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Concurso de miss em presídio dá prêmios a detentas

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As três vencedoras do Miss Primavera 2017 (Foto: Fabio Rodrigues/G1)

Paula*, de 23 anos, nunca imaginou ser modelo, mas após vencer outras candidatas e conquistar o título de Miss Primavera do Centro de Ressocialização Feminino de Araraquara (SP), na noite de terça-feira (26), acha que pode tentar a sorte. O título de Miss Simpatia também estimulou a colega Vitória, de 29 anos, que nunca havia desfilado. "Me senti valorizada", disse.

O concurso ainda premiou Marina, de 43 anos, que levou o título de Miss Maturidade. O desfile, que contou com a presença de cinco jurados, reuniu 43 reeducandas na passarela montada no pátio do CR, que atualmente abriga 93 mulheres, 90% delas detidas por tráfico de drogas.

"O objetivo do concurso é o resgate da autoestima interna e externa dessas mulheres. Os ensaios, realizados há um mês, agregaram muito e ajudaram, por exemplo, no desenvolvimento do trabalho em equipe e a trabalhar a desenvoltura em público", disse a diretora técnica, Jucélia Gonçalves da Silva.

Encarando a timidez
Negra, 23 anos, 1,73 m de altura e 71 quilos. Paula nunca havia enfrentado uma passarela, muito menos participado de um concurso de beleza. Ao desfilar pela primeira vez na vida, mostrou desenvoltura e simpatia para conquistar os jurados e o público presente.

"Fiquei muito feliz, não imaginava que pudesse vencer. Quando pisei na passarela, senti a emoção, a vibração. Decidi que quero ser modelo", contou.
Presa há dois anos e três meses por tráfico e associação, ela deve ganhar a liberdade em 2019. Por enquanto, tem direito ao regime semiaberto. Durante o dia, trabalha em uma gráfica da cidade, mas o seu grande sonho é fazer faculdade de enfermagem.

Segundo ela, estar detida a fez refletir e mudar a forma de pensar. A distância da família, que mora em Jaú (SP), ajudou a melhorar o relacionamento com a mãe, com quem não se entendia muito bem. "Quero vida nova longe das drogas e das más companhias", afirmou.

Paula durante maquiagem antes do desfile (Foto: Fabio Rodrigues/G1)

 

Saudades dos filhos
Assim como a colega, Vitória também quer voltar a estudar quando ganhar a liberdade e ter uma vida diferente. Depois que concluir o ensino médio, pensa em cursar odontologia. Mas este ainda é um sonho distante.

Presa há dez meses com previsão de saída daqui a três anos, ela tenta não pensar muito no futuro para não sofrer ainda mais com a saudade que sente dos dois filhos que vivem em Dourados (MS) e que ela não vê desde que foi detida. O único contato tem sido por meio de cartas.

No CR, viu a oportunidade de participar do concurso como uma diversão para sair da rotina. Morena dos cabelos compridos, 1,54 m de altura e 57 quilos, ela disse que não esperava ganhar o título de Miss Simpatia.

"Sempre fui tímida, mas me animei a participar. Tinha muitas garotas bonitas, mas eu também tenho autoestima e me acho uma mulher bonita. Me senti ainda mais valorizada", disse a jovem, que já teve a oportunidade de morar em Lisboa (Portugal) por três anos e meio após se separar do marido.

Vitória foi a vencedora na categoria Miss Simpatia (Foto: Fabio Rodrigues/G1)

 

Salto alto
Para Marina, ficar em cima do salto alto por alguma horas foi pior do que pisar na passarela pela primeira vez.

"Achei que ficaria com vergonha, pensei em desistir, mas continuei e foi tranquilo. Agora o salto foi complicado porque tenho o pé direito trincado", contou a vencedora na categoria Miss Maturidade.

Após um ano e meio presa por tráfico, ela está ansiosa para reencontrar os três filhos e três netos em Bauru (SP). A liberdade deve sair em até 15 dias. "Tenho muita saudade da família. Privada da liberdade, aprendi a ser mais paciente, não me preocupar tanto e a respeitar mais", disse.

Aos 43 anos, Marina é a Miss Maturidade (Foto: Fabio Rodrigues/G1)

 

Premiação
As três vencedoras do concurso ganharam faixas, coroa de miss, flores e uma caixa com produtos de beleza.

O desfile foi realizado em duas etapas: a primeira com vestuário mais casual e a segunda com vestido social.

A preparação do evento reuniu empresários e instituições parceiras do CR, que contribuíram com a decoração, som e iluminação e apresentações de dança. Todas as presas trabalharam na organização.

As reeducandas foram penteadas e maquiadas por 11 alunas de um curso de cabeleireiro que chegaram ao CR por volta das 14h para preparar as candidatas.

Em meio à festa, as presas que não participaram do concurso também desfilaram na passarela entre uma música e outra para entreter os convidados. Funcionários e até a diretora da unidade participaram da brincadeira.

"A atmosfera de empolgação, alegria e colaboração tomou conta e permanece um bom tempo mesmo após o evento", disse a diretora do CR.

*Os nomes das detentas foram modificados para preservar a identidade das entrevistadas.

Evento reuniu 43 reeducandas na passarela (Foto: Fabio Rodrigues/G1)

 

Fonte: G1

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