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Tio e produtor de Cássia Eller conta segredos da cantora

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"Oi, tio". Essas duas palavras, puídas em voz arranhada, acompanhadas de um tapinha troncho nas costas do sujeito, no Bar Avenida, em Pinheiros (São Paulo), tiraram a vida dos dois personagens do preto e branco. Na cadeira, sentado, estava Wanderson Clayton (Eller). Em pé, atrás, à espera do abraço, Cássia Eller.
 
Cássia morreu aos 39 anos, a dois dias
do réveillon de 2001
 
Em 1987, ele era roadie-produtor do grupo 14 Bis, tio da moça então desconhecida e tinha 29 anos; ela dava pinta em botecos paulistas, colecionava 26 anos e era a sobrinha desgarrada do pai militar.

O esbarrão boêmio mudaria a vida do dois, três anos depois. Até Cássia lançar o primeiro disco, em 1990, Wanderson trabalharia obcecadamente para provar que ela viraria a maior cantora do país.

Desde sua morte, a 29 de dezembro de 2001, o produtor (e tio) se trancou em silêncio em seu apartamento na Barra, Zona Oeste do Rio, com suas 2 mil fotos, 200 horas de gravações inéditas e a (valiosa) história particular com Cássia.

"Fiquei assustado quando a vi cantar, fiquei chocado com o que ouvi. Aí ela falou: 'Poxa, você gostou, tio? Me arruma um emprego num boteco aí!'. E eu: 'Que boteco, garota! Vou transformar você na maior cantora do país', afirma o produtor, emocionado.

Após uma primeira gravação, Wanderson levou uma fita cassete para o diretor artístico Mayrton Bahia, na antiga Polygram. "Eu nem marquei reunião" conta. "Fiquei umas seis horas esperando. Eu o conhecia da EMI, quando o 14 Bis gravou lá. Assim que chegou, disse a ele que Cássia era a maior cantora do Brasil, vi que ele não levou muita fé e fui embora. Quando cheguei na casa do amigo em que estava hospedado, em Santa Teresa, o telefone tocou. Era o Mayrton. Pediu para eu voltar na mesma hora. Quando entrei na sala dele, ele jogou um contrato de três discos na minha frente e pediu para eu ligar para ela. Foi na mesma hora: 'Cássia, vamos gravar pela Polygram. Tô te mandando a passagem para você vir para o Rio'. Ela disse: 'De avião, tio, que é isso?'", relembra.

Na apresentação à imprensa, no extinto Mistura Fina de Ipanema, já em 1989, ainda sem o disco lançado, Wanderson não sabia que roupa Cássia usaria. Ainda não se definia sua identidade. "Ela usava umas calças mamulengas rotas, manchadas, horríveis. Aí entrei na Yes Brasil e comprei um vestido e um sapato alto para ela. Na primeira música do show, a Cássia tacou o sapato longe", lembra.

Wanderson, de certa forma, foi megalômano. Gravou o primeiro clipe de Por enquanto (de Renato Russo, cuja versão acabou sendo a registrada em São Paulo, ao violão) e contratou o diretor Luiz Carlos Lacerda para fazer os 11 clipes do disco. Gastou a verba da gravadora nisso e o resultado não foi aprovado.

"Depois, com a ajuda de um amigo, peguei uma grana e investi num marketing nacional e fiz seis clipes depois de Por enquanto, que estreou no Fantástico e depois entrou na MTV. O disco vendeu 60 mil cópias e fizemos uma turnê nacional muito bem-sucedida", relembra.

"Nunca me senti à vontade para falar dessa minha história com ela. Mas ela precisa ser contada", diz Wanderson.

A do primeiro disco está contada. Quer dizer, parte dela está aqui. Cássia Eller lançou oito. O último, Acústico MTV, vendeu mais de 500 mil cópias. Cássia morreu aos 39 anos, a dois dias do réveillon de 2001.

Teve uma parada cardiorrespiratória, possivelmente decorrente de estresse. Inicialmente veiculava-se a versão de que teria morrido de overdose de drogas. Descartada pelo laudo pericial do Instituto Médico-Legal do Rio, foi apontada então morte por erro médico. O inquérito foi arquivado pelo Ministério Público.
 
 
Fonte: Terra
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