Cidadeverde.com

Cabral recebeu R$ 122 milhões de propina de empresas de ônibus, diz MPF

Imprimir

Foto: Fernanda Rouvenat/G1

A investigação do Ministério Público Federal (MPF) que levou à Operação Ponto Final, que investiga propina de empresários de ônibus a políticos e fiscalizadores dos transportes do Rio, aponta que o ex-governador Sérgio Cabral recebeu R$ 122,85 milhões por meio do operador e braço-direito Carlos Miranda – ambos já estão presos. No total, foram cerca de movimentados R$ 260 milhões em propina em troca de benefícios às empresas de ônibus, de acordo com a investigação.

Nesta segunda-feira (3), duas prisões foram confirmadas: a de Lélis Teixeira, presidente da Fetranspor, e de Rogério Onofre, ex-presidente do Detro. Na noite de domingo (2), outro mandado de prisão foi antecipado, contra o empresário Jacob Barata Filho.

Um dos maiores empresários do ramo de ônibus do Rio, Barata foi preso no Aeroporto Internacional Tom Jobim, ao tentar embarcar para Lisboa, Portugal. O empresário já estava na área de embarque quando foi detido. A polícia suspeita que ele ficou sabendo da operação e tentava fugir. A defesa nega e diz que Jacob Barata Filho estava com passagem de volta de Portugal marcada para 12 de julho.

Mandados de prisão preventiva confirmados:
- Jacob Barata Filho, empresário do setor de transportes, suspeito de ter recebido R$ 23 milhões em propina (preso)
- Rogério Onofre, ex-presidente do Detro, suspeito de receber R$ 44 milhões (preso)
- Lélis Teixeira, presidente da Fetranspor, suspeito de receber R$ 1,57 milhões (preso)
- José Carlos Reis Lavoura, conselheiro da Fetranspor, suspeito de receber R$ 40 milhões (está em Portugal e a PF acionará a Interpol)
- Marcelo Traça Gonçalves, presidente do sindicato de ônibus e apontado como realizador dos pagamentos (sem prisão confirmada)
- João Augusto Morais Monteiro, sócio de Jacob Barata e presidente do conselho da Rio Ônibus, suspeito de receber R$ 23 milhões (sem prisão confirmada)
- Cláudio Sá Garcia de Freitas (sem prisão confirmada)
- Márcio Marques Pereira Miranda (sem prisão confirmada)
- David Augusto da Câmara Sampaio (sem prisão confirmada)

Mandados de prisão temporária confirmados:
- Carlos Roberto Alves (sem prisão confirmada)
- Enéas da Silva Bueno (sem prisão confirmada)
- Octacílio de Almeida Monteiro (sem prisão confirmada)

Ainda segundo a investigação, Rogério Onofre teria recebido mais de R$ 44 milhões. Lelis Marcos Teixeira, presidente da Fetranspor, recebeu pouco mais de R$ 1,57 milhão. Lavouras ganhou mais de R$ 40 milhões. Jacob Barata Filho, preso na noite deste domingo (2) tentando embarcar para Lisboa, recebeu R$ 23 milhões. Jacob Barata Filho era um dos principais nomes ligados a empresas de ônibus do Rio.

Operação Ponto final
A Operação Ponto Final busca cumprir nova mandados de prisão preventiva e três de prisão temporária, além de 30 mandados de busca e apreensão expedidos pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal. Cerca de 80 policiais federais participam da ação.

A ação foi baseada nas delações premiadas do ex-presidente do Tribunal de Contas do Estado Jonas Lopes e do doleiro e operador Álvaro Novis.
Cerca de 80 agentes fizeram buscas nas cidades do Rio, São Gonçalo e Paraíba do Sul, no estado do Rio de Janeiro, e nos estados do Paraná e Santa Catarina.

Esquema por 26 anos
Segundo o MPF, a investigação do núcleo de transporte da organização criminosa comandada por Sérgio Cabral começou quando Novis, cuja atuação foi revelada pela deflagração da Operação Eficiência, firmou acordo de colaboração premiada com o Superior Tribunal de Justiça (STJ). Em depoimento à Procuradoria Geral da República (PGR), ele ressaltou que sabia que os pagamentos eram realizados para garantir benefícios relacionados às linhas de ônibus e tarifas.

Na delação, Novis afirmou que foi contratado pelo presidente do Conselho de Administração da Fetranspor, José Carlos Lavouras, para “recolher regularmente dinheiro de algumas empresas de ônibus integrantes dessa Federação, administrar a sua guarda e distribuir a diversos políticos”.

As ordens para esses pagamentos, segundo Novis, eram dadas única e exclusivamente por Lavoura, desde 1990 até 2016. Nesses 26 anos, oito governadores passaram pelo Palácio Guanabara: Leonel Brizola, Nilo Batista, Marcello Alencar, Anthony Garotinho, Benedita da Silva, Rosinha Garotinho, Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão.

Segundo as investigações, o dinheiro era recolhido em espécie nas garagens das empresas e contabilizado através de planilhas. Nelas, estavam o nome de diversas pessoas do setor de transportes, como o próprio Lavoura e Rogério Onofre, ex-presidente do Detro, além de operadores financeiros de Cabral, como Carlos Miranda.

De acordo com o documento, as investigações indicam o uso da empresa de transporte de valores Trans Expert e Prosegur (inicialmente Transegur) como ferramenta para lavagem e ocultação do dinheiro da propina.

Na planilha, Carlos Miranda aparecia como CM; Rogério Onofre tinha o apelido de “Lagoa” ou “Mamaluco”. Hudson Braga, preso na operação Calicute, também recebeu recursos da Fetranspor, de acordo com a delação de Novis. Duas contas eram utilizadas para repassar o dinheiro.

Prisões
Por volta das 6h30, agentes da PF entraram no apartamento de Lélis Marcos Teixeira, presidente da Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro (Fetranspor, que engobla 10 sindicatos do estado) e da Rio Ônibus (sindicato do município do Rio), na Lagoa, Zona Sul do Rio.

Lélis já havia sido levado em condição coercitiva em outra operação da Lava Jato e desta vez tem um mandado de prisão cumprido contra ele. Já preso, ele ficou até as 9h40 em sua casa com policiais buscavam documentos e outras provas. Foram apreendidos relógios, anéis, colares e HDs (discos rígidos para armazenar aquivos de computador), além de obras de arte, US$ 5,5 mil e mais uma quantia em reais.

Tranportado em um carro descaracterizado da polícia, Lélis chegou na sede da Superintendência da PF pouco antes das 10h, sem falar com jornalistas.

Prisão em Florianópolis
Rogério Onofre, ex-presidente do Departamento de Transportes Rodoviários do Rio (Detro), foi preso em Florianópolis. Agentes da PF também cumprem mandados de busca e apreensão na capital de Santa Catarina e no Leblon, na Zona Sul do Rio, em imóveis ligados a Onofre.

Segundo investigações, pelas mãos de Onofre passaram pelo menos R$ 40 milhões em propina. Ele é advogado, ex-prefeito de Paraíba do Sul – com dois mandatos – e foi indicado em 2007 pelo então governador Sérgio Cabral, também preso na Lava Jato, para a presidência do Detro, órgão que fiscaliza o transporte intermunicipal no Rio. Em um perfil no Facebook sobre sua gestão, Onofre diz que recebeu autonomia total para combater o crime.

Policiais federais também foram a um condomínio na orla da Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, para cumprir mandado de prisão contra José Carlos Lavoura, integrante do conselho da Fetranspor. Os investigadores, no entanto, receberam a informação de que ele está em Portugal. A PF vai acionar a Interpol para encomtrar Lavoura.

Marcelo Traça Gonçalves, presidente do Sindicato de Empresas de Transporte Rodoviário do Rio de Janeiro, também teve a prisão decretada, assim como outras quatro pessoas que não tiveram a identidade divulgada. As prisões ainda não foram confirmadas.

Fonte: G1

Você pode receber direto no seu WhatsApp as principais notícias do CidadeVerde.com
Siga nas redes sociais