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Miguel Falabella diz que Grazi ainda tem que aprender

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Miguel Falabella nunca teve problemas com auto-estima. Tanto que, durante a apresentação oficial de Negócio da China, o "louro, alto, solteiro" não poupou elogios a si próprio. Como ao se avaliar como autor. "Eu preciso da supervisão de quem? Só preciso da supervisão de Deus", lança, em tom de deboche, mas que soa como se acreditasse.
 
Mesmo diante da má fase no horário das 18 horas e da fracassada audiência da antecessora Ciranda de Pedra, que não ultrapassou os 25 pontos, Miguel garante que não se preocupa com o Ibope. E demonstra que não faz concessões. "Faço o meu mundo. Nunca serei um sucesso estrondoso, mas tenho meus seguidores", gaba-se.

Luiza Dantas/ Carta Z Notícias

Miguel Falabella já fez várias
produções como ator,
diretor e escritor
 
Mas Miguel se contradiz ao deixar escapar que fica de olho nos números, sim. Pelo menos nos do seriado Toma Lá, Dá Cá, que também escreve e no qual interpreta o divertido Mario Jorge. "Outro dia marcamos só 23 pontos de média, mas 63% dos telespectadores daquele horário estavam nos assistindo. O público migrou para a Internet", analisa.

Negócio da China foi planejada para a faixa das 19 horas, mas a emissora antecipou sua estréia e mudou o horário. Foi difícil adaptar a sinopse para a exibição às 18 horas?
Não tive grandes problemas. Se a história é boa, interessante e você tem vontade de vê-la no ar, você adapta. Segurei um pouco o meu universo Toma Lá, Dá Cá, que é o que eu mais gosto. A comicidade dos núcleos era bem maior, mas todos eles tinham uma história folhetinesca costurando as tramas. Me prendi mais a essas histórias e deixei de lado o tom cômico dos personagens.

Você escreve, atua, produz, dirige, enfim, tem experiência em várias funções. É difícil se segurar para não se envolver em outras áreas em Negócio da China?
Eu não me envolvo em mais nada. Só escrevo a novela. Não fico preocupado com outras coisas.

Então por que você pediu que o elenco regravasse cenas que não estavam boas?
Os atores portugueses tiveram de regravar porque estavam tentando fazer um sotaque brasileiro e ficou horrível. Os personagens são portugueses, têm de falar como se fala lá. Mas acho que foram umas sete cenas e só por causa disso.

E a Grazi? Ela também teve de regravar...
Pedi para regravar uma cena sim. Mas qual é o problema?

Não deve ser uma situação confortável...
Ela é a primeira a saber que tem uma estrada pela frente. A Grazi sabe o quanto vai apanhar. Já falei para ela: "Meu amor, o segredo não é bater, o segredo é saber apanhar". As lacraias estão aí para isso. Ela tem de se manter em pé e ir em frente. E isso não atrasou a produção. Ao contrário do que disseram, foi só uma cena. Justamente a que ela fez no teste. Eu vi o teste dela e estava ótimo. Até porque, se não estivesse, eu não teria aprovado. Mas quando foi gravar a cena para ir ao ar, achei que ela podia mais. Só isso.

Então você confia na Grazi no papel de protagonista?
Ela fez um teste e foi aprovada, inclusive por mim. É uma menina muito franca e sabe que vai apanhar. Me encantou pela maturidade e pela sinceridade, que é rara. Foi isso que me conquistou. E olha que eu sou uma "puta velha", daquelas que está esperando um caminhoneiro no fim da noite. Me convenceu. Não tem técnica, mas isso só se ela fosse uma gênia. Ela tem sinceridade e um carisma enorme, o que já a deixa bem à frente de várias outras atrizes. Também rola uma química muito forte entre ela e o Fábio Assunção. Dá tesão ver os dois juntos em cena. O estúdio enche na hora das gravações. Já estive lá conferindo.

Como você encara a baixa audiência da faixa das 18 horas?
Eu acho que não faço concessões. Faço meu mundo. Nunca serei um estrondoso sucesso, mas tenho meus seguidores. Minha preocupação é escrever bons diálogos, em bom português. E me considero muito "público". Assisto às minhas criações como se não fossem minhas. Se eu não gosto daquilo, eu mexo. Na hora de assistir, esqueço que é meu.

O que Negócio da China tem, na sua opinião, para fazer o Ibope subir?
Não me preocupo com audiência. Não paro para olhar pesquisas e nem quero saber de números. A não ser, é claro, que seja um grande fracasso. Aí a gente pára, analisa o que está acontecendo. Não adianta tentar prever como vai ser. Eu quero que a audiência seja boa. Acho que vai bombar. Mas se não bombar, também, dane-se. Não vou morrer por causa disso. Não vivo esse universo. Meu universo é criar uma história, não fico com um contador de audiência do lado. Mas a trama tem elementos que devem emplacar, como o romance e a aventura, que ganhou mais espaço nesse horário.

De que forma?
A academia de kung fu não existia na sinopse original. Existia a luta, mas não esse centro que reúne as pessoas. E a função desse núcleo vai além de explorar a luta ao mostrar as pessoas tendo aulas. No futuro, todos vão se unir contra os chineses que vêm para o Brasil por causa do golpe.

Além do núcleo de ação, você também escalou atores que já trabalharam em musicais. Você pretende trabalhar esse lado nos personagens?
Essa é uma parte da novela que eu acho muito legal. Izabela Bicalho, Cláudia Netto, Sandro Chistopher e Frederico Reuter são cantores e vão fazer cenas bem engraçadas com a Leona Cavalli. Tive a idéia de criar um local onde a única pessoa que não tem talento nenhum é a grande estrela. E esse foi um bom jeito de valorizar uma coisa que o brasileiro não conhece: a música portuguesa. O Zé Boneco, personagem do Frederico, fará sucesso cantando clássicos portugueses. São canções lindíssimas e que não são conhecidas aqui.

Por que você decidiu abordar a cultura portuguesa na novela?
Acho importante fazer essa ponte entre o Brasil e Portugal. A Inglaterra e os Estados Unidos fazem isso e se dão muito bem. Mas aqui a gente abre mão da lusofonia. Fui a Angola recentemente, fiz um espetáculo lá e foi lindo. Era eu falando com sotaque brasileiro, a Teresa Guilherme falando com sotaque português e uma platéia angolana. Era uma festa de lusofonia. Amadureci essa idéia. Se tivesse mais tempo, criaria também um núcleo de imigrantes angolanos. Mas não deu, estou numa correria. Fica para uma próxima vez.

Por falar em correria, o Toma Lá, Dá Cá continua na grade da Globo em 2009. Você continuará escrevendo e atuando?
Normalmente. É um programa que tem uma grande aceitação e com o qual me identifico muito. Vai ficar pesado no início, mas só até novembro, quando acabamos de escrever a temporada de 2008. E a próxima começa só quando a nova grade estrear, geralmente em março. A novela termina em maio, ou seja, vou ter uma folga. E até o começo da próxima temporada, tudo já vai estar nos eixos. Eu sou doido, mas dentro da minha loucura existe uma organização. E tenho uma característica muito boa: quando estou trabalhando, podem fazer o que for do meu lado que não me atrapalho. Desligo os telefones e me isolo. Às vezes atrasa, porque nem sempre a gente dá conta de tudo no prazo. Mas no final dá tudo certo.

 
Para todos os lados
Miguel Falabella tinha tudo para não ser artista. Filho de uma professora de Literatura Francesa e um arquiteto, ainda menino começou a se interessar pelas palavras e cursou a faculdade de Letras. Chegou a fazer prova para ser diplomata, grande sonho de seus pais, mas desistiu de tudo em função da paixão pelo teatro. E, mesmo sem o apoio da família, já aos 24 anos, em 1981, estava contratado na TV. Fez as novelas Sol de Verão, Amor com Amor se Paga e Livre para Voar, mas o primeiro grande sucesso só veio em 1986, em "Selva de Pedra". O ator encarnava o psicopata Miro. "A Globo sempre foi muito querida comigo. Mas eu também sempre fui muito querido com ela", pondera.

Nesses 27 anos, Miguel só passou seis meses fora da emissora. Em 1985, foi chamado para escrever, na Manchete, o seriado Tamanho Família. Mas não chegou a participar do projeto até o final. "Foi pouco tempo e não cheguei a atuar", conta o ator e escritor. Em 1987, trocou novamente de área e foi um dos diretores de "Sassaricando". Depois disso, Miguel marcou presença em várias novelas da Globo, como "O Outro", "Mico Preto", "A Viagem" e "Cara & Coroa", até que teve a sinopse de "Salsa e Merengue" aprovada pela emissora, em 1996. A trama, focada no humor, deu certo e abriu portas para Miguel escrever uma nova novela. "A Lua Me Disse" só entrou no ar em 2005, depois que Miguel ficou quase seis anos no seriado "Sai de Baixo" e participou como ator de "Agora É Que São Elas". "A vida foi me fazendo cada vez mais autor", analisa.

Tempo na parceria
Ao contrário de suas outras novelas, Miguel Falabella não conta com a ajuda da amiga Maria Carmem Barbosa na hora de escrever "Negócio da China". O autor jura que não existe nenhum problema entre os dois e enxerga como positiva essa separação. Ainda que momentânea. Para Miguel, funciona como uma espécie de respiro para a parceria deles. "É como um casamento: quem não trai, apodrece", compara. Mesmo assim, os dois continuam trabalhando juntos. Maria Carmem também é uma das responsáveis pelo texto do seriado "Toma Lá, Dá Cá". "Nessa novela não rolou, mas num próximo trabalho podemos voltar a escrever juntos", afirma.

Trajetória televisiva
Sol de Verão (Globo, 1982) - Romeu
Amor com Amor Se Paga (Globo, 1984) - Renato
Livre para Voar (Globo, 1984) - Sérgio
Tamanho Família (Manchete, 1985) - Autor
Selva de Pedra (Globo, 1986) - Miro
Sassaricando (Globo, 1987) - Diretor
O Outro (Globo, 1988) - João Silvério
Tieta (Globo, 1989) - Miguel
Mico Preto (Globo, 1990) - José Luiz Menezes Garcia
As Noivas de Copacabana (Globo, 1992) - Donato Menezes
A Viagem (Globo, 1994) - Raul
Cara e Coroa (globo, 1995) - Mauro
Salsa e Merengue (Globo, 1996) - Autor
Sai de Baixo (Globo, 1996 - 2002) - Caco Antibes e também Autor
Agora É Que São Elas (Globo, 2003) - Juca Tigre
A Lua Me Disse (Globo, 2005) - Autor
Toma Lá, Dá Cá (Globo, 2007) - Mário Jorge
Negócio da China (Globo, 2008) - Autor
 
 
Fonte: Terra
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