cigarra da famosa fábula de Esopo, a minha amiga querida só queria cantar, para desgosto da família que a queria trabalhando. À época, nem de longe imaginava o sucesso que ela faria na carreira artística”, acrescenta.

Ela deixou claro que não esteve muito presente na longa temporada de um ano que Cássia cumpriu no Bom Demais, em 1989, antes de tomar o rumo do Rio de Janeiro. “Mas, quando fui organizar a exposição que marcou a inauguração da Sala Cássia Eller, do Complexo Cultural da Funarte, em 30 de julho de 2003, consegui umas fotos raras das apresentações dela no bar Cristina Roberto, na 706 Norte. A família toda – menos o pai, o militar da Aeronáutica Altayr Eller – esteve presente, inclusive o Chicão que tinha 3 anos”.


Fonte: Correio Braziliense

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