"Isso aí é punk?", pergunta uma espantada Hebe Camargo aos oito rapazes de terninhos, maquiagem e cabelos bizarros que estão no palco do seu programa, em 1984. "Isso é "Sonífera Ilha'", responde Branco Mel-lo, antes de a banda dublar a música num playback "trash".
A cena -engraçada, estranha, pop e retrô- é um bom exemplo do material que está em "Titãs - A Vida até Parece uma Festa", documentário que passa na Mostra de Cinema de São Paulo no próximo dia 28 e tem lançamento nacional marcado para 16 de janeiro.
A banda de rock Titãs, enlameada, na
Chapada dos Guimarães, nos anos 80,
em cena que está no filme "A Vida
até Parece uma Festa"
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"Quando ganhei meu primeiro cachê bacana, em 1986, depois do "Cabeça Dinossauro", comprei a câmera e saímos pela estrada filmando tudo", diz Branco Mello, um dos vocalistas e compositores da banda e o idealizador do filme.
O que se vê na tela, segundo ele, "é a intimidade total da banda". "Não tinha censura para nada, a câmera era nossa companheira, ninguém tinha pudor. Não era alguém externo filmando, éramos nós."
Como resultado, "as barbaridades todas estão lá", diz o cantor -um bom exemplo é a seqüência em que ele, Sérgio Britto e Marcelo Fromer, em estados alterados da mente, fazem uma festa particular alucinada, que inclui um fondue de creme de barbear e disco de vinil.
Mais do que barbaridades, o filme tem muito humor, tanto nas brincadeiras de bastidores do grupo quanto nas hilárias participações em programas de TV dos anos 80.
"A mãe do Nando [Reis] gravava no videocassete muitos programas de auditório que hoje nem as próprias TVs têm", diz Branco. Um exemplo é a divertida participação da banda no quadro "Sonho Maluco", de Gugu Liberato, em 1985, encenando o salvamento de uma fã raptada por uma aranha.
De posse do material gravado por eles mesmos e de outros doados por amigos e familiares, Branco começou a dar forma ao filme em 2002, quando conheceu Oscar Rodrigues Alves, co-diretor do documentário.
"Ele fez o vídeo de "Epitáfio", que foi muito marcante, aí começou uma amizade e eu o convidei para dar esse mergulho no material, precisava de uma pessoa de confiança absoluta para entregar algo tão íntimo."
A partir de então, foram seis anos "desembaralhando" as imagens para criar um filme.
"A gente viu que a história estava lá, só era preciso montá-la de uma maneira esperta. Não nos preocupamos em explicar de modo didático", diz Alves.
A música serve de "narradora", já que os trechos importantes da carreira dos Titãs vão sendo pontuados pela trilha.
Assim, "Estado Violência" serve de base para a história da prisão de Tony Bellotto e Arnaldo Antunes (veja quadro ao lado), "Família" mostra, obviamente, momentos em família, "Epitáfio" ilustra a morte de Marcelo Fromer (que aparece cantando o refrão da canção).
Depois de sua temporada no cinema, no ano que vem, o filme traçará novos rumos -será exibido pela MTV e ganhará um DVD com muitos extras.